A economia de Mato Grosso não é só o agronegócio por si. É o motor da maioria da produção de riqueza estadual, sim. Mas, necessita de suporte, a exemplo da infraestrutura e logística, do modo como tenho debatido e defendido. Quero chamar a atenção esta semana sobre outro viés da temática em voga: a Zona de Processamento de Exportação (ZPE), localizada no município de Cáceres. Entretanto, ela, sozinha, não tem o poder de dinamizar negócios se não for complementada com a Hidrovia Paraguai-Paraná.
O caminho das águas é parte histórica do movimento econômico na cultura ocidental e oriental. Pois, o que seria o Egito sem o Nilo? A porção amazônica da América do Sul sem o Amazonas? O rio Paraguai sempre foi esse caminho natural de integração econômica do continente, com a Hidrovia Paraguai-Paraná, a qual envolve os cinco países da Bacia do Rio da Prata: Bolívia, Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina. Seu trajeto é de Cáceres (MT) a Nueva Palmira no Uruguai, correspondente ao total de 3.442 Km, conforme dado do DNIT.
Voltemos à estrutura em terra, a ZPE. Esses instrumentos de política econômica e atração de investimentos são recintos alfandegários com redução de impostos para beneficiar produtos para o mercado externo, como o nome propõe. Porém, como todo projeto econômico de grande monta no Brasil, a de Cáceres está emperrada há 3 décadas, quando foi criado, resultado do descaso, da falta de gestão e de sensibilidade dos governantes de Mato Grosso. A ZPE tem autorização para funcionar desde 1990, no governo do ex-presidente José Sarney, por meio do Decreto n.º 99.043, 6/3/1990. A ZPE está inserida na politica nacional de desenvolvimento regional.
E de prático, a infraestrutura precisa ter um espaço físico, com escritório para empresas despacharem mercadorias, agente aduaneiro para fiscalização e controle administrativo e sanitário (recursos humanos da Receita Federal e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA), estrutura de comércio exterior e armazéns. Atualmente, já há uma área de 240 hectares para o local, próximo à entrada de Cáceres, junto à BR-070.
Para mostrar alguns ganhos da ZPE, um exemplo é a redução de impostos para transporte convencional de insumos de Buenos Aires (Argentina) até Mato Grosso. Sem a ZPE, via Porto de Santos, e transporte por meio rodoviário, a carga tributária é de 36% por cento para empresas transportadoras. Já via a ZPE funcionando, combinado com a hidrovia, a tributação é de 6% por cento. Além desse custo fixo, as empresas da indústria de comércio exterior também atrairão, com a ZPE em ação, outras empresas fornecedoras e prestadores de serviços (distritos industriais incentivados). Ou seja, promoverão o dinamismo e a diversificação das atividades econômicas.
Em 2008, o parlamento estadual aprovou a Lei n.º 8.996, de 20 de outubro daquele ano, estabelecendo tratamento tributário diferenciado às operações que destinarem bens, mercadorias e serviços às empresas instaladas na ZPE, com isenção de até 20 (vinte) anos da incidência do “Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação – ICMS”. Entretanto, encerrou o governo Blairo Maggi, entrou seu sucessor Silval Barbosa, que também deixou o governo, assumindo o então Pedro Taques, e a ZPE nada de ficar pronta, não se consolidou.
E mais uma questão. Além da autorização para funcionar, a ZPE de Cáceres já dispõe de uma administradora da infraestrutura (AZPEC), cuja licença ambiental e pré-alfandegamento também já estão autorizados. Apenas a obra física do prédio e as instalações precisam ser, definitivamente, concluídas para contemplarem mais de 230 (duzentas e trinta) indústrias no município de Cáceres/MT.
Portanto, é urgente a efetiva, real e eficiente construção da infraestrutura por meio de projeto integrado de gestão no sentido de se obter a autorização de funcionamento da Hidrovia Paraguai-Paraná. Porque recentemente, na gestão do Estado 2015-2018, a empresa Engeglobal, a mesma responsável pelo Aeroporto Internacional Marechal Rondon, foi incapaz de concluir a obra física da ZPE. Em outras palavras: falta gestão política-administrativa dos representantes do povo, há ausência de visão empreendedora dos governantes, como também é preciso eleger prioridades para promover o idealizado, há décadas, desenvolvimento industrial-econômico de Mato Grosso.
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*Welyda Cristina de Carvalho é advogada, pós-graduada em Direito Processual Civil pela FESMP/MT, fez intercâmbio em Sunshine Coast, na Austrália e atua no Direito do agronegócio. Endereço eletrônico: [email protected] / Instagram: @welydacarvalho.
Welyda Carvalho
Segunda-Feira, 15 de Abril de 2019, 16h35Lucio Oliveira
Segunda-Feira, 15 de Abril de 2019, 11h59