Mounjaro no SUS de Cuiabá: iniciativa que precisa de cautela e protocolos

 

A disponibilização de Mounjaro (tirzepatida) pelo Sistema Único de Saúde (SUS) de Cuiabá representa um marco na atenção básica à obesidade, uma condição crônica que custa vidas e muitos recursos públicos. No entanto, sem protocolos robustos, capacitação e estratégia financeira, corre-se o risco de fracasso naquilo que poderia se tornar referência nacional.

Como a experiência que não tenho tratamento clínico para obesidade, avalie com otimismo a decisão pioneira de Cuiabá em disponibilizar esse medicamento gratuitamente pelo SUS. Essa iniciativa pode beneficiar pacientes com obesidade grau 2 e 3, mas precisa de uma estrutura com equipe multidisciplinar, composta por nutrólogos, endocrinologistas, nutricionistas e educadores físicos para acompanhamento completo desses pacientes. É preciso combinar o mounjaro e o estilo de vida, assim há mais chances de resultados duradouros.

A iniciativa não merece apenas reconhecimento, como também uma reflexão cuidadosa sobre os caminhos que temos percorrido no enfrentamento de uma das condições mais desafiadoras da atualidade. Nesse contexto, a chegada de medicamentos inovadores como a tirzepatida reforça a importância de tratarmos a obesidade com a seriedade e a complexidade que ela exige.

No Sistema Único será necessário que haja uma supervisão rigorosa, com protocolos claros de monitoramento. No longo prazo, reduzir o peso nesse grupo pode evitar doenças como diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares, trazendo economia ao SUS e melhoria na qualidade de vida.

O mounjaro já é reconhecido por sua eficácia tanto para diabetes tipo?2 quanto para perda de peso. Porém, o custo privado é entre R$?1.400 e R$?2.400 mensais, tornando-se inacessível para a maioria. O SUS em Cuiabá quebra essa barreira e atinge 27,2% dos adultos com essa condição, e os índices ainda são mais altos entre mulheres 29,7%, de acordo com dados recentes do Ministério da Saúde (2024).

O apoio inicial financiado por emenda parlamentar é positivo, mas frágil. Deve-se planejar em longo prazo: negociar preços com o fabricante, buscar incorporação pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec), e avaliar o custo-benefício antes de ampliar o acesso.

O sucesso depende da qualificação real das equipes locais, gestão eficiente de filas e infraestrutura para consultas, exames e educação continuada dos profissionais. No papel de médico em emagrecimento, defendo com certeza uma incorporação responsável, com critérios clínicos bem definidos, monitoramento rigoroso e reforço contínuo na educação em saúde. Se bem conduzido, este projeto pode ser transformador salvando vidas, prevenindo complicações e tornando-se modelo de combate à obesidade no Brasil.

Arnaldo Sérgio Patrício é especialista em Medicina Interna e Radiologia e atende como médico responsável pela Unidade de Nutrição do Hospital São Judas em Cuiabá Instagram @arnaldosergio