Alvo da PC, empresário fez investimentos no EUA e imóveis chiques em Cuiabá

 

O empresário Alessandro do Nascimento, apontado como líder de um suposto esquema de desvio de R$ 28 milhões na Secretaria de Estado de Agricultura Familiar (Seaf), acumulou um patrimônio milionário que inclui imóveis de alto padrão em Cuiabá, empresas em nome de familiares e investimentos no exterior. Segundo a Polícia Civil, ele teria utilizado uma rede de empresas e contratos simulados para lavar dinheiro, inclusive com movimentações financeiras nos Estados Unidos. A

lém disso, teria usado a própria filha, a ‘blogueira’ e publicitária Ana Caroline Ormond. Investigações da Polícia Civil revelam que Alessandro montou uma rede de empresas para esconder a origem dos recursos obtidos a partir de contratos firmados com a Secretaria de Estado de Agricultura Familiar (Seaf), principalmente para fornecimento de kits de ferramentas agrícolas.

Um dos indícios de lavagem de dinheiro seria a contratação de um contador nos Estados Unidos, país onde ele também mantém investimentos no setor imobiliário. O relatório da inteligência financeira mostra que os recursos repassados pela Seaf ao Instituto Pronatur — organização que assinou os termos de fomento — tinham como destino final, de forma recorrente, Alessandro e sua filha, Ana Caroline Ormond.

Entre os bens identificados está um apartamento de quase R$ 3 milhões no edifício Apogeo, localizado no bairro Goiabeiras, em Cuiabá, registrado inicialmente no nome de Ana Caroline. Embora ela tenha declarado renda de R$ 60 mil para financiar parte do imóvel, seu pró-labore oficial na empresa Tubarão – também de seu pai – era de apenas R$ 9.723,78.

Além disso, consta nos autos um holerite de março de 2024 que não se alinha ao período em que ela estava na Disney, nos EUA, realizando intercâmbio de trabalho e estudo. Pagamentos à construtora Plaenge e notas fiscais de móveis planejados no valor de R$ 560 mil também foram encontrados, vinculados a Alessandro e a três empresas ligadas a ele, incluindo a Tupã.

Após o avanço das investigações e a deflagração da operação, em outubro de 2024, Alessandro formalizou um contrato de cessão de direitos do imóvel, passando-o do nome da filha para o próprio, o que levanta suspeitas sobre a simulação do negócio inicial para blindagem patrimonial. O imóvel foi oficialmente transferido para seu nome em 17 de outubro de 2024.

A apuração também encontrou um Termo de Confidencialidade assinado em agosto de 2024 por Alessandro e sua esposa, Herley Cristina Ormond, com a empresa americana Quick Realty (18 Homes LLC), na Flórida. O documento previa multa de US$ 30 mil (cerca de R$ 180 mil) em caso de quebra de sigilo, e fazia referência a investimentos imobiliários no país, reforçando os indícios de movimentação internacional de valores.

As investigações ainda apontam que Tiago White Bueno da Silva pode ter atuado como facilitador na remessa dos valores do Brasil para os Estados Unidos, contribuindo para o suposto esquema de lavagem. Isso ocorreu justamente no período de vigência e ampliação dos contratos entre o Pronatur e a Seaf.

Por fim, a Polícia encontrou anotações manuais que demonstram o planejamento de compra de dois imóveis no empreendimento “Westhaven at Ovation”, em Orlando (EUA). Os valores somavam US$ 1,18 milhão — aproximadamente R$ 7 milhões, considerando a cotação de R$ 6,00 —, com previsão de pagamento de entrada de 5% em cada unidade.

Também foram registrados gastos previstos com mobília e utensílios para esses imóveis, reforçando os indícios do uso de recursos públicos desviados para aquisição de bens no exterior.