Opinião Sexta-Feira, 13 de Junho de 2025, 16h:19 | Atualizado:

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Laudicério Machado

PM não é "pedreiro fardado"!

 

Laudicério Machado

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Uma resposta ao curioso exercício de superioridade na segurança pública

Recentemente, em um lampejo de inspiração corporativista (ou seria elitismo institucional?), o presidente do Sindicato dos Policiais Civis, senhor Gláucio Castañon, resolveu iluminar os leitores com sua opinião contrária à proposta de isonomia salarial entre policiais militares e civis. Até aí, tudo bem — cada um defende seu quinhão. O problema é que, na ânsia de subir no salto alto funcional, o autor tropeçou feio na escada do respeito e da coerência.

Com uma elegância digna de quem se acha o Steve Jobs da segurança pública, Castañon resolveu comparar os policiais militares — soldados, cabos e sargentos — a pedreiros, eletricistas e ajudantes de obra. Já os civis, claro, seriam os engenheiros e arquitetos da coisa toda. Uma analogia, no mínimo, criativa. Se criatividade contasse como qualificação jurídica, esse artigo já teria garantido ao autor uma vaga vitalícia no STF.

O problema não está só na ofensa disfarçada de metáfora — que, aliás, só não é mais velha que a própria desigualdade funcional entre as corporações — mas também na desinformação que ela carrega. A comparação é não só desrespeitosa como completamente alheia à realidade. 

Afinal, são os tais “pedreiros fardados” que estão presentes em mais de 90% das ocorrências, que chegam primeiro e, quase sempre, são os únicos a chegar. Mas, quem se importa com isso quando se está tão ocupado desenhando plantas da vaidade institucional?

Constituição? Nunca nem vi!

A Constituição Federal, não é uma "bobagem" de 1988 e é preciso levar a sério. Ela diz no artigo 144 que a Polícia Civil e a Militar são ambas órgãos da segurança pública, com funções complementares e essenciais. Mas vai explicar isso para quem acredita que o distintivo civil vem com uma toga embutida.

Ambas as corporações exigem nível superior, enfrentam riscos diários, ingressam por concurso público, respondem por ações legais e técnicas, e são fundamentais à ordem pública. Mas, para alguns, tudo isso é irrelevante. O que importa mesmo é a narrativa onde o militar é só o operário suado que carrega tijolo, enquanto o civil é a cabeça pensante que toma cafezinho na obra e aprova o projeto.

E vamos falar de formação? Os soldados entram com diploma de nível superior e saem como tecnólogos em Segurança Pública. Os oficiais, são bacharéis em Direito e ainda ganham mais uma formação em Ciências Policiais. Não bastasse isso, exercem funções jurídicas, lavram flagrantes, relatam termos, conduzem sindicâncias, fazem inteligência e atuam em áreas de risco onde, coincidentemente, o "engenheiro" raramente põe os pés.

Mas nada disso parece importar. Porque, no fundo, o problema não é técnico — é estético. Tem gente que ainda acredita que o prestígio de uma função depende do quão longe ela está da poeira da rua.

A proposta de isonomia salarial não quer forçar ninguém a dividir o cafezinho — só quer corrigir um abismo salarial indecente entre profissões que, goste-se ou não, são irmãs siamesas na missão de manter a sociedade em pé.

Mas para isso, teríamos que aceitar que o policial militar — aquele que troca tiro em favela, que trabalha fim de semana, que vive sob regras militares, sem direito à greve, com plantões absurdos — talvez mereça o mesmo respeito (e salário) que o investigador que vai ao local do crime depois que tudo já foi para o espaço.

Privilégios e penduricalhos: só para quem pode

Enquanto a Polícia Civil esbanja mais de 400 cargos comissionados, gratificações especiais, adicionais noturnos, insalubridade, disponibilidade e o que mais o dicionário permitir, a Polícia Militar trabalha com dois cargos de gestão e zero adicionais. Mas é claro, como bons “operários”, devem aceitar tudo com a humildade esperada de quem “não fez o projeto da obra”.

Enquanto isso, militares fazem 50 horas extras por mês, com pagamento que ofende até o mais resignado dos sargentos. Mas tudo bem, alguém precisa sustentar o luxo institucional alheio.

O policial militar não quer um trono — só quer parar de ser tratado como escada. Defender sua própria carreira não deveria ser sinônimo de atacar a dos outros. Se há algo urgente na segurança pública, não é reforçar muros de vaidades, mas construir pontes de reconhecimentos.

Porque o verdadeiro engenheiro da paz não é o que projeta o edifício do ego. É o que, fardado, suado, de plantão e com a arma na cintura, segura as rachaduras de um país que insiste em desprezar quem o sustenta. 

