Opinião Sexta-Feira, 21 de Fevereiro de 2014, 14h:59 | Atualizado:

Sexta-Feira, 21 de Fevereiro de 2014, 14h:59 | Atualizado:

Wilson Santos

A retirada da Laguna – II

 

Wilson Santos

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Com o alto comando da Coluna dividido sobre a invasão ao Paraguai; sem as mínimas condições logísticas (gado e munição); sem a Cavalaria; completo desconhecimento geográfico da região; dependendo de um guia local, esforçado e leigo; com pouco mais de 1.600 homens (soldados, índios Terenas e Guaicurus, mulheres e refugiados), o comandante da expedição Cel. Carlos Camisão, baseado em Miranda, ordena a entrada em território paraguaio, no final de abril de 1867.

A Coluna marcha rumo ao rio Apa, na caminhada reconquista a fazenda Machorra, Nioac e Bela Vista, com pouca resistência paraguaia. Ainda dividido sobre o acerto em atacar o Paraguai, o Cel. Camisão tentou uma negociação, dirigindo aos inimigos uma carta, na qual propôs um entendimento. 

A resposta também veio através de uma correspondência, na qual recusaram qualquer entendimento e que ‘só de espada desembainhada poderemos tratar convosco’. Negado o entendimento, a Coluna brasileira atravessa o rio Apa, divisa natural e internacional com o Paraguai, e ruma para conquistar a fazenda Laguna, grande criadora de gado, distante 24 km de Bela Vista. 

Laguna foi conquistada com relativa facilidade, mas o tão esperado rebanho bovino estava disperso e em poder dos paraguaios. Essa facilidade que o exército brasileiro vinha encontrando no início da ocupação das terras paraguaias era enganosa, na verdade os paraguaios faziam um recuo estratégico e inteligentemente atraiam nossa tropa para dentro do seu território, onde tinham preparado uma reação fulminante e cruel, pois tinham total conhecimento da fragilidade e falta de planejamento dessa aventura brasileira.

Sem o gado tão esperado para alimentar a tropa, com notícias recentes de que não havia munição a caminho para o nosso armamento e com informações da chegada de novos batalhões do exército paraguaio ao front, finalmente, o comando da expedição resolve iniciar ‘a retirada da Laguna’. Seriam 35 longos dias, que deixariam outros mil mortos pelo caminho, agora, de volta.

O exército paraguaio pastoreou nossa retirada, impondo sua estratégia de forma fácil, rápida e cruel. A veloz cavalaria paraguaia cercava o ‘quadrado’ brasileiro, formação preferida para deslocamento de nossa tropa; além da ação de sua artilharia e infantaria que usavam queimar diariamente a macega alta, por onde fugia nossa infeliz coluna.Não bastasse o humilhante e homicida castigo imposto pelo exército inimigo, mais uma desgraça abate sobre nossa coluna: a cólera!

A colera matou aproximadamente 800 soldados nossos, chegando ao ponto do comando da expedição decidir pelo abandono de um grupo de 130 coléricos, que foram rapidamente fuzilados pelo inimigo. Até o Cel. Camisão morreu vítima da cólera, seu sub-comandante, o Ten-Cel Juvêncio e o guia Lopes e seu filho, também faleceram coléricos.

O livro ‘A retirada de Laguna’ é um clássico da literatura e permitiu o conhecimento de uma triste página da nossa história, destituída de glória. Um épico às avessas, onde vencer significava apenas continuar vivendo, o que só foi possível para 700 dos 3.000 brasileiros que começaram a expedição em abril de 1865. 

Wilson Santos é professor e ex-prefeito de Cuiabá





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