Opinião Segunda-Feira, 09 de Fevereiro de 2015, 08h:30 | Atualizado:

Segunda-Feira, 09 de Fevereiro de 2015, 08h:30 | Atualizado:

Gonçalo Barros Neto

Relatividade e racionalidade

 

Gonçalo Barros Neto

Compartilhar

WhatsApp Facebook google plus

goncalo-antunes.jpg

 

Interessante notar como os textos resumidos nos têm chamado mais atenção que aqueles produzidos com maior racionalidade e profundidade. 

A vida corrida que levamos, sem tempo para quase nada, a não ser para a busca de sobrevivência própria e dos familiares, nos relega à inferioridade intelectual. 

Com a teoria da relatividade, Einstein recria a dialética e a necessidade da reflexão constante, não só na física, mas igualmente em todos os ramos do conhecimento. 

O ’resuminho’ ficou com os dias contados. Tanto isso é verdade, que a sociologia jurídica alemã avançou, ainda antes da segunda grande guerra, no descobrimento da essência do debate político antecedente ao resultado positivado, ou seja, da lei. 

Posteriormente, tal relatividade passou a ser inquietação da filosofia do Direito, tendo como expoente o pensador alemão Robert Alexy, com a sua renomada teoria da ponderação. 

Hoje, por ironia tecnológica, até pela facilidade da internet, lemos o resumo do resumo e ficamos satisfeitos por estarmos ’bem’ informados. 

O tempo, de aliado, virou vilão num mundo sem peia e freio. O ócio reflexivo não nos é permitido. As manchetes falam pelo conteúdo, apesar de que nem sempre o retratam com fidelidade. 

De relatividade, passamos ao absoluto vindicado pelo rolo compressor da informação de massa, deseducadora e mentirosa, serva fiel de quem lhe paga as contas e farras. Inquérito de polícia virou peça acusatória. 

Denúncia virou fato subsumido à decisão final da verdade, processual ou não. Do necessário trânsito em julgado, somente remotas lembranças de um sistema de justiça que já teve seu momento e tempo. 

Somado a isso, e já tivemos a oportunidade de expor neste espaço, temos a falta de regulamentação das atividades das bibliotecas virtuais, em especial do Google. 

O efeito dessa libertinagem é devastador, como, por exemplo, o direito ao esquecimento. 

Apesar de ter sido debatido recentemente na comunidade jurídica europeia, com o apoio integral pela sua incidência sob a perspectiva dos direitos humanos, com a ferramenta de consulta universal, esquecer algo sobre alguém, ainda que inocente,virou poeira ou fumaça cibernética. 

Como voltar no tempo nessa temática? Como ensinar, apesar dos ’resuminhos’, a relatividade das coisas e a necessária ponderação antes do julgamento da ’mass media’? 

Como o estado mental das pessoas, projetado atualmente pela busca de facilidades, resumos, manchetes etc, pode ser trabalhado em busca de uma maior dialética política e social? 

Não tenho as respostas; as daremos considerando a relatividade de tudo e o pensamento reflexivo de cada qual. 

Aliás, perguntar não ofende - já amou a teu próximo como a si mesmo? Já julgou a teu vizinho com a medida e peso com que julgas seu filho? -.Cuidado, não basta a igreja e a confissão, o buraco da agulha é muito pequeno para a pata do camelo. 

É por aí...

GONÇALO ANTUNES DE BARROS NETO é juiz de Direito  em Cuiabá.

[email protected]

 





Postar um novo comentário





Comentários (3)

  • Ronei Duarte

    Terça-Feira, 10 de Fevereiro de 2015, 22h50
  • Atualmente a sociedade brasileira bebe do "volume morto" do sistema de informação e da produção da cultura midiática. Temos uma imprensa ideologicamente seletiva com seus interesses escusos promovendo uma pseuda interlocução. Com um racionamento proposital do espaço de cobertura cientifica/ acadêmica impedindo que ocorra debates e discussões intelectualizadas dos nossos problemas sociais e políticos. Fato que acarreta um verdadeiro sequestro da nossa cidadania e do nosso poder de transformação e crescimento como uma nação.
    2
    0



  • Ronei Duarte

    Terça-Feira, 10 de Fevereiro de 2015, 22h49
  • Atualmente a sociedade brasileira bebe do "volume morto" do sistema de informação e da produção da cultura midiática. Temos uma imprensa ideologicamente seletiva com seus interesses escusos promovendo uma pseuda interlocução. Com um racionamento proposital do espaço de cobertura cientifica/ acadêmica impedindo que ocorra debates e discussões intelectualizadas dos nossos problemas sociais e políticos. Fato que acarreta um verdadeiro sequestro da nossa cidadania e do nosso poder de transformação e crescimento como uma nação.
    0
    0



  • Sika

    Segunda-Feira, 09 de Fevereiro de 2015, 17h00
  • Também comungo o mesmo pensamento, porém já sou mais cético quanto a uma possível reversão desse quadro, creio que caminhamos a passos largos para um mundo cada vez mais abstrato, virtual e, pior, acéfalo... Parabéns pelas reflexões, ainda há quem as julgue importantes.
    4
    0











Copyright © 2018 Folhamax - Mais que Notícias, Fatos - Telefone: (65) 3028-6068 - Todos os direitos reservados.
Logo Trinix Internet