Não é desmérito ser comparado ao pedreiro, operário que é essencial ao crescimento de uma sociedade, e sim uma honra pois com suor e dedicação torna se um elemento chave no desenvolvimento de um país, função vital. Não diferente de um policial militar que com seu trabalho árduo leva sensação de segurança a todos impulsionando o crescimento melhorando e contribuindo para o bem-estar da população.

Sargento PM Laudicério Machado é presidente da Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar e Corpo de Bombeiro de Mato Grosso e Presidente do Conselho Fiscal da Federação Nacional de Praças





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Comentários (7)

  • Pensador

    Sexta-Feira, 13 de Junho de 2025, 19h49
  • Eu acho ridículo essas discussões públicas, pois nenhum dos 2 (Laudicélio ou Gláucio) estão habilitados para falar em nome das instituições! Esses artigos deveriam ser em próprio nome! Fui PM, hoje sou PC e garanto, essas picuinhas só levam a desgastes desnecessários entre os colegas! Querem lutar por salário melhor? Acho justo! Também quero ganhar mais! Mas acredito que tem os meios próprios pra isso, para ambos os intelectuais (inclusive um deles é doutor) vai um refresco: "LEI aumenta salário". Logo, corra atrás, façam as articulações devidas! Pessoal bate na PC, falando que ganha muito, tal, não é bem assim! PC/MT está desde 2014 sem nenhum centavo de aumento! NENHUM centavo! Assim, penso que ao invés de ficar criando confusão com a PM (instituição fundamental para manter a ordem) deveria articular corretamente para o bem da categoria. E NADA FEZ, NADA FAZ! Entrei na PC o classe especial tinha exatamente o mesmo salário de um Major, hoje, tá ganhando menos que um Capitão, logo, alguém teve aumento aí, né? Ou a tabela muda sozinha? É óbvio que a PC ficou pra trás!
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  • Oficial investigador kalmax

    Sexta-Feira, 13 de Junho de 2025, 19h40
  • Primeiramente, parabéns ao sgt laudicerio por estar atento em defender sua categoria.. os praças da polícia militar merecem sim, um aumento significativo, para diminuir o abismo entre as carreiras de praça e de oficiais, este sim deve ser o parâmetro, diminuir o buraco entre as duas carreiras oficial/praça.. Assim com os investigadores e escrivães tem que correr atrás do deles, pois beira o absurdo um investigador/escrivão com 30 anos de polícia, não ganhar nem perto do que ganha de um delegado substituto, que acaba de assumir o cargo. Enfim, torço pelas duas categorias, que ambas alcancem seus objetivos, sem comparações de melhor ou pior, cada qual na sua função, são todos essenciais para garantir a sensação de segurança que a população tanto precisa. E vamos nos unir, que o inimigo é outro..
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  • Paulo Roberto

    Sexta-Feira, 13 de Junho de 2025, 19h21
  • Imbecil!
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  • Roberto

    Sexta-Feira, 13 de Junho de 2025, 19h03
  • Essa ideia de que todos devem receber o mesmo salário, não deu muito certo em Cuba ou Correia do Norte, só penso se quero receber igual empresário devo empreender, se quero ganhar igual médico, estudar para aquela profissão, se quero ganhar como Delegado vou lá estudo e passo para aquele concurso, vou enfrentando o meu objetivo, tá aí por escolha, sabia do salário, dos riscos e tudo mais. Porém é uma fala típica de funcionário público não de policial, pra ser polícia precisa ter de vocação.
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  • Engenheiro

    Sexta-Feira, 13 de Junho de 2025, 18h45
  • O artigo 56 do estatuto da pmmt fala sobre a atuação da praça ( militar que tem graduação de subtenente, sargento, cabo e soldado) é o cargo que execução de ordens, por mais que para ingresso na carreira seja nível superior, sua função é de cumprir ordens, dos oficiais da PM, então essa equiparação não existe com cargos de investigador e escrivão de polícia judiciária civil, que é mais complexa! Quer receber mais? Estude para oficial da pm ou para a polícia civil!
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  • servidor

    Sexta-Feira, 13 de Junho de 2025, 17h19
  • O cara quer comparar um trabalho mecânico e que não precisa pensar com trabalho de investigação que exige inúmeras habilidades intelectuais para desenvolver ... Quer ganhar mais, faça concurso pra polícia civil ué.
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  • 10 CONDENADO

    Sexta-Feira, 13 de Junho de 2025, 17h03
  • Boa tarde, sou investigador de polícia e acredito que essa opinião seja da pessoa do presidente do SINPOL e não da categoria, que digasse de passagem é sua ultimo mandato, a PM ta correta na sua luta, todos temos que receber um salário digno, Um abraço a todos.
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