Contrário ao que o título possa sugerir, este é um artigo em defesa do senador. Junto com ele advogo o direito de qualquer um decidir os rumos da própria vida e tomar as decisões que julgar mais corretas.
Pego emprestado do biólogo evolucionista Richard Dawkins a ideia do seu livro “O Gene Egoísta” para ajudar-me na defesa. Dawkins argumenta que qualquer organismo vivo, da ameba ao elefante ou ao homem, é apenas uma máquina de sobrevivência do gene. E que este (o gene) nada mais deseja que a autorreplicação, ou seja, reproduzir-se infinitamente.
Então, desde os nossos genes somos totalmente egoístas e o próprio altruísmo nada mais é que uma forma de perpetuar o indivíduo, e, claro, os genes. O egoísmo é a forma que a evolução usou para a transmissão dos genes e consequente perpetuação de todas as espécies.
Dito isto fica claro, segundo Dawkins, que o senador Blairo é egoísta. Nem mais nem menos que todos nós, desde o índio lá do fundo da floresta amazônica até o papa, que alguns têm por santo. Como cobrar só dele uma tão arredia virtude, que na sua plenitude não está disponível a ninguém? Como exigir que ele pense primeiro nos outros e depois em si e na própria família, se isso é impossível para o ser humano?
Esse discurso dos que pedem a candidatura do ex-governador é tendencioso e nele está embutida uma mega dose de hipocrisia, que precisaríamos de muita boa vontade para julgá-la de boa fé, posto que no mundo político parece que não há lugar para os ingênuos.
O altruísmo que exigem dele certamente não está presente nos cobradores, a não ser como ferramenta da mais pura manifestação do egoísmo que carregamos. Explicando: eles querem que o senador se sacrifique, para que eles mantenham ou conquistem um lugar na grandiosa mesa do poder.
Ninguém pode ser obrigado a sacrificar-se pelos outros. Na verdade, em política, o discurso não anda junto com a prática. Quando afirmam que estão dispostos a, contra a vontade, oferecem seus nomes nas eleições estão sim como aquela fábula do sapo, que prestes a ser atirado céu abaixo pedia: “me joga no fogo que na água eu morro”.
A recusa do senador em candidatar-se deixa uma turma descontente e outra entusiasmada. O jogo político sem ele altera-se totalmente. Muitos candidatos ou ex-candidatos que contavam com os votos que ele puxa para a própria eleição entraram em desespero e o atacam por todos os lados.
Não conheço o senador, não tenho negócios com o estado e nem interesses políticos. A defesa que faço aqui, que na verdade ele não precisa, é apenas uma manifestação de contrariedade com as injustiças e uma pequena contribuição darwinista para o entendimento dos sentimentos, dos vícios e das virtudes.
*RENATO DE PAIVA PEREIRA – escritor e empresário
Renato Raul Spinelli
Quinta-Feira, 08 de Maio de 2014, 11h16