Opinião Sábado, 22 de Março de 2014, 09h:30 | Atualizado:

Sábado, 22 de Março de 2014, 09h:30 | Atualizado:

Luiz Henrique Lima

As sandálias de Mujica

 

Luiz Henrique Lima

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A foto do presidente uruguaio José Mujica calçando sandálias na posse de um ministro provocou uma enxurrada de críticas e comentários irônicos e depreciativos: fora de moda, fora de forma, desleixado, cafona. Confesso que vi o episódio por outro ângulo. Senti uma ponta de inveja dos uruguaios. Não uma inveja rancorosa, doentia, mas aquela que questiona: por que não conosco? 

Inveja de um mandatário que preza a simplicidade, que não é arrogante e que está mais à vontade em sua modesta chácara nos subúrbios de Montevidéu que nos ambientes palacianos. Inveja de um dirigente mais preocupado com o conteúdo das políticas públicas que com a ostentação dos símbolos do poder. Inveja de um governante que não consome o mandato pensando como um chefe partidário e sim como um chefe de Estado. 

Inveja de um líder político que se apresenta como é, autêntico, não se curvando aos caprichos de marqueteiros empolados que em tantos lugares ditam, além dos discursos, a cor da gravata ou a altura dos saltos, o modelo dos ternos ou dos tailleurs, a largura do sorriso e o estilo do penteado. Discordo bastante de algumas posições assumidas por Mujica, como em relação ao aborto, mas respeito sua transparência e honestidade. 

Não vejo Mujica enrolado em transações visando aprovar facilidades para sua reeleição ou a de seus correligionários. Não escuto Mujica vociferando contra a herança maldita de seus antecessores. Não soube de Mujica em viagens internacionais hospedando-se com dezenas de assessores em suítes requintadas dos hotéis mais luxuosos. Também não tive notícias de farras com cartões corporativos ou de parentes seus que num passe de mágica se tornaram multimilionários. 

Apesar de sua condição de ateu, encontro similitude entre as ações do presidente uruguaio Mujica e as do papa argentino Francisco. Embora ambos defendam com inteligência e firmeza suas respectivas posições, que muitas vezes não coincidem, a cada momento revelam humildade e sinceridade, características bem distantes das que vemos nos líderes da Venezuela, Argentina, Cuba e algumas outras nações do continente, em que o volume verborrágico dos pronunciamentos é inversamente proporcional ao bom senso, equilíbrio, correção gramatical e coerência lógica. 

Parabéns aos uruguaios por escolherem seus representantes e dirigentes não pela bela estampa ou elegância, mas pela essência de suas propostas e pelo exemplo de suas atitudes. É preferível um líder com sandálias e roupas fora de moda preocupado com o interesse público, do que figurinos bem arrumados, artificiais, inflados de vaidade e vazios de conteúdo.

LUIZ HENRIQUE LIMA é conselheiro-substituto do Tribunal de Contas do Estado

 





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