Na campanha de 2018, Jair Bolsonaro, então no PSL, dizia que os dirigentes do Centrão eram "a alta nata de tudo o que não presta no Brasil". Como o “peixe morre pela boca”, hoje, 01/02/21, vemos Bolsonaro abraçado ao Centrão, para se salvar de um possível impeachemt e, buscar a reeleição. Distribui generosas emendas parlamentares (R$ 3 bilhões a 250 deputados e 35 senadores usarem em emendas para obras nos seus estados), promete recriar ministérios (03); e entregar outros a indicados do Centrão. Ou seja, agora são aliados e “homens de bem”.
Uma possível vitória de seu candidato- Lyra na Câmara e Rodrigo Pacheco no Senado, o Congresso, como alertam líderes expressivos, vai virar um “puxadinho” do Executivo. E, o que é pior, aduzem, via livre para a implantação de uma pauta retrógrada de costumes, violência estatal (impunidade para a ação policial), com a famosa excludente de ilicitude (“liberdade para matar”), e o temor, não só de políticos, de um retrocesso institucional, afinal, diz o Presidente, as forças armadas dão a palavra final na vigência ou não do sistema democrático, o “poder moderador” do Império ou, o “Estado de Defesa”, do PGR- Augusto Aras, a cada dia mais afinado com o presidente (afinal, teremos uma segunda vaga para o STF, em julho, prometida pelo chefe a ele, por bom comportamento) que, como sempre, na primeira, há abandonou o compromisso feito com o eleitorado evangélico, e não custa nada, mais uma “traição”; aliás, a palavra e comportamento da moda.
A eleição tem um peso grande não só porque cabe ao presidente da Câmara definir as pautas de votação, e também porque ele decide, sozinho, se autoriza ou não a abertura do processo de impeachment o presidente da República. E, a cereja do bolo: é o terceiro na lista de sucessão do presidente. Maia, atual presidente, já engavetou 62 pedidos de impeachment.
Agora, com a debandada (“traição”) de seus comandados para o barco oficial das benesses, ameaça acatar uma delas, no apagar das luzes do seu mandado no cargo. Vai mudar? Não creio, embora tenha ameaçado fazê-lo. Não há povo na rua, um apoio necessário, e o Congresso está satisfeito com o “toma lá, da cá” do presidente, que o negara na campanha e agora mergulhou de cabeça nessa praia salvadora. Disse ainda Maia, "Houve e há uma chance de ruptura institucional. A eleição da Câmara é um divisor de águas nesse assunto. Acho que o presidente da Câmara precisa ser alguém que não seja dependente do governo e que não deva sua eleição ao presidente da República. Com isso, o presidente [Jair Bolsonaro] se sentirá forte o suficiente para ampliar o conflito com as instituições democráticas, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal", (G1).
É de se lembrar que, no ano passado, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) afirmou que não era questão de "se", mas de "quando" haveria a ruptura, quando bolsonaristas fantasiados ao estilo de grupos supremacistas soltaram fogos de artifício em direção ao STF e o próprio presidente insuflou uma manifestação golpista em frente ao QG do Exército.
É chegado esse momento? Infelizmente, a eleição de hoje não tem a participação do povo, mas, somente de “seus” representantes, que, como sabemos, desde o Brasil Colônia, só cuidam de seus interesses paroquiais e patrimoniais. O povo? Daqui a dois anos, será paparicado, abraçado e acreditará em novas promessas. Como sempre, também. Festas, churrascos, conchavos, estão a pleno vapor. Um dos favoritos na disputa, o deputado Arthur Lira (PP-AL), líder do Centrão e apoiado pelo Palácio do Planalto, foi convidado a passar a tarde de sol e calor deste domingo em um churrasco, no Lago Sul, área nobre da capital federal.
A festa é organizada pelo PL, partido comandado por Valdemar da Costa Neto (ex-Mensalão, hoje perdoado), e deve servir também para aparar as últimas arestas da campanha, pois os votos de seus deputados podem ser decisivos na disputa. É o Brasil, sem medo de mostrar a sua cara; o povo e eles- parlamentares, tem a memória curta. Entre os senadores, também houve um "esquenta" antes da eleição.
O líder do PDT, Weverton Rocha (MA), convidou aliados para um churrasco com a presença de Rodrigo Pacheco (DEM-MG), candidato à presidência da Casa apoiado pelo atual chefe do Legislativo, Davi Alcolumbre (DEM-AP)- “futuro ministro?, e pelo presidente Jair Bolsonaro. Quem se preocupa com corrupção, nessa época de pandemia?. É melhor um “prato de lentilhas” (Esaú) do que liberdade, ética e outras quimeras. Ao que tudo indica, o presidente Bosonaro, hoje, caso consiga fazer seus candidatos nas eleições do Congresso – Arthur Lira (PP-AL) na Câmara e Rodrigo Pacheco (DEM -MG) no Senado – e redimir-se como cabo eleitoral do fiasco da eleições municipais, vai virar o jogo.
Ou seja, o presidente conseguiu convencer até rivais a convergirem na mesma direção, com reuniões no Palácio da Alvorada e no Palácio do Planalto, ou por meio de ligações telefônicas, e verbas e cargos, estes, ingredientes essenciais ao “convencimento” dos indecisos.
“Temas de interesse de Bolsonaro poderão ter maiores possibilidades de serem debatidos e aprovados caso Lira vença. Na hipótese de vitória dos aliados do governo federal, as reformas serão, em tese, agilizadas, o que garantiria um alicerce para a retomada do desenvolvimento econômico”, observou Vera Chemim, constitucionalista e mestre em direito público administrativo pela Fundação Getulio Vargas (FGV).
Já na avaliação do cientista político da Universidade Presbiteriana Mackenzie Rodrigo Prado, o elemento fundamental da disputa é a alavancagem das pautas ideológicas. “É muito mais trazer à tona a pauta dos costumes do que a discussão de um consenso em torno das reformas que o país necessita. Para ele, é mais importante porque mantém sua base fiel coesa e ativa. É a zona de conforto, que dá a ele os 30% de apoio que tem até o momento”. As cartas estão na mesa. Sem dúvida, embora com o povo ausente desse espetáculo, as consequências nos impactarão fortemente. Para o bem ou para o mal. Para a liberdade, a democracia, a liberdade de imprensa e de pensamento, ou suas supressões. É esperar pra ver. E, torcer para que o bom senso vença e o Brasil não venha depois, chorar leite derramado ou vidraças quebradas, sem retorno.
(*) Auremácio Carvalho é Advogado.