O cenário político do Estado de Mato Grosso está em processo de ebulição, com ânimos quase tão quentes quanto a tão conhecida temperatura da Capital dentro de dois grupos políticos estabelecidos, sendo um representado pelo Prefeito de Cuiabá – Emanuel Pinheiro –, e outro representado pelo Governador do Estado – Mauro Mendes.
Emanuel e Mauro, duas das personalidades públicas mais importantes do Estado, talvez chegando até mesmo a serem os homens públicos mais populares da região na atualidade, sendo que ambos estão em seu auge da carreira política e não dão sinais de que as conquistas neste campo param por aí.
Os dois gigantes da política do cerrado se enfrentam cada dia mais, protagonizando uma verdadeira trama que faz capas de jornais na região, nada além do normal, afinal de contas, como diz a segunda Lei de Newton: dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo. Portanto, é comum que os dois mais prováveis e fortes candidatos à cadeira de Governador do Estado desempenhem um forte embate político.
Muitas coisas contribuem para a dicotomia existente entre Emanuel e Mauro, talvez algumas delas não estejam nem mesmo reveladas ao público em geral, rixas de caráter muito mais pessoal do que institucional que oportunamente poderão se tornar públicas em biografias desses dois homens fortes do política mato-grossense, já outras são de pleno conhecimento geral: a impossibilidade de se fazer a festa de 300 anos da capital na Arena Pantanal, a judicialização frequente das medidas políticas tomadas de ambos os lados, falta de comparecimentos em convites de reuniões sobre a pandemia, o entrave realizado pela Prefeitura sobre a escolha do modal de transporte público entre Cuiabá e Várzea Grande, entre tantas outras rusgas.
Todavia, para além das oposições feitas entre ambos, há um povo, há uma situação de crise na saúde pública, de crise nas finanças públicas, de crise de mobilidade urbana e muitas outras frentes de crises que vive o país como um todo, as quais partem quase que necessariamente de uma profunda e constante crise das instituições democráticas, o que reflete em um povo desacreditado da política e da classe que deveria representá-los.
Em situações de crises, os divergentes devem fazer concessões mútuas, eles devem refletir e atuar visando não apenas contra-argumentar o oponente, mas sim edificar as proposições, melhorá-las e não embargar aquilo que busca tornar o ambiente mais harmônico e pacífico. Assim foi até mesmo entre uns dos lideres mais antagônicos da história da humanidade: Roosevelt e Churchill, representando o ocidente capitalista e Stalin, representando o oriente socialista; todos contra o mesmo inimigo, a Alemanha Nazista, a qual representava uma clara situação de crise e perversidade quase nunca vista na Terra.
Emanuel e Mauro são divergentes no mesmo tanto que são convergentes, acreditam no mesmo Deus, amam o mesmo povo, lutam pela mesma terra, contaram por diversas oportunidades de suas vidas com a confiança da mesma gente, portanto devem atuar de forma que busquem o mesmo fim em comum: o bem geral da sociedade mato-grossense.
Ao invés de basicamente se opor à proposição do novo modal urbano feito pelo Governo do Estado buscando um plebiscito inoportuno ao momento em que o distanciamento social é a palavra de ordem, o Prefeito poderia deixar clara que a sua participação na escolha do modal virá através de critérios técnicos, analisando a agilidade de construção e de trânsito, o preço ao consumidor final, a vida útil e o custo benefício do modal implantado.
Da mesma forma, antes de decidir colocar uma placa criticando a atuação da Prefeitura de Cuiabá, o Governador poderia propor reuniões de forma mais contundente e diplomática com o Executivo Municipal, com intuito de buscar entender os motivos de não haver ainda um centro de triagem do Coronavírus municipal aos moldes do que foi feito na Arena Pantanal, buscando mapear possíveis locais onde podem ser implantados minicentros de triagem, intermediando negociações com o Governo Federal sobre o assunto, ampliando o diálogo institucional entre os demais Poderes Estaduais com busca de verbas junto a eles com intuito de possibilitar ações de combate à pandemia na capital e garantindo publicidade aos locais onde os munícipes podem se socorrer dentro da estrutura municipal de saúde.
A oposição quase que total entre o Governador do Estado e o Prefeito da Capital não pode travar o progresso regional, o bem-estar da nossa gente, ambos devem fazer a boa ação de sentar e conversar, resolverem-se, pois a sociedade não aguenta mais o Prefeito agindo como se fosse líder da oposição na Assembleia Legislativa, a sociedade precisa de um esforço mútuo, precisamos de reformulações produtivas e não de mais burocracia que nem mesmo leva a um real ganho político, mas sim apenas traz mais frustação daqueles que deram seus votos para que Mauro e Emanuel cuidassem da coisa pública com zelo e efetividade.
As mágoas devem ser deixadas de lado para que a festa dos 400 anos da Capital faça jus àquela que os 300 anos não fez. Cuiabá e Mato Grosso não são corpos que se opõem, muito pelo contrário, são parte da mesma terra, é a história de uma mesma gente, são terras amadas pelos mesmos corações.
João Gabriel de Jesus é Assessor Jurídico no Ministério Público do Estado de Mato Grosso, inscrito na OAB-MT 28.620/O e graduado em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
Vivi
Terça-Feira, 09 de Março de 2021, 20h38Silvio Araujo da Silva
Terça-Feira, 09 de Março de 2021, 13h36