Dois dias após passar pela mais traumática experiência da vida, a enfermeira Rosimeire Sousa da Silva, 51 anos, de Cuiabá, resolveu falar sobre o tiroteio na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Morada do Ouro, no qual foi atingida na perna por um tiro de revólver calibre 38. O tiroteio, que feriu cinco pessoas, foi provocado por quadrilha que invadiu a unidade para resgatar um preso, que receberia atendimento médico no local. A bala está alojada na perna dela, assim como três estilhaços. Já em casa, após receber alta hospitalar, ainda não sabe se voltará a ser internada para passar por intervenção cirúrgica. Teme perder a perna que ontem estava muito vermelha e inchada.
“Estou sentindo muita dor”, lamenta ela.
Além da dor e da preocupação com o tratamento, outra coisa que aterroriza Rosimeire é a possibilidade de voltar a ser alvo dos bandidos. Tanto é que prefere ficar, neste momento, com o rosto anônimo e licenciada por mais tempo.
“Estou muito assustada com tudo. Ainda ouço tiros nos meus ouvidos e fico me imaginando com uma enxada na mão”, detalha, expondo o estado emocional de quem acaba de passar por um trauma. “Estou com terror na minha cabeça”.
Há quatro anos e seis meses Rosimeire é servidora na UPA Morada do Ouro. Naquele plantão, tinha acabado de fazer a classificação do preso José Edmilson Bezerra Filho, que reclamava de dores nas costas e dificuldade de respirar. Tudo, provavelmente, parte de um plano de resgate.
“Ele já estava sendo encaminhado ao médico, porque é sempre assim, quando chega preso a gente empurra logo para dentro, porque em hipó- tese nenhuma pode ficar esperando na recepção, entre pacientes. A gente ouve até xingos das pessoas, falando que preso, no Brasil, tem muitos direitos, mas é medida de segurança, temos protocolo a seguir”, explica.
Quanto ao perigo real de atender presos em unidades de saúde, ela diz que já sabia que era arriscado. “Só não imaginava que fosse tanto e que um dia chegaria a este ponto”.
Rosimeire é casada, tem três filhos também já casados. Ela conta que a família ficou muito apreensiva com as primeiras notícias sobre a ocorrência.
“Fui transferida rapidamente da UPA para o Pronto-Socorro de Cuiabá, só que inconsciente. Na hora em que fui atingida, nem vi que o bandido pegou uma paciente de refém, colocou arma na cabeça dela e começou a atirar. Me contaram isso depois, porque eu mesma apenas escutei o barulho dos disparos e caí atingida por uma bala. Depois disso, não lembro de mais nada”.
A enfermeira ressalta que, na UPA, plantonistas não tinham condições de atender as vítimas mais graves, porque muita gente começou a passar mal ao mesmo tempo, com pressão alta, ameaçando desmaiar e sentindo mal estar. O Samu encaminhou os baleados ao PS. No caso de Rosimeire, após os primeiros atendimentos, foi transferida para o Hospital São Mateus, por ter plano de saúde.
“Só Deus mesmo para permitir que eu esteja viva, perto da minha família”, agradece.
Boletim médico das vítimas
Das cinco vítimas atingidas no tiroteio na UPA da Morada do Ouro, na terça-feira (13), a paciente Dayana da Silva Romão, 33, baleada no tórax, ainda corre risco de morte. Ela está internada na UTI do Pronto-Socorro Municipal de Cuiabá (PSMC). No entanto, o último boletim médico das vítimas indica que vem se recuperando bem da cirurgia, pela qual passou na madrugada da quarta-feira (14), horas após ser atingida. Ela foi levada ao centro cirúrgico às pressas porque piorou.
Já o bebê Vitor Hugo Martins, de 6 meses, que também está na UTI do PS, na ala infantil, acordou na quinta-feira e desde então já está se alimentando. A previsão é a de que tenha alta da UTI neste sábado (17). Ele tem uma bala alojada nas costas.
Outros três baleados - a mãe do bebê, Estefani de Camargos Santos, 21, atingida de raspão no braço, a enfermeira Rosimeire e o agente prisional Dirley de Pinho Pedro, 34, ambos alvejados na perna - tiveram alta.
O caso da enfermeira e o agente prisional são parecidos à medida que vão ter de esperar um pouco, passar por nova avaliação médica e só então saberão se vão operar ou não.
“Passou por ortopedistas e felizmente não teve nenhum trauma ósseo, mas agora está em observação pela equipe vascular”, relata a secretária municipal de Saúde, Elizeth Araújo, sobre Dirley.
Quanto à enfermeira, quando ela deu entrada no PS de Cuiabá a equipe médica fez avaliação inicial e, em seguida, ela foi transferida para o São Mateus, onde plantonistas deram o mesmo diagnóstico. “Fiquei em observação e agora é esperar para ver como minha perna vai reagir”, explica a vítima.
Ela está tomando antibiótico e analgésico, para aliviar a dor. Quanto ao estado emocional, vem tomando chás caseiros, mas espera que a Prefeitura de Cuiabá garanta tratamento psicológico com terapia.
Ela conta que na UPA, onde aconteceu o tiroteio, eventualmente o clima fica tenso, por causa de pacientes querendo ser atendidos. "Mas nada parecido com este tiroteio".
Maria
Sexta-Feira, 16 de Fevereiro de 2018, 15h07Carol Silva
Sexta-Feira, 16 de Fevereiro de 2018, 14h46tom cpa
Sexta-Feira, 16 de Fevereiro de 2018, 13h08