Opinião Domingo, 09 de Agosto de 2015, 10h:21 | Atualizado:

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Gustavo de Oliveira

Sequestro, Heineken e Bunge

 

Gustavo de Oliveira

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Gustavo de Oliveira

 

'Jogada de Mestre' é um filme europeu em cartaz em Cuiabá que conta a história real do sequestro do ex-presidente da Heineken, o holandês Freddy Heineken (interpretado por Antony Hopkins), em novembro de 1983. Naquele ano, cinco jovens executam o sequestro do magnata em Amsterdã, na Holanda. Cor (Jim Sturgess), Willem (Sam Worthington), Cat (Ryan Kwanten), Spikes (Mark van Eeuwen) e Brakes (Thomas Cocquerel) são amigos e planejam o sequestro do empresário com o único objetivo de obter 35 milhões de dólares. Para tanto o grupo realiza um assalto, de forma a ter a quantia necessária para organizar o cativeiro e todos os detalhes do golpe. Entretanto, após a realização do sequestro, a inevitável tensão decorrente da investigação da polícia faz com que a amizade do grupo, e o próprio golpe, fique por um fio. 

Nos créditos do filme ele é apontando como o sequestro que obteve o maior resgate “individual” no mundo. Porém, o título do mais caro sequestro do mundo ocorreu nove anos antes, no dia 19 de setembro de 1974, no centro de Buenos Aires, quando os guerrilheiros Montoneros sequestram os irmãos Juan e Jorge Born, herdeiros da maior empresa argentina, na época, a Bunge y Born. Nove meses depois, em junho de 1975, o sequestro terminou com o pagamento de US$ 60 milhões, que atualizados representam a quantia de US$ 260 milhões. 

O sequestro dos irmãos argentinos é digno de um filme. A começar pelo fato de quem negociou o pagamento foi o filho mais velho Jorge, na época com 40 anos, no próprio cativeiro. Pois seu pai, Jorge Born II, se recusou a atender os telefonemas dos sequestradores após ser informado que a quantia do resgate era de US$ 100 milhões. Inconformados com a atitude do milionário, os sequestradores explicaram a situação para Jorge, que tomou a dianteira na longa negociação. Finalmente, Jorge convenceu o pai, após escrever uma carta explicando que havia conseguido um grande desconto, de US$ 40 milhões, e que, portanto, era um bom negócio, já que o estado da saúde mental de seu irmão mais jovem o estava preocupando. Assim começaram os pagamentos semanais, que redundaram na liberação de Juan, quando metade do pagamento foi feito e três meses depois, a liberdade de Jorge. 

Do dinheiro entregue aos Montoneros, US$ 42 milhões, foram parar em Cuba e ajudou no financiamento de várias ações guerrilheiras de esquerda pelo mundo. O resto foi parar num banco suíço, numa conta movimentada pelo banqueiro David Gravier, morto em um suspeito acidente aéreo em 1976. Parte deste dinheiro foi recuperado pela família. 

Os irmãos Born após o sequestro se mudaram para São Paulo. Juan, hoje com 77 anos, é o mais recluso e acredita-se que ainda vive na capital paulista. Jorge, hoje com 81, viveu 18 anos em São Paulo e depois retornou à Buenos Aires. 

Entre 1992 e 1995, a Bunge y Born, se desfez com brigas entre os irmãos – Juan não aceitou o fato de Jorge ter se aproximado de um dos sequestradores e financiado um negócio de marketing entre eles, na década de 1980 – e entre as famílias sócias dos Borns (Bunge, Hirsh, Engels e De La Tour), que não gostaram da aproximação política promovida por Jorge Born no governo de Carlos Menen, quando dois diretores do grupo participaram do governo e fracassaram na condução econômica do país. Neste período eles se desfizeram de vários ativos no Brasil e na Argentina, nas áreas de indústria alimentícia, têxtil e química. Este movimento permitiu a criação, em 1994, da multinacional Bunge Limited, com sede em White Plains, nos Estados Unidos, concentrando na comercialização de cereais, principalmente a soja e aqui em Mato Grosso. Hoje a Bunge fatura US$ 60 bilhões por ano e emprega mais de 35 mil pessoas em todo mundo. E, é claro, os reclusos Borns são seus maiores acionistas individuais. Não daria um bom filme? 

*Gustavo Oliveira é diretor de Redação do Diário. [email protected] 

 





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