O que você, cidadão mato-grossense tem a ver com a guerra fiscal e cambial que está acontecendo no mundo? Eu diria que muito. Pois se os Estados Unidos estão fazendo todas as estripulias possíveis para manter o dólar como moeda universal (um privilégio, pois o banco central americano emite moedas que valem pelo mundo todo) e a China faz de tudo para segurar a sua moeda, o Yuan, desvalorizada com relação ao dólar, o que beneficia muito as suas exportações, são as commodities de países como o Brasil, do tipo soja e minério de ferro que, em grande, parte sustentam essa relação.
O principal produto que os chineses importam é o petróleo (5 milhões de barris por dia). Quanto a isso, os Estados Unidos tem uma certa estabilidade, com o dólar servindo como moeda nas transações (apesar da pressão de países como o Irã e a Venezuela). Neste aspecto a China teria um dos seus grandes pontos fracos.
Por outro lado, o minério de ferro, soja e algodão, são produtos também muito importantes na pauta de importação da China. Mas aí os chineses deitam e rolam. Eles compram de países como o Brasil, usam para consumo interno e ainda usam o “excedente” para transformar essas matérias primas, em produtos industrializados vendendo de volta, para países como o Brasil, como aço e roupas.
Em linhas gerais, estou dizendo que a China tem um déficit comercial grande com o petróleo mas equilibra isso com produtos como minério de ferro, soja e algodão, poisleva grande vantagem com as suas exportações de produtos industrializados, a partir destas matérias primas;
Daí entra o cidadão mato-grossense. O que produzimos aqui para vender pra China, é subsidiado com a Lei Kandir e, por isso, apenas Mato Grosso deixa de receber em torno de R$ 2 bilhões ao ano. Ou seja, vendemos matéria prima para os chineses a preços competitivos(para eles) que nos vendem de tudo industrializado ao Brasil, causando danos terríveis a indústria nacional. Além disso, os tributos e os empregos da soja ficam na China.
Fui convidado para ir aos Estados Unidos, em junho, na condição de sociólogo para demonstrar o peso das commodities que o Brasil exporta, na delicada relação entre o Yuan e o Dólar. Em linhas gerais, entendo que a soja, que é a maior riqueza de Mato Grosso, também é o maior empecilho para o seu desenvolvimento.É claro que vejo a importância da soja pra história de Mato Grosso, mas agora chegou a hora de industrializar, senão seremos um eterno celeiro para o mundo. Apenas isso.
Usarei como argumento, dentre outros, o fato da soja financeira ter pouca liquidez na Bolsa de Mercadorias e Futuro, aqui do Brasil, pois as tradings operam quase tudo na bolsa de Chicago, através dos hedgsfunds. Ou seja, enquanto o produtor realmente rala muito, as tradings ganham através de movimentos especulativos em bolsas e captando dinheiro no exterior a juros muito baixos e emprestando por aqui, via adiantamento financeiro ou de insumos, a juros do mercado brasileiro. Pegam dinheiro lá fora a 1% e cobram aqui a 12%.
Com isso, a soja vira cambio, ou se alguém considerar isso um exagero, ela deixa de ser apenas uma riqueza da terra, para virar também uma mercadoria virtual. Assim a nossa soja acaba sendo personagem importante na guerra fiscal e cambial rola pelo mundo, mas não provoca o desenvolvimento que poderia por aqui.