Deise Moura dos Anjos teria feito ameaças à sogra, Zeli dos Anjos, antes de envenenar ela e mais seis pessoas da família com um bolo com arsênio em Torres, no Rio Grande do Sul. Uma amiga da família contou à polícia que, três dias antes do episódio, a sobrinha de Zeli havia alertado sobre problemas que existiam entre Deise e os sogros.
— Relatei a questão das ameaças que ela (Deise) fez à Zeli, que a Tati (sobrinha de Zeli) me falou. A história da mensagem que a Deise mandou para a Zeli, dizendo que ainda vai ver toda a família dentro de um caixão. Do Paulo também, né? Que ela disse “eu quero que tu morra” em uma discussão — relatou a testemunha, conforme o Fantástico.
No celular de Deise, que foi apreendido, investigadores encontraram as seguintes pesquisas na internet: “veneno para o coração”, “arsênio veneno” e “veneno que mata humano”. Em um áudio, ela também falava mal da sogra e dizia que ela “é uma peste”.
Três pessoas morreram após comerem o bolo: duas irmãs de Zeli, Neuza e Maida, e a filha de Neuza, Tatiana. Zeli chegou a ficar internada na UTI, mas teve alta na última sexta (10). Durante a semana, a polícia também encontrou arsênio no corpo do marido de Zeli, que morreu em setembro. Deise foi presa em 5 de janeiro.
“Minha sogra é uma peste”
No celular de Deise, foram encontrados áudios que revelam o mau relacionamento com a família. Um dos áudios foi enviado logo após a morte do sogro.
— A gente tá muito nervoso, muito ansioso, um pouco depressivo, depressível, também. Ele era um pai maravilhoso, um avô muito querido e a minha sogra é uma peste — diz.
Outra mensagem foi enviada à sogra e busca despistar sobre a causa da morte de Paulo. “Acho que precisamos rezar mais, aceitar mais e não procurar culpados onde não há. Só os momentos que Deus nos reserva, isso sim, não têm volta. Nem polícia nem perícia que possa nos ajudar a desvendar”, diz o texto.
Em outra mensagem enviada à sogra, Deise lista motivos que poderiam ter causado a morte de Paulo: “Não sei, acho que eu não faria nada, pois poderia ter sido várias coisas: intoxicação alimentar, negligência médica, a banana contaminada pela enchente, ou simplesmente a hora dele… Sei lá.”
Em outra mensagem apresentada pela polícia, enviada para uma pessoa com quem mantinha relacionamento, Deise desabafa: “Se eu morrer, cuide do meu filho e reze bastante por mim, pois é bem provável que eu não vá para o paraíso.”
Nota fiscal do arsênio
De acordo com a polícia, Deise comprou arsênio quatro vezes em um período de quatro meses. Uma das compras ocorreu antes da morte do sogro e as outras três, antes do caso do bolo, em dezembro. O veneno teria sido comprado pela internet recebido pelos Correios.
O Fantástico teve acesso com exclusividade à nota fiscal, que tem o nome dela no campo do destinatário e mostra a data do pedido: dias antes da morte do sogro, em setembro. Naquele momento, segundo a investigação, o arsênio foi colocado no leite em pó que foi ingerido com café pelos sogros de Deise.
No caso mais recente, o veneno foi misturado à farinha usada para fazer o bolo. Agora, a polícia tenta descobrir como essa farinha adulterada foi parar da despensa de Zeli.
Serial killer
A Polícia Civil afirma que há “fortes indícios” de que Deise tenha praticado outros envenenamentos e não descarta novas exumações. A RBS TV apurou que a suspeita envolve o pai de Deise, José Lori da Silveira Moura, que morreu aos 67 anos, em 2020, supostamente por cirrose.
A polícia também acredita que ela tenha envenenado o próprio filho e o marido. A ingestão de arsênio em pequenas quantidades não causa o óbito, mas complicações do quadro de saúde. Os testes do Instituto Geral de Perícias (IGP) devem ser feitos nos próximos dias.
Segundo o delegado responsável pelo caso, Marcos Veloso, a sogra da suspeita, Zeli dos Anjos, era o principal alvo dos envenenamentos.
— Ela estava no dia 2 de setembro, quando ela fez o café com leite em pó e tudo mais, junto com seu marido, e também estava no local em que Zeli fez o bolo em Arroio do Sal e ela também consumiu o bolo e também foi para o hospital — diz.
O que diz a defesa
A irmã de Deise mandou uma carta ao Fantástico rebatendo as acusações. Disse que a polícia já está a condenando antes do julgamento, que ela ajudou os sogros durante e após as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul, e que Deise nunca foi uma pessoa fácil de lidar, mas que isso não faz dela uma assassina.
Em nota, o advogado da acusada citou a necessidade da presunção de inocência, já que o inquérito ainda não possui relatório final e, em relação aos dados extraídos do celular dela, afirmou que devem ser avaliados no contexto correto no qual estão inseridos.