Por 1413 votos favoráveis e 620 contrários, associados do Corinthians aprovaram o impeachment de Augusto Melo, em assembleia geral extraordinária ocorrida neste sábado, no Parque São Jorge. Com isso, o cartola perde o cargo de presidente em definitivo. Ele já estava afastado da presidência desde 26 de maio, por decisão do Conselho Deliberativo.
Em nota depois da confirmação do impeachment, Augusto Melo disse que irá contestar o que chamou de "irregularidades da votação", "tomando as medidas cabíveis pelas vias adequadas".
Agora, o presidente do Conselho Deliberativo do Corinthians, Romeu Tuma Júnior, convocará a realização de uma nova eleição, contando apenas com a participação de conselheiros como concorrentes e votantes.
O presidente a ser eleito ocupará o cargo somente até o fim de 2026, quando terminaria o mandato de Augusto Melo.
Cerca de 10 mil associados estavam aptos a participar da votação de impeachment neste sábado. Conforme a Comissão Eleitoral, tiveram direito a voto os associados maiores de 18 anos admitidos há mais de cinco anos e que estivessem com as mensalidades em dia até 10 de junho.
No total, 2037 associados compareceram para votar. Houve quatro votos nulos e em branco. Dos 2.033 votos válidos, foram 1413 favoráveis ao impeachment (69,37% do total) e 620 contrários.
Augusto Melo chegou cedo ao Parque São Jorge, antes mesmo do início da votação, às 9h, e permaneceu no interior do ginásio. O presidente interino Osmar Stabile também marcou presença.
A Comissão Eleitoral encerrou a votação, realizada no Ginásio Wlamir Marques e em cédulas de papel, às 17h.
O agora ex-presidente chegou a acompanhar o início da apuração, mas deixou o Parque São Jorge, sem falar com a imprensa, quando a contagem dos votos estava na sexta urna.
Minutos depois da confirmação do impeachment, Augusto Melo se manifestou por meio da seguinte nota:
— O presidente Augusto Melo vai contestar as irregularidades da votação deste sábado, tomando as medidas cabíveis pelas vias adequadas. Entre os absurdos ocorridos neste sábado está a condução da votação por pessoas que estão em campanha contra Augusto Melo, sem isenção para desempenhar essa função. A diretoria interina permitiu que entrassem no clube membros de organizadas que coagiram os votantes e se negou a disponibilizar o registro de entrada dos sócios no clube, para que fosse possível comparar o número de entradas com o número de votos. A apuração das urnas foi controlada pelos adversários do presidente. Na esfera judicial, todas as medidas estão sendo tomadas para provar a inocência de Augusto Melo em relação a acusações falsas que ensejaram a condução de um inquérito nulo pela Polícia Civil — declarou o agora ex-presidente.
Impeachment de Augusto Melo
O pedido de impeachment de Augusto Melo foi baseado em acusações de irregularidades no contrato de patrocínio com a casa de apostas VaideBet, infração da Lei Geral do Esporte e desrespeito ao estatuto do clube.
No mês passado, o agora ex-presidente do Corinthians virou réu após a Justiça aceitar a denúncia apresentada pelo Ministério Público de São Paulo pelos crimes de associação criminosa, lavagem de dinheiro e furto.
De acordo com o Ministério Público, "está muito claro os caminhos tortuosos e ilegais que o dinheiro percorreu a partir do momento em que saiu dos cofres corintianos" para pagamento da comissão pela suposta intermediação do contrato entre o clube e a VaideBet.
Segundo a denúncia, montante de mais de R$ 1 milhão "passou por empresas manifestamente fantasmas e, tudo indica, recebedoras 'em trânsito' de valores escusos provenientes de estruturas criminosas e de empresas, notadamente, utilizada para as mais diversas formas de lavagem de capitais."
Eleito presidente no fim de 2023, Augusto Melo acabou com 16 anos da dinastia do grupo Renovação e Transparência no comando do Corinthians. Ele se envolveu em polêmicas e teve o título paulista deste ano como principal conquista esportiva de sua administração.
Entenda o caso VaideBet
Em janeiro de 2024, logo nos primeiros dias da gestão de Augusto Melo, o Corinthians anunciou acordo de patrocínio máster da VaideBet no valor de R$ 370 milhões por três anos.
Foi revelado, meses depois, que no contrato havia uma empresa apontada como responsável por intermediar o acerto entre as partes. Tratava-se da Rede Social Media Design, de Alex Cassundé, que havia sido contratado para participar da campanha eleitoral de Augusto Melo.
A Rede Social Media Design teria direito a R$ 25 milhões pela intermediação. Desse montante, a empresa recebeu duas parcelas de R$ 700 mil, que totalizaram R$ 1,4 milhão. O repasse tornou-se alvo de disputa interna do clube, sem o aval do diretor financeiro na época, Rozallah Santoro.
Na sequência, descobriu-se que a companhia de Cassundé repassou o dinheiro à Neoway Soluções Integradas em Serviços Ltda. Essa empresa, segundo a Polícia Civil, é de fachada e possui como sócia uma mulher chamada Edna Oliveira dos Santos, moradora de uma área periférica da cidade de Peruíbe, cujos dados foram usados para a criação da Neoway. A Polícia não encontrou qualquer relação dela com o caso.
A investigação policial fez a VaideBet acionar uma cláusula anticorrupção presente no contrato para rescindir a parceria, ainda em junho do ano passado. A empresa alegou que teve a reputação prejudicada pelas notícias envolvendo a parceria com o clube.
Após colher provas e solicitar a quebra de sigilos bancários, a Polícia descobriu que o dinheiro pago à Neoway percorreu diversas empresas até chegar à UJ Football, agência de gestão de carreiras esportivas que pertence a Ulisses Jorge e embolsou R$ 1.074.150,00.
No entendimento da Polícia, a UJ Football recebeu esse valor como pagamento de despesas da campanha eleitoral do Corinthians. Esta empresa teve o envolvimento com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) denunciado por Antônio Vinícius Lopes Grizbach, empresário assassinado em 11 de novembro, no aeroporto de Guarulhos.
Já Victor Henrique de Oliveira Shimada é sócio da Victory Trading Intermediação, uma das empresas pelas quais o dinheiro passou e que teria sido utilizada para dificultar o rastreio dos valores.