Opinião Sexta-Feira, 18 de Fevereiro de 2022, 11h:29 | Atualizado:

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Flávio Stringuetta

O que leva alguém a cometer violências contra seu parceiro(a)?

 

Flávio Stringuetta

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Trata-se de um tema delicado. Obviamente não há um motivo apenas. Talvez nem haja motivo, mas tão somente explicações. 

Eu trabalhei quase 9 anos no interior e atendi inúmeros casos de violência doméstica. E não só sendo a mulher a vítima, como também homens e menores de idade. Os homens, por orgulho, talvez, não denunciam com a mesma frequência que as mulheres, que são efetivamente a maioria das vítimas e devem ser bem protegidas.

Já peguei casos de falsa denúncia de mulheres contra seus companheiros ou ex companheiros, o que configura crime de denunciação caluniosa. Elas responderam criminalmente por isso. E podem responder também no âmbito civil por eventuais danos causados, inclusive dano moral e psicológico. Digo isso para que as vítimas verdadeiras saibam bem como usar a lei que as protegem.

Talvez eu não seja o melhor profissional para tratar dessa questão, mas me permitam a abordagem. 

Na maioria dos casos de violência doméstica que atendi a esmagadora maioria dos agressores vieram de famílias onde também havia violências. Para eles/elas, a violência, portanto, é "normal".

Obviamente que, quem pratica a violência, não o faz por amor à vítima, como costumeiramente alegam. Pode haver qualquer outro sentimento, mas não amor. 

Conheço uma frase que diz assim: quando a falte de respeito entra num relacionamento, este relacionamento já acabou.

Um dos sentimentos que mais levam homens é mulheres a praticar violência dentro do relacionamento é o de posse. Não aceitam perder o(a) parceiro(a), não entendendo que não os tem mais, que não é dono do(a) outro(a).

Outro sentimento é o de inferioridade. Por se sentir menor que o(a) companheiro(a), tendem a tentar rebaixá-lo(a), através de xingamentos e adjetivos negativos, caracterizando a violência psicológica, o que me parece ser pior do que a física, já que pode durar anos para cicatrizar, ou até mesmo não cicatrizar. 

O feminicídio dentro do relacionamento é o mais grave tipo de violência contra as mulheres. Muitas vezes praticado até na presença de filhos. Na minha visão, esse crime deveria ter pena de prisão perpétua, não permitida ainda pela nossa legislação, pois o agressor não deixará de ser um agressor nunca e certamente fará outras vítimas. 

Nossa legislação não é eficaz para inibir os(as) agressores(as) de praticar violências. E nem para proteger as vítimas, principalmente as mulheres, que fisicamente é a parte mais frágil da relação. Elas acabam tendo que se virar sozinhas, com medo, se esconder, o que provoca inúmeros traumas.

Muitas pessoas acham que não devem se meter em brigas de casal. Para isso tenho uma frase: se em briga de marido e mulher você não quer meter a colher, meta a polícia. 

Não se omitam, principalmente você que é vizinho de alguém que sofre de violência doméstica, pois um dia pode ser você que necessitarão de socorro.

Muitas mulheres não denunciam a violência da qual está senso vítima porque depende financeiramente do agressor. E este utiliza isso para continuar com a violência, física e psicológica. Nesses casos, a vítima precisará ainda mais das pessoas à sua volta. 

Quando souberem de algum caso de violência doméstica, não esperem que a vítima peça ajuda. Ela pode estar tão fragilizada que nem forças tem para isso. Liguem 190 (polícia militar) ou 197 (polícia civil) e façam a denúncia, que será anônima. Você denunciante nunca aparecerá. 

Se você for a vítima, procure ou o plantão de violência doméstica, que fica no antigo CISC Carumbé, ou a Delegacia da Mulher, que fica na Av. Carmindo de Campos. 

Não acreditem que a violência acabará. Uma vez praticada e perdoada, podem ter certeza que voltará a acontecer. 

Deus nos abençoe. 

*Flávio Henrique Stringueta é delegado da Polícia Civil de MT

 





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