Opinião Quinta-Feira, 05 de Novembro de 2015, 09h:24 | Atualizado:

Quinta-Feira, 05 de Novembro de 2015, 09h:24 | Atualizado:

Roberto Boaventura

Tiros nas universidades

 

Roberto Boaventura

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Das várias formas de violência, a física é a que primeiro vem à nossa memória quando ouvimos a palavra “tiro”, que pode nos remeter a revólver, assalto, morte... É possível que o título deste artigo traga, de imediato, tais imagens à mente de muitos leitores. 

Todavia, hoje, não tratarei desse tipo de tiro, tão comum em nossa sociedade. Ainda que a maioria dos espaços físicos das universidades seja violenta, tratarei de três tiros advindos do campo simbólico – mas nem por isso menos concretos – desferidos contra nossas universidades federais; por consequência, contra os segmentos populares da sociedade. 

Os tiros mais cruéis vêm de uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC), de um Projeto de Lei Complementar (PLC) e de um Projeto de Lei (PL), sem falar de inúmeras Medidas Provisórias (MP). Esse arcabouço jurídico pretende acertar o coração do caráter público das universidades. A sociedade precisa reagir. 

Por conta do espaço, exporei resumidamente a súmula de cada um dos três “tiros” aos quais estou me referindo; na sequência, opinarei, de forma sucinta, sobre tais súmulas. 

Começo pela PEC 395/14, que estabelece cobrança de taxas nos cursos de mestrados profissionalizantes. 

Essa cobrança, ora circunscrita aos mestrados, caso seja aprovada pela Câmara Federal, será a porta de entrada a outras cobranças de taxas num futuro próximo, incluindo cursos de graduação. 

Como todos sabem, as universidades vêm sofrendo um processo de cortes orçamentários “nunca antes vistos na história...”. O último, perto de 12 bilhões/reais, foi anunciado – em 14/09 – no bojo de outros tantos. 

Nas universidades, com o iminente estrangulamento financeiro, caso a PEC 395 seja aprovada, a tendência será a oferta apenas de mestrados profissionalizantes. Tais mestrados terão como se auto sustentar. Os cursos que dependerem de recursos federais estarão com dias contados. Os maiores prejuízos recairão sobre programas ligados às licenciaturas. 

Aliás, isso já ocorre na oferta de cursos de especialização e algumas modalidades de extensão. Como nessas modalidades a prática da cobrança de taxas já é realidade, raros são os cursos ofertados gratuitamente. A perda social desse espaço público é imensa, e ela não pode avançar. 

E o que reza o PLC 77/15? 

Que empresas privadas financiem produções científicas e tecnológicas nas federais. 

Como em sociedades capitalistas não se oferece sequer um jantar grátis, empresas definirão e cobrarão os rumos de nossas pesquisas. Com isso, a produção científica – que deveria existir para melhorar as condições sociais de nossa população – vai para o espaço do privado. 

E do que trata o PL 4643/12? 

De “endowment fund” (fundos patrimoniais); ou seja, pessoas físicas e jurídicas poderão fazer “doações patrimoniais” às universidades. 

Na mesma linha do PLC acima comentado, as faturas dos generosos “doadores” virão. Essas generosidades encobrem futuros mandatários privados das pesquisas nas universidades. Novamente, é o caráter público sendo detonado por mais um tiro vindo do campo simbólico. 

Frente a esse conjunto de ataques às universidades, o Sindicato Nacional dos Docentes (ANDES-SN) tem exposto seu repúdio, denunciado tudo isso. 

Tal postura dos professores organizados no sindicato é fundamental, mas não é suficiente. É preciso que todos que defendem o caráter público das universidades compreendam a extensão de cada um desses tiros e publicamente se manifestem. 

De minha parte, peço aos parlamentares do âmbito federal que votem contrário a esse conjunto de atrocidades. 

