O que diz o dicionário sobre crise? Fala que é uma distinção, uma sentença, uma separação... Há quem diga que é um momento de impasse. Para mim trata-se de um estágio embrionário de mudança.
Existem crises políticas, financeiras, econômicas, socioculturais, ambientais, existe crise para tudo onde o homem possa tocar. E podem ter dimensão mundial, regional, nacional, local, individual... podem até ser boas ou más. As crises nas sociedades são excelentes oportunidades para a verdade vir à superfície respirar. À medida que a crise vai aprofundando, os governos, entidades públicas e privadas, partidos políticos, movimentos sociais, cidadãos, vão perdendo espaço para o oportunismo, demagogia e meias verdades. Mais ninguém consegue manter-se confortável em cima do muro e todos começam a revelar, sem máscaras, o que realmente pensam e defendem.
Em termos mundiais, observamos uma crise financeira ultrajante onde os seus arquitetos acabam premiados e uma crise econômica estrutural com tendências deflacionárias e forte contração no consumo, com os países a não crescerem a taxas exponenciais como outrora, há exceção da China e da Índia onde o trabalho escravo ainda é uma triste realidade. Mas isso será difícil de manter por muito tempo e esses países acabarão por ter de corrigir a rota. Mas não serão só eles que terão de fazê-lo, basta para isso lembrar que cerca de 40% do que é produzido no mundo no setor alimentar não é consumido, sendo completamente desperdiçado. Outros exemplos desse modelo esquizofrênico existem por toda a indústria e não só, pois o setor de serviços também ele começa a se apresenta abstruso e conflituoso com o cidadão.
O Brasil soma a essas crises outras. Principalmente uma crise política que se espera seja ultrapassada de forma que permita ao país seguir em frente e não perder mais tempo, nem mais gerações. Avançar no sentido de conseguir executar políticas concretas que proporcionem efetiva melhoria de vida a todos os seus cidadãos, num contexto de independência e soberania nacional. E a crise sociocultural também não descola da política. Os problemas que afetam o dia a dia do cidadão comum são aqueles que levaram as pessoas à rua em 2013. Não são outros.
Tudo aquilo que foi reivindicado nessa altura encontra-se ainda por fazer. Felizmente a corrupção está sendo fortemente combatida e uma elite política e empresarial acusada e condenada. A crise está também apropriada na classe política. Todos os dias ouvimos ilustres eleitos vereadores, deputados, senadores, com a boca cheia de nada. Penso ser já senso comum que o Congresso Nacional precisa parar de surfar nas crises e Governo precisa pegar no país. A crise também é local e individual. A responsabilidade dos governos nos estados é enorme na resolução dos problemas que mais penalizam as populações, mas a crise entra em casa do cidadão sem ser convidada e com ela um desânimo promotor de uma atitude de descriminação defensiva. Essa falta de esperança perigosamente faz renascer mitos raciais que facilitam o recrutamento de agressões aos direitos.
Não podemos esquecer nem desvalorizar duas outras crises, a da Educação e da Comunicação Social. O conhecimento e a informação fazem as pessoas fortes e proprietárias dos seus direitos o que muito incomoda poderosos interesses corporativos ainda com grandes dificuldades em conviver com a critica e a transparência dos seus reais objetivos.
Olhando para além das fronteiras do Brasil, vislumbramos muitas crises e uma tensão mundial, longe de estar resolvida. As injustiças, as guerras por acumulação de riqueza, a falta de igualdade na diferença, o consumismo materialista em detrimento de uma prosperidade embasada pelo acesso a condições de bem estar social, num planeta incomodado e cheio de coceira, tudo isso e muito mais faz hoje de nós o HomoSapiens. Já fomos homens de Neandertal nas cavernas. Para quando o próximo novo homem?
Rui Perdigão –Administrador, consultor e presidente da Associação Cultural de Portugueses de Mato Grosso
alexandre
Terça-Feira, 08 de Setembro de 2015, 12h04s?rgio
Terça-Feira, 08 de Setembro de 2015, 09h43