PF quebra Icloud de vereador; acha 6 cartões e suspeita de "fantasmas"

 

O relatório da Polícia Federal que culminou na deflagração da Operação Ragnatela, na última quarta-feira (6), aponta que o vereador Paulo Henrique (PV) teria utilizado a conta bancária do sindicato ao qual preside para fazer transações pessoais, como a compra de uma bolsa de luxo. Os investigadores também estranharam a existência de vários cartões de crédito e débito na galeria de fotos do celular do parlamentar, acreditando serem indícios de contratação de servidores fantasmas para seu gabinete na Câmara Municipal de Cuiabá.

A Força Integrada de Combate ao Crime Organizado de Mato Grosso (FICCO-MT) deflagrou a Operação Ragnatela para cumprir mandados de prisão preventiva, busca e apreensão, sequestro de bens, bloqueio de contas bancárias e afastamento de cargos públicos, para desarticular um núcleo de facção criminosa responsável pela lavagem de dinheiro em casas noturnas. A investigação da Ficco-MT identificou que criminosos teriam adquirido a casa noturna Dallas, em Cuiabá, pelo valor de R$ 800 mil, pagos em espécie, com o lucro auferido por meio de atividades ilícitas.

A partir de então, o grupo passou a realizar shows de MCs nacionalmente conhecidos, custeados pela facção criminosa em conjunto com um grupo de promotores de eventos. Os investigadores interceptaram informações contidas na conta do iCloud do vereador, referentes ao período entre 2020 a 2023.

De acordo com os agentes, a análise dos dados disponíveis foi realizada com a finalidade de identificar padrões, conexões e atividades que possam estar ligadas aos crimes sob investigação. A análise dos arquivos evidenciou a existência de várias imagens de cartões de crédito, num total de seis tarjetas, todos eles em nome de terceiros.

Os investigadores apontaram que as fotos chamam a atenção pela circunstância incomum de sua presença na conta do vereador. Os agentes, no entanto, apontaram que pelo fato de terem sido feitas em 2020, no auge da pandemia, pode representar uma relevância particular para o contexto e não se pode afirmar com certeza qual era o propósito do fiscal em manter as imagens, mas foi apontada a possibilidade de serem funcionários fantasmas.

“Inicialmente, verificou-se diversas imagens de cartões de crédito/débito em nome de terceiros na galeria de fotos de Paulo Henrique. Tal conduta pode ser indício da prática de contratação de funcionários “fantasmas” para trabalharem na Câmara Municipal de Cuiabá”, aponta trecho do relatório.

BOLSA DE LUXO

Foi identificado pelos agentes uma compra, realizada em fevereiro de 2023, de uma bolsa de luxo, pelo parlamentar. Para a aquisição, Paulo Henrique teria utilizado a conta bancária do Sindicato dos Agentes de Regulação e Fiscalização do Município de Cuiabá (Sindarf).

Segundo os investigadores, a manobra seria para disfarçar as transações, sem que pudesse colocar o parlamentar como responsável pelas mesmas. “Através da análise do relatório bancário de presidente sindical, identificou-se uma transação preocupante que apontam para o possível uso indevido de fundos pertencentes ao sindicato. Notavelmente, em 28 de fevereiro de 2023, foi registrada uma compra de alto valor, R$ 5.900,00, aparentemente destinada à aquisição de um item de luxo, possivelmente uma bolsa, da empresa Troca de Luxo. A compra, efetuada com recursos do Sindarf, sugere que o presidente sindical pode estar utilizando o patrimônio da entidade para benefício pessoal, o que é considerado uma prática inadequada e potencialmente ilegal indo ao encontro das informações levantadas no relatório bancário”, diz trecho da investigação.

Também foi destacada pelos investigadores a existência de várias informações que fazem referência a José Márcio Ambrósio Vieira e ao Jeep Compass do parlamentar, que foi apreendido durante a deflagração da operação. Ele é tio da atual esposa do vereador e é suspeito de ser o principal ‘laranja’ do parlamentar.

O veículo utilizado por Paulo Henrique está registrado em nome de terceiros, embora todas as despesas sejam arcadas por ele. “Entre as mídias recuperadas, incluem-se fotos de um cartão de crédito em nome de José Márcio e registros de pagamento de faturas realizadas por Paulo Henrique. Isso sugere que o investigado pode estar utilizando meios de pagamento de terceiros, o que poderia explicar os pagamentos de diversos boletos de grande valor identificados na análise bancária. Também foram encontradas imagens de um boleto de cartão de crédito em nome de Maria Edinalva Ambrosio Vieira, irmã de José Marcio e proprietária formal do veículo utilizado pelo vereador”, aponta o relatório.