*ROBERTO BOAVENTURA DA SILVA SÁ – doutor em jornalismo/USP; professor de literatura/UFMT 

 





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Comentários (1)

  • Ronei Duarte

    Quinta-Feira, 05 de Novembro de 2015, 13h25
  • Acredito que,os "tiros cruéis" (PEC 395/14,PLC 77/15,PL 4643/12) foram disparados nas emboscadas jurídicas organizadas por "The Carlyle Group e Vinci Partners" dentro do Congresso Nacional brasileiro. Vejamos: "Oct 26 Kroton Educational SA has sold distance learning college Uniasselvi to a group of investment firms for 1.105 billion reais ($285 million), underscoring growing demand for higher education centers in Latin America's largest economy. Under terms of the deal, unveiled in a statement on Monday, the investor group led by Carlyle Group LP, Vinci Partners and BRL Trust Investimentos will pay 400 million reais in cash, and another 450 million reais in five annual inflation-adjusted installments. Up to 255 million reais will be paid based on certain operational targets, the statement said. (Reporting by Guillermo Parra-Bernal and Erick Noin. Editing by Jane Merriman)" "The Carlyle Group (NASDAQ: CG), gestor global de investimentos alternativos, e Vinci Partners, gestora independente de recursos no Brasil, anunciam que fundos geridos pelas duas empresas assinaram na última sexta, 23 de outubro, um contrato de compra e venda de ações da Uniasselvi, empresa controlada pelo grupo Kroton Educacional. Os recursos para o investimento virão dos fundos South America Buyout Fund e Fundo Brasil de Internacionalização de Empresas II FIP (FBIE) do Carlyle, um fundo local que conta com assessoria do Carlyle e do Banco do Brasil. A operação está sujeita ainda às condições de fechamento aplicáveis a este tipo de transação e deve ser concluída nos próximos meses. Não foram divulgadas condições financeiras adicionais. "Estamos muito animados em investir novamente no setor de educação e com a sociedade com o Carlyle. Iremos trabalhar em conjunto visando a criação de um novo grande player dentro do setor" afirma Carlos Eduardo Martins, sócio da Vinci Partners responsável pelo investimento. Ele ainda ressaltou que "o setor de educação superior deverá continuar crescendo nos próximos anos, a penetração no Brasil continua abaixo de outros países com mesmo patamar de desenvolvimento". Fernando Pinto, managing director responsável pela transação no Carlyle comentou: "A Uniasselvi é o primeiro investimento do Carlyle no setor educacional no Brasil. A companhia alcançou uma posição de liderança em virtude da sua clara proposta de valor para alunos que buscam avançar a sua educação aliado à flexibilidade e conveniência de preço". Para o executivo, "é um ativo estratégico com importantes vantagens competitivas". Fernando Borges, co-head do Carlyle no Brasil, explica que a aquisição faz parte da estratégia de crescimento do Carlyle no Brasil. "Buscamos companhias com capacidade de oferecer serviços que continuam essenciais para o brasileiro". "Passamos diversos anos analisando oportunidades no setor de educação e achamos esse um bom momento para investir no setor que continua com boas perspectivas de crescimento. A parceria com Vinci é ponto positivo adicional do investimento".SOBRE THE CARLYLE GROUP The Carlyle Group (NASDAQ: CG) é um gestor global de fundos alternativos, com US$ 193 bilhões de ativos sob administração em 128 fundos ativos e 159 fundos de fundos, posição em 30 de junho de 2015. O propósito do Carlyle é investir sabiamente e criar valor em nome de seus investidores, muitos dos quais são fundos de pensão. O Carlyle investe em quatro segmentos - Private Equity Corporativo, Ativos Imobiliários, Estratégias Globais de Mercado e Soluções de Investimentos - na África, Ásia, Austrália, Europa, Oriente Médio, América do Norte e América do Sul. O Carlyle desenvolveu expertise em vários setores, incluindo aeroespacial, defesa e serviços governamentais, consumo e varejo, energia, serviços financeiros, saúde, indústria, imobiliário, tecnologia e serviços de negócios, telecomunicações e mídia e transportes. The Carlyle Group emprega mais de 1.700 pessoas em 35 escritórios ao redor de seis continentes. SOBRE VINCI PARTNERS A Vinci Partners é uma plataforma de investimentos alternativos, especializada em gestão de recursos, de patrimônio e em assessoria financeira, com um modelo independente e único no Brasil. Foi fundada em outubro de 2009 por um grupo de gestores com ampla experiência no mercado financeiro, oriundos da Gestora de Investimentos Alternativos do UBS Pactual Capital Partners, que foi criada em 2001 para gerir os investimentos dos sócios do Banco Pactual. Atualmente a Vinci administra R$19 bilhões em fundos de private equity, real estate, equities e crédito. Se as empresas nas quais a Vinci detém participação acionária, por meio de seus fundos de private equity, representassem um único grupo empresarial, este responderia por uma receita bruta total de R$ 15 bilhões ao ano, gerando mais de 30 mil empregos diretos." Fonte:http://www.maxpressnet.com.br e http://www.reuters.com/
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