Uma denúncia anônima remetida ao Ministério Público do Estado (MPMT) e à Ouvidoria do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT) alega que J.R.S., assessor do gabinete do desembargador afastado Sebastião de Moraes Filho, participou ativamente de um suposto esquema de nepotismo cruzado além de falsificação de atestados. O servidor, hoje lotado em outro setor, teria usado carimbos médicos adulterados para justificar faltas e “pegar uma praia”.

Segundo a denúncia, o funcionário não cumpria horários fixos e se ausentava repetidamente para viagens e gravações publicitárias. Ele é o “garoto propaganda” de uma importante campanha publicitária da prefeitura de Cuiabá.

O denunciante aponta que, só no ano de 2024, J.R.S. acumulou mais de 20 faltas não justificadas, incluindo períodos de folga sem autorização. O relatório cita datas específicas com motivos como lazer e atividades particulares. 

Em outro período em que estava de "atestado", em abril de 2025, o servidor viajou à Fortaleza (PE) e também à Goiânia (GO). A denúncia também afirma que J.R.S. possuía um carimbo falso de um médico ortopedista para emitir atestados irregulares.

O denunciante diz ter provas das acusações, inclusive o próprio carimbo falso utilizado pelo servidor, com digitais, enviado às autoridades mato-grossenses. Conforme informações do documento, que também foi distribuído a veículos de comunicação de Mato Grosso, dentre eles FOLHAMAX, o “chefe” do servidor, o desembargador Sebastião de Moraes Filho, estaria por trás de um esquema de nepotismo que empregou seu filho e sua esposa. 

Imagens de “print screen” do sistema do status funcional de servidores do TJMT, contidos na denúncia, apontam que Marlene Prado de Moraes, esposa de Sebastião, estava lotada no gabinete de outro desembargador com “nomeação efetiva” de técnico judiciário. No mês de abril de 2024, ela recebeu um salário líquido de R$ 23,5 mil.

O filho de Sebastião, o também técnico judiciário Márcio Thadeu Prado de Moraes, possui um registro de salário mais recente, de abril deste ano, onde recebeu R$ 21,8 mil líquidos. Antes de atuar no departamento gráfico do TJMT, Thadeu estava lotado no gabinete do desembargador Dirceu dos Santos.

O servidor apontado como “braço direito” do desembargador também foi lembrado na denúncia, que apontou que ele recebeu R$ 13,5 mil no salário de abril de 2025. O MPMT e o TJMT já abriram procedimentos para analisar as acusações.

O caso surge no rastro de investigações contra Sebastião de Moraes Filho, afastado em agosto de 2024 por suspeitas de vender sentenças em conluio com o advogado Roberto Zampieri, assassinado em Cuiabá no mês de dezembro de 2023. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) já apurava nomeações suspeitas de familiares do magistrado em outros gabinetes.

Marlene Prado de Moraes, a esposa do desembargador, e Márcio Thadeu, filho do casal, ocuparam cargos bem remunerados sem comprovação de trabalho efetivo. Dados do TJMT mostram que Thadeu realizou apenas 25 registros administrativos em cinco anos, todos relacionados a benefícios pessoais.

O corregedor do CNJ, o ministro Mauro Campbell Marques, indicou em relatório que seria pouco provável que os familiares do desembargador tenham exercido suas funções. Sistemas internos não registraram produção de documentos ou minutas por parte dos dois, reforçando indícios de irregularidades.

A Operação Sisamnes, da Polícia Federal, investiga os atos de corrupção no Judiciário de Mato Grosso, além do Superior Tribunal de Justiça (STJ), e já levou ao afastamento de três magistrados. As provas incluem mensagens do celular de Zampieri, que revelaram supostos acordos ilícitos envolvendo juízes e desembargadores.