O Poder Legislativo de Mato Grosso nasceu em meio ao clamor local por representatividade. Em 1835, em um casarão entre as ruas Pedro Celestino e Campo Grande, a antiga rua da Assembleia, vinte ilustres cidadãos mato-grossenses tomavam posse como nossos primeiros parlamentares eleitos. Essa primeira Casa de Leis regional surgiu após um ano agitado por revoltas como a Rusga ou a noite do “30 de Maio”, como ficou marcado o sangrento episódio de disputa pelo poder local.
Não à toa, em agosto do mesmo ano, a Assembleia proclamou a Lei de número 19, um marco de sua criação que declarou a cidade de Cuiabá como Capital da Província. Foi uma migração do poder antes concentrado na fronteira com as antigas colônias espanholas para as regiões mais povoadas, onde viviam os descendentes dos pioneiros das Lavras de Cuiabá.
Com muita honra e cinco décadas de vida política, hoje ocupo a cadeira de vice-presidente desta Casa, posição que já foi de mato-grossenses ilustres como Generoso Ponce e Júlio Müller – que como eu, foi senador, governador do Estado, tendo contribuído para o crescimento de Mato Grosso, com obras como o Hospital Geral e a primeira ponte de concreto ligando Cuiabá a Várzea Grande.
A Assembleia ocupa desde a sua criação um papel estratégico para o desenvolvimento de Mato Grosso. Foi nessa casa que surgiu a Lei para a fundação do primeiro Liceu na Capital, em 1848. Escola que registra no quadro de ex-alunos nomes como o do Marechal Cândido Rondon, o presidente da República e herói da Segunda Guerra Eurico Gaspar Dutra, Aecim Tocantins, o ex-governador Dante Martins de Oliveira, e local na qual eu também tive a grande felicidade de estudar.
O início do poder legislativo mato-grossense não foi fácil dada todas as dificuldades logísticas para a reunião de seus membros. Em seus primeiros anos a Assembleia também se destacou na luta contra o isolamento geográfico do Estado. Não havia em Mato Grosso sequer uma ligação telegráfica e a notícia da proclamação da República demorou um mês para nos ser anunciada. A Guerra do Paraguai e a epidemia da Varíola (1864-1870) foram outros desafios. Apesar de todas as dificuldades nesse período surgiu a primeira Constituição Estadual, promulgada em agosto de 1891.
Nomes importantes marcaram os 190 anos de nosso legislativo como Pedro Celestino, Manoel Murtinho, Otávio Pitaluga, Benedito Leite de Figueiredo, Luis da Costa Ribeiro, Virgílio Alves Corrêa, Licínio Monteiro da Silva, Luis Filipe Pereira Leite, Lenine Póvoas, José Fragelli, Agrícola Paes de Barros, Emílio Calhao, Clóvis Hugueney, Vicente Vuolo, Sarita Baracat entre muitos outros. Todos fizeram do exercício legislativo um instrumento para apoiar Mato Grosso.
É importante relembrarmos a história desses personagens, pois essa Casa de Leis que comemorou os seus 190 anos precisa seguir com o compromisso de ir além dos debates partidários. Precisamos focar em questões prioritárias para o exercício parlamentar, como a delimitação da fronteira com o Pará, a garantia de que a Ferrovia Estadual Vicente Vuolo tenha um terminal nesta Capital, a ampliação do atendimento hospitalar aos cidadãos do Estado com a regulação da situação de calamidade que se encontra a saúde em Cuiabá, a finalização das obras de mobilidade da Copa de 2014, atrasadas em mais de uma década e que se tornaram cicatrizes entre Cuiabá e Várzea Grande, a redução dos vergonhosos números de violência contra mulheres e crianças e o fomento às atividades que melhorem os índices de desenvolvimento para os pequenos e médios agricultores e tragam empregos para região da Baixada Cuiabana, entre tantas outras questões.
Desde 1905 somos 24 deputados e na próxima legislatura seremos 30 eleitos para representar o interesse de 3,3 milhões de cidadãos. Uma grande responsabilidade que segue laureada pela história dos homens e mulheres que passaram por essas cadeiras antes de nós. Ouvi no encerramento da Assembleia Constituinte Nacional, em 1988, esse lembrete a todos que se encorajam pela vida pública; “A história nos desafia para grandes serviços, nos consagrará se os fizermos, nos repudiará se desertarmos.”
Por Júlio José de Campos, deputado e vice-presidente da ALMT
pais do futuro
Terça-Feira, 05 de Agosto de 2025, 18h39