A Polícia Civil concluiu o inquérito sobre a morte do servidor público aposentado, Nicomedes Francisco Pinto Lopes, 69 anos, e indiciou seis dos envolvidos por extorsão mediante sequestro qualificado pelo resultado morte da vítima, crime cuja pena mínima prevista na legislação é de 24 anos e máxima é de 30 anos. O inquérito foi encaminhado à Justiça nesta quarta-feira (28.07) pela Delegacia Especializada de Roubos e Furtos de Cuiabá (Derf) e nele também foi indiciado um casal que responderá por receptação dolosa.
De acordo com o delegado Guilherme de Carvalho Bertoli, o entendimento de que os indiciados cometeram o crime de extorsão mediante sequestro, cujo resultado foi a morte do aposentado, é corroborado, entre outros elementos de prova angariados na investigação, pela perícia que indicou que a vítima apresentava indícios de que estava morta entre 48 a 72 horas e ficou mais de um dia em cárcere e sendo extorquida pelos criminosos. “A vítima foi sequestrada pelos criminosos, permanecendo tempo considerável em poder dos autores do crime brutal, visto que, entre a data do sequestro, em 21 de março, e quando o corpo foi localizado, no dia 25 de março, o laudo de necropsia descreve que o corpo apresentava enfisematosa de decomposição caracterizando entre 48 a 72 horas de morte. Ou seja, a vítima permaneceu viva, sequestrada, sendo exigido dela comportamento imprescindível na extorsão mediante sequestro, qual seja, o fornecimento de senhas para transações bancárias, sem o qual não teria ocorrido a obtenção da vantagem indevida”, explica o delegado no relatório encaminhado à Justiça.
Os dois indiciados por receptação dolosa são os proprietários das máquinas de cartões pelas quais foram realizadas as transações para recebimento dos valores extorquidos da vítima. Os outros seis criminosos indiciados, ligados diretamente ao sequestro, extorsão e morte do aposentado tiveramas prisões decretadas pela 6a Vara Criminal de Cuiabá, durante a Operação Omertá, realizada pela Derf em junho deste ano.
Quatro deles permanecem presos preventivamente, um está foragido e a mulher foi liberada mediante medida cautelar, por ter filho menor de idade. O aposentado desapareceu no dia 21 de março, da casa onde morava em Chapada dos Guimarães, e seu corpo foi localizado quatro dias depois às margens da rodovia Helder Cândia, em Cuiabá, com marcas de disparos de arma de fogo na cabeça.
A partir da comunicação do desaparecimento do idoso por seus filhos, a Delegacia de Chapada dos Guimarães iniciou a apuração, tratada até então como sequestro e extorsão, quando houve o apoio da Gerência de Combate ao Crime Organizado, que prendeu dois casais por receptação e associação criminosa. A partir da detenção dos dois casais, logo após o corpo de Nicomedes ser encontrado, os policiais civis localizaram um telefone modelo Iphone 8 e uma televisão de 50 polegadas que pertenciam à vítima. Já o outro casal foi identificado pela Polícia Civil como o destinatário das transferências de valores feitas da conta da vítima.
Um dos filhos de Nicomedes procurou a Polícia Civil e informou sobre uma transferência da conta bancária de seu pai, por meio de PIX, no valor R$ 4,9 mil, para a conta de uma mulher. Estranhando a transação, o filho entrou em contato com o pai pelo Whatsapp, porém, a mensagem foi visualizada e não foi respondida. Ele então tentou telefonou para a vítima, mas não conseguiu contato. Desconfiado, o filho foi até a casa do pai e ao chegar viu que a residência estava trancada e o cachorro amarrado, o que não era costume. O veículo da vítima, um modelo Jeep Renegade, também não estava na casa e foi encontrada uma escada encostada ao muro, onde havia pegadas de botas.
No dia 22 de março, a Polícia Civil identificou que os criminosos fizeram compras com os cartões da vítima, algumas em valores altos totalizando R$ 8 mil em duas transações e outras compras menores realizadas em cartão de débito. Durante a investigação, a Delegacia de Chapada dos Guimarães solicitou apoio da GCCO por haver a suspeita de um possível sequestro. A partir da localização do corpo, a investigação tomou outro viés e a equipe policial conseguiu reunir informações que levaram à identificação dos envolvidos, cujos mandados de prisão foram representados à Justiça.
A Polícia Civil apurou que durante a execução do crime, um dos criminosos citou seu nome a um comparsa e, por conhecer a vítima, ele ficou com medo de ser reconhecido, quando então decidiram praticar o homicídio para ocultar e garantir desta forma, a impunidade pelo roubo cometido, remetendo ao nome da operação, um código de silêncio típico das máfias italianas, em que os criminosos se protegem com voto de silêncio em relação aos crimes cometidos. “Esse criminoso era morador de Chapada dos Guimarães e já havia prestado serviço de pedreiro para a vítima e pelo comparsa ter falado seu nome, ele ficou com medo de ser reconhecido pela vítima”, explicou o titular da Derf de Cuiabá.
O delegado detalha ainda que os criminosos tentaram fazer transações de valores mais elevados da conta da vítima, contudo, foram bloqueadas pelo filho que ajudava a gerir a vida financeira do pai, a partir do momento em que foram detectados as primeiras transferências.