Foragido há 15 dias, o maníaco Lázaro Barbosa, 32 anos, chama a atenção não só por escapar dia após dia de um efetivo de 270 policiais, mas pelo terror que deixou nas casas por onde passou. Acusado de cometer diversos crimes – entre os quais, uma chacina que vitimou quatro pessoas da mesma família, no Incra 9, em Ceilândia, em 9 de junho –, Lázaro chegou a obrigar reféns a rezarem a oração do Pai Nosso e tirou foto das vítimas sem roupa. Em um dos crimes, falou da infância, de fé e de como entrou na vida do crime.
O Metrópoles apurou detalhes de um assalto cometido por Lázaro em 17 de maio deste ano. A propriedade é de um parente da família Vidal, brutalmente assassinada no Incra 9. Na ocasião, a família do caseiro, cinco adultos e duas crianças, ficou cerca de cinco horas sob a mira do criminoso. Ele invadiu a residência, localizada na área rural de Ceilândia às 19h, e saiu do local, pontualmente, à meia-noite.
De acordo com uma das vítimas, ela estava na casa dos familiares quando um desconhecido portando uma pistola e faca exigiu que todos abaixassem a cabeça, retirassem toda a roupa e deitassem na cama.
O autor colocou algumas roupas no rosto das pessoas deitadas e pediu para que entregassem todo o dinheiro e as armas que estavam na residência. Enquanto realizava esse procedimento, o assaltante narrou que passou o dia todo vigiando o local e citou algumas atividades e conversas que os moradores realizaram ao longo do dia. Logo em seguida, mandou que todos começassem a fazer a oração do Pai Nosso, e disse que quem não soubesse ele iria matar.
Segundo a moradora, o homem havia colocado o celular dele para despertar à 0h, e nesse horário ele saiu levando alguns objetos dos moradores, desculpou-se dizendo que havia recebido ordens para “levar a cabeça de alguém”, mas que havia entrado na casa errada.
Lázaro utilizou luvas durante todo o período em que esteve dentro da residência. A mulher ressaltou o fato de ele ter filmado todos sem roupas e disse que estava realizando a filmagem para garantir a vida das pessoas que estavam naquele local.
Cinco horas de terror
Uma das mulheres lembrou que foi obrigada a tirar a roupa e cozinhar para o assaltante. Lázaro também a obrigou a beber vinho. A vítima relatou que o homem aparentava ser “estudado” e estava calmo. Em um determinado momento, ele colocou alguns integrantes da família para fora do quarto, obrigou todos a ficarem ajoelhados e os ordenou que rezassem o Pai Nosso. O caseiro chegou a ser agredido. O maníaco ameaçou dizendo que quem não soubesse rezar iria morrer.
Ainda dentro da casa, Lázaro pediu para uma das jovens tirar fotos dela sem roupas. Ele também fez vídeos dentro da residência e perguntou se ela sabia o porquê das gravações, e explicou que os arquivos iam salvar a vida de todos que estavam ali.
O tempo inteiro o psicopata questionava sobre dinheiro e armas. Lázaro teria recebido informações de que a família guardava valores e armamentos no imóvel. Em em determinado momento, o psicopata questionou o caseiro se ele tinha inimizade com alguém, se tinha algum parente policial ou era envolvido com algo errado. Perguntou onde a vítima nasceu e até o nome de seus avós. O autor chegou a dizer: “Nossa, estou na casa errada”. Entretanto ele seguiu questionando se as vítimas já haviam passado por algo parecido e demonstrou muita preocupação com o horário. Repetia que precisava ficar lá até meia-noite.
A testemunha ressaltou que Lázaro “pregou a palavra de Deus”. Falou que se as fotos da casa assaltada fossem parar na televisão, internet ou se a mulher fosse “passear” com os policiais atrás dele, os vídeos e fotos da jovem seriam divulgados na web.
À 0h em ponto, o alarme do assaltante despertou. Ele se despediu das vítimas e pediu desculpas pela situação. A mulher o acompanhou até o portão. Lázaro se desculpou novamente e foi embora calmamente. A testemunha relatou, ainda, que o autor parecia estar no local contra a própria vontade.
Quando a família Vidal soube do assalto à fazenda dos parentes, o filho do casal, Gustavo Marques Vidal, 21, disse que se o mesmo acontecesse com eles, ele faria de tudo para defender a mãe. Cleonice Marques, 43 anos, foi levada por Lázaro e encontrada morta três dias depois, em um córrego da região.
Buscas
A força-tarefa das polícias de Goiás e do Distrito Federal entrou, nesta quarta-feira (23/6), no 15º dia de buscas, na região de Girassol, distrito de Cocalzinho, no Entorno. O fugitivo é acusado de cometer diversos crimes – entre os quais, uma chacina que vitimou quatro pessoas da mesma família, no Incra 9, em Ceilândia, em 9 de junho deste ano.
Nesta manhã, a base de operações montada na Escola Municipal Alto da Boa Vista amanheceu com pouca presença de forças de segurança.
Antes, a operação contava com mais pontos de bloqueio ao longo de todo o percurso entre o Distrito Federal e Cocalzinho de Goiás, nesta quarta-feira, a reportagem identificou apenas uma fiscalização da Polícia Rodoviária Federal (PRF) entre Águas Lindas e Girassol.
Informações preliminares apontam possível aparição de Lázaro na noite dessa terça-feira (22/6), em uma chácara. Moradores de Girassol acionaram a polícia para ocorrência de troca de tiros entre um caseiro e um criminoso. Um homem teria tentado arrombar a porta do local. Até o momento, no entanto, não há a confirmação de que o suspeito seja o psicopata foragido.
O caseiro não se feriu e não soube dizer se o bandido foi atingido. Ele contou que não teve contato visual direto com o suspeito e teria visto apenas “um vulto”.
No último 10, uma propriedade rural na mesma região foi invadida pelo autor da chacina no DF. Na ocasião, Lázaro roubou peças de queijo, latas de alimentos em conserva, pacotes de biscoito, bandejas de frios e latas de doce de leite.
Ainda obrigou a dona da casa, Silvia Campos, 40, a cozinhar. “Ele estava com fome e mandou que fizesse algo para comer. A todo momento, falava para eu não tentar nenhuma gracinha nem fugir, como a outra mulher fez”, disse a proprietária. A vítima percebeu que Lázaro pegou uma mochila, um facão, e começou a separar mantimentos.
Rendição
Nessa terça, pessoas ligadas a Lázaro Barbosa entraram em contato com um advogado criminalista do Distrito Federal para tentar intermediar a rendição do foragido à Polícia Civil do DF (PCDF).
Em entrevista exclusiva ao Metrópoles, o criminalista assegurou que foi abordado por um grupo religioso que estaria auxiliando Lázaro. “Me especularam se eu tinha condições de garantir a integridade física dele”, disse o profissional, que pediu para não ser identificado. O advogado não ficou com o caso.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de Goiás informou que não chegou informação no sentido da rendição de Lázaro. “Caso o fugitivo, realmente, esteja sendo representado por algum advogado e haja esse interesse, é solicitado que a força-tarefa seja procurada”, destaca.
Um lençol sujo encontrado nessa terça-feira na região de Girassol (GO), Entorno do DF, pode ser uma nova pista que leve a Lázaro. A perícia vai avaliar se há vestígios de sangue na peça ou apenas sujeira de terra.
Olho vivo na cidade
Quinta-Feira, 24 de Junho de 2021, 12h02