A palavra ateu foi usada primeiramente, em português, no século XVI para qualificar aqueles que não acreditam em deuses; quaisquer deles, pois são muitos. Ateu é também ímpio, segundo os dicionários. E ímpio significa incrédulo, sem fé, herege. 0 contrário de pio, que é piedoso e caridoso.
Essa é a ideia, em geral, que se tem do ateu: aquele que não respeita as coisas religiosas e não tem pena dos males alheios, além de cometer o maior de todos os pecados: não acreditar em nenhum Deus.
Aí em vem o biólogo darwinista Thomas Henry Huxley ( 1825-1925) e cria o termo agnosticismo ( do grego agnosía-ignorância) visão, segundo a qual a razão humana é insuficiente para justificar tanto a crença de que Deus existe, como a de que Deus não existe.
Esse termo alivia, conforme penso, a carga negativa do adjetivo “ateu” e as pessoas descrentes passaram a usá-lo para evitar os preconceitos e a ira dos fieis de todas as religiões.
Algumas pessoas diferenciam um do outro, dizendo que ateu nega o divino e o agnóstico simplesmente não acredita em sua existência, sem negá-la. Este não afirma que Deus não existe, apenas diz que não acredita nele.
Ora, a diferença é muito sutil e talvez possa ter relevância para quem estuda semântica e etimologia, mas suponho desnecessária para o dia a dia das pessoas. Crer em Deus ou deuses é ter fé, confiança , aceitar por verdadeiro. Ateu é quem não acredita ou não tem fé em qualquer divindade, mas não desaprova os que acreditam. Aliás, o ódio que os crentes têm dos ateus não é correspondido por esses.
Tem ele, o ateu, por certo, que as pessoas nascem sem nenhuma crença e que o meio social em que vive lhe apresenta a sua. Assim uma criança filha biológica de judeus, será cristã, se criada por cristãos e outra, nascida de pais cristãos, professará o Islamismo se adotada por um casal iraquiano e criada segundo suas crenças.
Não crer em Deus, qualquer que seja ele, é visto pelos religiosos como uma falha de caráter. Sempre que o assunto religião surge em algum grupo é comum ouvir que o importante não é ter uma religião, pois todas seriam boas, mas é necessário crer em Deus.
“Afirmo” disse Stephen Robert “que todos somos ateus, apenas acredito em um Deus a menos que vocês”. Pensemos em 3 deuses para entender a frase do escritor: Jesus Cristo, Alá e Bhrama. Quem crê em um deles nega os outros dois. Crendo em Jesus descrê de Alá e Bhrama. Escolhendo Alá reprova Jesus e Bhrama. Nesse caso, cada crente acredita em um e nega os outros dois. O ateu simplesmente nega os três.
A praga do politicamente correto tem imposto à sociedade palavras “apropriadas” para substituir outras que possam sugerir algo negativo. Não vejo razão para usar afrodescendente no lugar de negro; nem praticante de culto afro-brasileiro para nomear o adepto da macumba, ou, pessoa com nanismo para anão.
Ateus carregam uma enorme carga de preconceito. Talvez a maior, superando negros, anões, macumbeiros e viados. Essas minorias também os condenam.
Mesmo assim acho o termo agnóstico um eufemismo desnecessário.
Renato de Paiva Pereira – empresário e escritor
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