O senador Jaime Campos (DEM) vê falta de pulso firme por parte do governador Silval Barbosa (PMDB) na gestão de obras, tanto da Copa do Mundo quanto do programa MT Integrado. “Acho que falta ele se cercar de gente mais competente, mais habilidosa e compromissada. O que se percebe é que Mato Grosso vive um momento de dificuldade”, avalia o democrata.
Em entrevista ao Diário, além de analisar a gestão do peemedebista à frente do Estado, Jaime comentou as articulações políticas com vistas à eleição de outubro. Pré-candidato à reeleição, o senador - que é ex-governador e foi três vezes prefeito de Várzea Grande - afirma haver diálogo entre o DEM e outros partidos, como o recém-criado Solidariedade (SDD), para viabilizar uma terceira via de chapa majoritária. O PSDB também estaria dentro das discussões.
Mesmo que ainda declare apoio à eleição do senador Pedro Taques (PDT) ao governo, Jaime também não descarta deixar o grupo. Entre os motivos que poderiam fazer o DEM abandonar o pedetista está a impossibilidade de ele tentar ser reconduzido ao Senado. “Em eleição tudo é possível, mas hoje a ideia que se discute é a da coligação com o senador Taques. [...] Vou procurar meu espaço, tenho pernas para andar sozinho”, sustenta.
DIÁRIO - Há a possibilidade de uma candidatura própria do DEM? Isso está sendo discutido?
JAIME CAMPOS - O DEM não está discutindo nesse exato momento a possibilidade de candidatura própria a governador, entretanto em política tudo é possível. O que nós temos encaminhado agora é uma coligação com o senador Pedro Taques (PDT) e, evidentemente, essa coligação só se concretiza após as convenções. Não é nesse exato momento o que o Democratas está pensando em termos de participação nas eleições de 2014, mas não se descarta a possibilidade de que amanhã ou depois alguém possa se habilitar para ser candidato e é de direito legítimo de qualquer filiado pleitear não só o cargo de governador como senador, deputado federal e deputado estadual. É aquela velha história: em eleição tudo é possível. Mas hoje a ideia que se discute é a da coligação com o senador Taques, evidentemente, respeitando o espaço democrático que seria, possivelmente, nossa participação na sua coligação com a indicação do candidato a senador, como poderia ser eu ou outro que, eventualmente, o partido indicasse.
DIÁRIO - Hoje, o nome do senhor seria o escolhido no caso de uma candidatura ao Paiaguás?
JAIME - Ao Paiaguás, não! Ao Paiaguás poderiam ser outros nomes. O partido é rico em outros nomes de pessoas de bem que, eventualmente, poderiam ser candidatas. Hoje não tenho essa pretensão de ser candidato ao governo, tendo em vista que uma possível candidatura minha à reeleição seria natural, até mesmo porque já sou senador da República. Mas ninguém pode, em hipótese alguma, vedar o direito de um cidadão, filiado, maior de idade, que tenha todos os requisitos, de pleitear a candidatura a governador.
DIÁRIO - O grupo MT Muito Mais, que apoia a candidatura do senador Pedro Taques (PDT) ao governo, vem fazendo convites a alguns partidos, como o PTB, que já tem a Serys Slhessarenko pleiteando ser senadora. Como o senhor vê essas conversas?
JAIME - Não vejo nenhuma dificuldade. É legítimo o PTB reivindicar um espaço, sobretudo na indicação da ex-senadora Serys em uma candidatura ao Senado novamente. Isso é o momento que vai dizer. É um processo de maturação que estamos vivendo e que, lá na frente, efetivamente, o senador Pedro Taques vai saber qual o melhor candidato a senador. Nesse caso, vejo o nome da senadora Serys com muita simpatia, assim como tem ela também tem a minha disponibilidade. E o grupo busca uma possível composição com o PR, que havia se manifestado para a candidatura do deputado federal Wellington Fagundes, também ao Senado. Esse é um assunto que todos os partidos que participam dessa coligação têm o direito de opinar, como o caso do próprio PPS, que amanhã ou depois pode reivindicar espaço na majoritária, assim como os outros. Acho que isso é democrático e não faço nenhuma objeção, o que preciso, de fato, é que o meu partido me dê a garantia de que me apoiaria. Daí para frente, eu sei me posicionar.
DIÁRIO - Mas essas conversas com o PTB e o PR não o incomodam? Afinal, elas esbarram em seu objetivo.
