Opinião Terça-Feira, 18 de Março de 2025, 13h:26 | Atualizado:

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Rosana Leite Antunes de Barros

A menina Emelly Beatriz.

 

Rosana Leite Antunes de Barros

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A quinta-feira de Mato Grosso, dia 13 de março de 2.025, foi de grande dor. No início da tarde pululavam as tristes informações sobre o assassinato de Emelly Beatriz Azevedo Sena, aos 16 anos e grávida. 

A vítima morava em Várzea Grande, e levava a sua gravidez na adolescência, inclusive, com fotos em redes sociais, como a maioria das jovens.  Por certo, com o nascimento da filha, brincaria com a sua “bonequinha”, conforme as suas postagens. Brincaria, estudaria, faria, trocaria fraudas, sempre no futuro do pretérito do indicativo. Não lhe foi possível! 

Atraída para a emboscada, após conversar virtualmente com a sua executora, atravessou a ponte para a encontrar. A finalidade do encontro? A doação de enxoval para a sua filhinha, que como dizem carinhosamente na atualidade, se encontrava “no forninho”. 

Segundo a mídia, Emelly Beatriz participava de um grupo de WhatsApp de jovens mães, onde ficou sabendo da doação de enxoval para bebê.  Assim, na quarta-feira, dia 12 de março, foi ao encontro da mulher que lhe doaria as roupinhas. Nas conversas entre elas, algumas imposições foram feitas pela “doadora”. A pediu que fosse sozinha a encontrar, pois ficaria ruim um homem adentrando na casa dela, caso o marido fosse junto. A família foi avisada pela grávida que se deslocaria em busca da doação até Cuiabá. 

No local, a gestante adolescente foi assassinada com crueldade, quando teve a sua filha retirada através de incisão. O corpo foi enterrado em cova rasa, com as suas mãos amarradas para trás, onde as pernas se encontravam quase à mostra.  

Inevitável, mesmo em momento de tamanha dor, a reflexão sobre a vulnerabilidade social que a sociedade se encontra. Sim, estamos falando aqui de um estado com muitas riquezas, onde bilhões “desfilam” nas mãos de poucos. Determinados grupos sociais de indivíduos excluídos historicamente, assim o são por alguns fatores: pobreza; falta de acesso a políticas públicas; discriminação; desigualdade; fome; falta de infraestrutura; racismo, e por aí afora. São pessoas que sobrevivem ameaçadas e sem pertencimento social, em um meio onde o capitalismo dita as regras. É premente repensar o desenvolvimento das cidades sobre o viés feminista, porquanto fica complexo imaginar o alcance da igualdade sem superar barreiras visíveis. A experiência do “ser mulher” passa a ser diferente para cada segmento de mulheres. 

Emelly também nos chama a discutir sobre os direitos sexuais e reprodutivos para adolescentes, que incluem vários direitos, tais como: informação; educação; privacidade; e acesso aos serviços de saúde. As nossas jovens precisam decidir livremente se querem, e quando querem, ter filhas ou filhos. Mas, para que esse seja um fato a ser experimentado por elas, as informações sobre sexualidade sem violência, discriminação ou imposição precisam ser premissas nessas vivências.   

Em seu velório, familiares disseram ser pessoa feliz, que gostava de dançar e brincar com muita ingenuidade. Das postagens sobre ela, a massificada foi usando vestido rosa com objetos da mesma cor, anunciando que esperava em seu ventre uma menina. A cor rosa é suave e delicada, sendo associada a sentimentos de amor, gentileza, delicadeza e carinho. Aliás, tudo que ela não recebeu, quando aconteceu a sua passagem. 

A jovem Emelly foi assassinada brutalmente, e nada, absolutamente nada justifica. Todavia, a sua história de vida, como de tantas outras mulheres, foi marcada pela opressão. Audre Lorde foi precisa: “Eu não sou livre enquanto alguma mulher não o for, mesmo quando as correntes dela forem muito diferentes das minhas”. 

Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual, mestra em Sociologia pela UFMT, do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso – IHGMT -, membra da Academia Mato-Grossense de Direito – AMD - Cadeira nº 29. 





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