Acontecimentos recentes podem nos levar a pensar que os seres da espécie mais evoluída do planeta Terra estão vivendo a era dos contrassensos. Dos avanços científicos e tecnológicos inimagináveis e das retroações.
Por um lado, graças às tecnologias, podemos nos conectar com pessoas em outros continentes. Interagir, não apenas ouvir a voz ou bater um papo, mas estabelecer (ou restabelecer) laços afetivos e rotinas que aproximam de situações reais.
Também dispomos de métodos, meios e instrumentos que resultam em serviços fundamentais à melhoria da sobrevivência humana, física e mental. Estou me referindo à produção de alimentos e a questões relacionadas à saúde preventiva e curativa, por exemplo.
Mas, por outro lado, parece que retrocedemos, voltamos à era etnocêntrica. Estamos nos esquecendo de relativizar os valores e visões de mundo, de negar caráter absoluto ao que quer se seja.
Não! Minha cultura, meus costumes e hábitos não são superiores aos seus. São diferentes. Minha crença e meus rituais religiosos, sejam quais forem, são tão importantes quanto os dos indígenas, católicos, umbandistas, espíritas, budistas, evangélicos...
Ah! E se eu não tiver uma religião! Não acreditar ou ainda estiver buscando respostas para os mistérios da existência de um ou vários Deus? Qual o problema? Por isso terei de ser crucificado?
É triste não apenas constatar a existência, mas testemunhar a perpetuação da intolerância religiosa em atos desumanos e criminosos pelo mundo.
Em Mato Grosso, a polícia precisa levar mais a sério a apuração de crimes e atos de perseguição contra as religiões afros e seus seguidores.
Nos últimos meses foram registrados diversos casos de invasão e destruição de templos de umbanda, candomblé e similares.
Há relatos que chamam a atenção pela insistência dos intolerantes. Em Cuiabá, na região do bairro Santa Isabel, por exemplo, há um centro espírita que já soma 30 invasões com registros de danos a móveis e imagens cultuadas.
Em nenhuma das ocorrências, pelo menos que eu tenha conhecimento, os criminosos foram identificados e punidos. A lei 9.459/1997 considera crime a prática de discriminação ou preconceito contra religiões com pena que pode chegar a 5 anos de reclusão.
ALECY ALVES é repórter do jornal Diário de Cuiabá.