O deputado federal Abílio Brunini (PL) está processando por danos morais o doutor em Comunicação e professor Bruno Bernardo Araújo, que é pesquisador da Faculdade de Comunicação e Artes da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Por meio de nota, os professores do Programa de Pós-graduação em Comunicação da instituição manifestaram apoio ao profissional e apontaram “perseguição judicial” do bolsonarista.

A ação tramita no 3º Juizado Especial Cível de Cuiabá e já teve uma audiência de conciliação no dia 29 de novembro, mas o teor do que foi decidido na reunião ainda não foi divulgado por nenhuma das partes envolvidas no processo. Araújo, que é cientista político, deu entrevista a um site de notícias em agosto de 2023 na qualidade de pesquisador especialista nos estudos de mídia e populismo a pedido do veículo de comunicação e analisou suposto significado de um gesto realizado pelo deputado durante a CPI sobre os Atos Antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023. 

Sob o pretexto de “contar até três” para um vídeo que gravava durante a sessão, Abílio Bruni fez um gesto conhecido como “ok invertido” que apresenta conotações associadas a movimentos supremacistas brancos e de extrema direita, sendo amplamente condenado por entidades internacionais que lutam contra o discurso de ódio. O fato foi amplamente comentado pela imprensa local, nacional e por diversos outros especialistas no assunto. 

Por ser doutor em Comunicação e fazer parte do grupo de pesquisa Midiaticus, voltado ao estudo sobre mídia e democracia, Bruno Araújo deu entrevista na qual fez análise e ponderações sobre a onda de extremismo, fomentado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que o país enfrenta e frisou que o gesto feito por Abílio não foi “inocente”.  Brunini, que é pré-candidato à Prefeitura de Cuiabá nas eleições de 2024, por sua vez, disse que registraria um boletim de ocorrência contra os parlamentares que o acusaram de fazer tal gesto. 

Em novembro o professor foi comunicado da existência de uma ação de indenização por danos morais impetrada pelo deputado bolsonarista. Para os professores do Programa de Pós-graduação em Comunicação da UFMT, o colega tem sido vítima de assédio judicial “uma conhecida estratégia usada pela extrema direita para censurar o saudável debate acadêmico e social”

“Em uma democracia, é fundamental garantir que professores e pesquisadores possam exercer sua liberdade de cátedra e sua liberdade de expressão, amplamente asseguradas por nossa Constituição Federal, pelo Pacto de Direitos Civis e Políticos e pela Convenção Americana sobre Direitos Humanos, sem que haja qualquer tipo de censura ou limitação ao livre exercício da manifestação de pensamento. Esses direitos incluem a liberdade de realização de pesquisas e de suas divulgações por intelectuais, pela imprensa e pela universidade”, manifesta a nota assinada por todo o corpo docente do PPGCOM.

Procurado pelo FOLHAMAX, o professor Bruno Bernardo Araújo decidiu não se manifestar, mas se disse contemplado pela nota da instituição. Uma audiência de conciliação no dia 29 de novembro foi realizada e o caso segue tramitando no 3º Juizado Especial Cível de Cuiabá.

ÍNTEGRA DA NOTA

NOTA DE APOIO

Os professores e as professoras do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal de Mato Grosso (PPGCOM/UFMT) manifestam seu apoio e solidariedade ao professor Bruno Bernardo Araújo, da Faculdade de Comunicação e Artes da UFMT (campus Cuiabá). O docente permanente do PPGCOM/UFMT e líder do grupo de pesquisa Midiaticus, voltado ao estudo sobre mídia e democracia, tem sido vítima de processo judicial e perseguição política por parte do Deputado Federal Abilio Brunini, filiado ao partido Partido Liberal (PL). A perseguição judicial, ou lawfare, é uma conhecida estratégia usada pela extrema direita para censurar o saudável debate acadêmico e social.

Em novembro de 2023, o professor foi comunicado da existência de uma ação de indenização por danos morais impetrada pelo deputado, motivada por uma entrevista dada ao veículo de comunicação Olhar Direto. Na qualidade de pesquisador especialista nos estudos de mídia e populismo, à pedido do veículo de comunicação, o docente Bruno Araújo analisou o suposto significado de um gesto realizado pelo deputado durante a CPI sobre os Atos Antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023. Brunini, a pretexto de “contar até três” para um vídeo que gravava durante a sessão, fez um gesto conhecido como “ok invertido” que apresenta conotações associadas a movimentos de supremacia branca e de extrema direita, sendo amplamente condenado por entidades internacionais que lutam contra o discurso de ódio. O fato foi, ainda, largamente comentado pela imprensa nacional e por diversos especialistas, assim como o professor.

Araújo é um profissional com sólida trajetória de investigação científica no campo dos estudos sobre mídia e populismo e desenvolve, atualmente, uma série de pesquisas e análises de eventos políticos e midiáticos que incluem não apenas, mas também, atores do cenário político de Mato Grosso. Em uma democracia, é fundamental garantir que professore(a)s e pesquisadore(a)s possam exercer sua liberdade de cátedra e sua liberdade de expressão, amplamente asseguradas por nossa Constituição Federal, pelo Pacto de Direitos Civis e Políticos e pela Convenção Americana sobre Direitos Humanos, sem que haja qualquer tipo de censura ou limitação ao livre exercício da manifestação de pensamento. Esses direitos incluem a liberdade de realização de pesquisas e de suas divulgações por intelectuais, pela imprensa e pela universidade. Assim, em apoio ao professor e em prol da liberdade de cátedra, de expressão e do livre pensamento, repudiamos quaisquer ofensivas autoritárias contra o professor Bruno Araújo e qualquer outro(a) docente que venha a sofrer ataques dessa natureza.

Assinam esta nota de apoio:

Letícia Xavier de Lemos Capanema - professora permanente do PPGCOM/UFMT

Vinicius Souza - professor permanente do PPGCOM/UFMT

Cristóvão Domingos de Almeida - professor permanente do PPGCOM/UFMT

Dôuglas Aparecido Ferreira - professor permanente do PPGCOM/UFMT

Fernanda Vasques Ferreira - professora permanente do PPGCOM/UFMT

Jociene Carla Bianchini F. Pedrini - professora permanente do PPGCOM/UFMT

Luãn José Vaz Chagas - professor permanente do PPGCOM/UFMT

Nealla Valentim Machado - professora permanente do PPGCOM/UFMT

Pâmela Saunders Uchôa Craveiro - professora permanente do PPGCOM/UFMT

Rodrigo Levoti Portari - professor permanente do PPGCOM/UFMT

Tamires Ferreira Coêlho - professora permanente do PPGCOM/UFMT

Thiago Cury Luiz - professor permanente do PPGCOM/UFMT

Andréa Ferraz Fernandez - professora colaborada do PPGCOM/UFMT

Pedro Pinto de Oliveira - professor colaborador do PPGCOM/UFMT

Liziane Soares Guazina - professora permanente do PPGCOM/UFMT

Andréa Basílio Chagas - professora e pós-doutoranda do PPGCOM/UFMT

Programa de Pós-graduação em Comunicação da UFMT

Cuiabá, 5 de dezembro de 2023