As investigações que resultaram na prisão do delegado Geordan Antunes Fontenelle Rodrigues e do investigador da Polícia Judiciária Civil (PJC), Marcos Paulo Angeli, apontaram que a dupla oferecia clientes a advogados e cobrava "diária" para manter presos em um alojamento exclusivo para policiais. Também foi revelada a suposta ligação com um policial federal que encaminhou um alvo de uma operação para a delegacia de Peixoto de Azevedo, onde os dois eram lotados.
As investigações apontam que o delegado Geordan Antunes Fontenelle Rodrigues teria se encontrado com a advogada A.K e teria oferecido um possível cliente. O suspeito havia sido detido durante a deflagração da segunda fase da Operação Hermes, em novembro de 2023.
A investigação da PF apura a atuação de uma organização criminosa no comércio e uso ilegal de mercúrio. Uma escuta ambiental implantada após autorização judicial no gabinete do delegado flagrou que, no dia 8 de novembro de 2023, ele entrou em contato com a advogada A.K para avisar que a Polícia Federal estaria encaminhando um homem, que foi detido na operação, para a delegacia.
A jurista, que é citada nas investigações, mas não foi alvo da operação, agradeceu e afirmou que iria até o local, já que precisava resolver uma situação envolvendo outro cliente que estava na unidade. O detido era Ailson de Souza, ex-sócio da Cooperativa dos Garimpeiros de Peixoto (Coogavepe) e proprietário da empresa Brabinho Ouro, baixada desde junho de 2021.
As investigações indicam ainda que ele ainda era sócio da Lyon Trator Peças, no Pará, que tinha como sócia a tia de um servidor que atuava na delegacia. A decisão detalha que o delegado relatou ao agente da Polícia Judiciária Civil (PJC), Marcos Paulo Angeli, e ao advogado Gefferson Cavalcanti Paixão, ter cobrado uma espécie de "diária" para manter o empresário Antônio Jorge Silva Oliveira, conhecido como Jorge Santarém, em um alojamento exclusivo para policiais plantonistas na delegacia.
Em determinado ponto do diálogo entre delegado e agente, há até uma ironia pelo valor cobrado de propina. Ao final, os dois comemoram.
Geordan: Conversei com Gefferson, ficou R$ 10 mil a diária.
Marcos: Ham?
Geordan: R$ 10 mil a diária.
Marcos: Sério? (Espanto). Estava pensando em dois. É Não. Ave Maria.
Geordan: Dez milzinho pra resolver.
O suspeito era um dos alvos de mandados de busca e apreensão, na segunda fase da Operação Hermes, mas foi flagrado com uma arma de fogo e acabou sendo preso por porte ilegal. De acordo com os relatos, a prática parecia ser comum entre o Marcos Paulo Angeli e o delegado Geordan Antunes Fontenelle Rodrigues.
PROTEÇÃO A GARIMPEIROS
Na ocasião, eles teriam cobrado R$ 10 mil do empresário. As investigações apontaram ainda que o delegado Geordan teria um “contato” na Polícia Federal de Sinop, com o qual poderia fazer uma ‘ponte’ para futuras operações e, assim, favorecer garimpeiros aliados.
O agente seria R.G.O, que teria inclusive sido o responsável pelo transporte de Antônio Jorge Silva Oliveira, suspeito que teve que pagar os R$ 10 mil de diária. "Destaque-se que Geordan alega possuir contato na Polícia Federal de Sinop, o qual poderia fazer ponte com ele para futuras operações com o provável objetivo de favorecer garimpeiros aliados. Em continuidade a sua prática delitiva: pede pra o advogado fazer o Tim Tim. Esse termo é utilizado pelo delegado em outras conversas com o advogado Paixão se referindo a um determinado valor exigido como propina e que também é chamado por eles como Saúde, em referência ao ato de comemorar por com um brinde", diz a decisão obtida pelo FOLHAMAX.
O delegado e o investigador da PJC foram alvos da Operação Diaphthora, deflagrada nesta quarta-feira (17), com o objetivo de desmantelar um esquema de corrupção envolvendo, além dos dois agentes, garimpeiros e advogados. Na ação, foram cumpridas 12 determinações judiciais, sendo as duas prisões, além de sete mandados de busca e apreensão e três medidas cautelares.
Geordan Fontenelle foi nomeado no dia 16 de novembro de 2021 como delegado substituto. O estágio probatório dele terminaria apenas em novembro deste ano, após 36 meses conforme a Emenda Constitucional 19/1998, da lei 8.112/1990, a respeito do prazo de estágio probatório.
Como delegado da Polícia Civil de Mato Grosso, ele recebia o sálario de R$ 35,4 mil. Já o investigador Marcos Paulo Angeli está na PC desde 2002 e possui uma remuneração de R$ 25 mil.
Informações extraoficiais dão conta de que ele também já possui processo anterior por suposto caso de corrupção. Os servidores são apontados nas investigações como mentores e articuladores, aliados a um advogado e garimpeiros locais.
Marcos
Quarta-Feira, 17 de Abril de 2024, 16h57MARIA AUXILIADORA
Quarta-Feira, 17 de Abril de 2024, 16h57