JAIME - Quem vai saber e escolher seus parceiros será o senador Pedro Taques e o momento é que vai dizer quem é o melhor nome para fazer esse enfrentamento de uma eleição a senador da República. Na medida em que eu e o Democratas não tivermos o nosso espaço, é óbvio e evidente que tudo isso vai ajudar a procurarmos uma outra possível composição política. Não tenho dificuldade em conversar com ninguém aqui em Mato Grosso, até porque, imagino que daqui para o dia 30 de junho ainda tem muita água para correr debaixo da ponte. Sou democrático, acho que a pretensão de ninguém deve ser deixada de ouvir, isso é salutar e muito importante dentro do processo político eleitoral. Quem sou eu para proibir? Eu é que sei o que quero para mim e, nesse caso, estou trabalhando, costurando. Agora não sou um cidadão que trabalha de forma alucinada, que quer aquilo e não abre mão. Vou procurar meu espaço, tenho pernas para andar sozinho. Mesmo que essa coligação do Taques seja importante, tenho capacidade de articulação e, acima de tudo, tenho uma trajetória que me dá condições de fazer um projeto político dessa envergadura, não subestimando ninguém que, eventualmente, tenha essa pretensão também de disputar o cargo de senador.
DIÁRIO - O senhor está dizendo que se Pedro Taques definir Serys ou Wellington para o Senado em sua chapa significa que, automaticamente, o DEM está fora do grupo?
JAIME - Já fiz proposta lá nas seguintes condicionantes: topo qualquer disputa de pesquisa, ou seja, não sou contra o Wellington ou quem quer que seja. O que se discute é um arco de aliança de oposição ao governo. O deputado Wellington Fagundes vindo para cá, imagino, teria que deixar os cargos que ele indicou ao governo e vem indicando há 12 anos, como os de alguns secretários de Estado. Na política você não pode enganar, tapear ou mentir para o eleitor, tem que ser honesto. Eu tenho essa postura, tanto é que já tive cinco mandatos: três de prefeito, um de governador e outro de senador. No caso do Wellington, se ele viesse, imagino que iria contra tudo que está sendo propagado pela coligação de Pedro Taques: ser oposição. Não tenho nada contra, desde que o deputado deixe as secretarias de Estado. Na política, temos que somar, independente da coligação. O que o DEM quer é um programa de governo, discutir saúde, educação. Não vamos fazer coligação por fazer. Acima do interesse pessoal e partidário, está o interesse do povo de Mato Grosso. É preciso ouvir o que as pessoas querem nas bases, no interior. O DEM é hoje o partido com maior número de filiados no Estado.
DIÁRIO - Nos bastidores ouve-se falar sobre a possibilidade de o DEM e o PSDB deixarem o MT Muito Mais para buscar uma composição isolada, caracterizando uma terceira via na eleição. Isso está sendo conversado?
JAIME - Não estamos discutindo. Não chegamos a esse ponto ainda. Evidentemente, se não tivermos esse espaço, a terceira via não está descartada. Como já disse, tudo é possível. Nós já temos, historicamente, uma composição com o PSDB a nível nacional, quando o FHC foi presidente, Marco Maciel foi vice por dois mandatos. Mas desenhar um cenário hoje é muito prematuro.
DIÁRIO - Mas o PSDB parece ter dificuldade em encontrar um nome de peso para o governo. Isso não pesaria no caso de uma terceira via?
JAIME - Não podemos dizer isso. O próprio Maurício Magalhães já se manifestou, colocou o nome dele à disposição. É um direito legítimo dele, já que é filiado e tem um histórico dentro do partido. Não podemos subestimar. Mas além do PSDB, o DEM está conversando com o PTB e o Solidariedade. O presidente do SDD, Daltinho de Freitas, me ligou dizendo que está interessado em acompanhar o DEM no arco de alianças do Taques. Ele também disse que quer participar dessa terceira via caso ela venha, eventualmente, a ser viabilizada. Se nos sentirmos rejeitados, não temos dificuldade em nos retirar. É um jogo que está começando a ser jogado. A bola foi comprada, os jogadores estão vestindo as chuteiras, a camisa e o calção. Tudo pode acontecer. Respeitamos o direito e a pretensão de cada um, mas às vezes, não tem como atender toda a demanda. Essa questão depende de habilidade e traquejo para fazer acomodações políticas.
DIÁRIO - Quanto à chapa proporcional, como o DEM vem se preparando para recuperar espaço?
JAIME - Temos 16, 17, candidatos a deputados estaduais e temos pretensos candidatos a deputado federal, como o ex-prefeito de Alto Garças, Ronald Trentini. Confesso que não sei quem se inscreveu, mas temos vários. Lá na frente vamos saber quem vai ser, de fato, candidato.
DIÁRIO - Sua principal base eleitoral é Várzea Grande. O município, porém, parece ter certa dificuldade em eleger um deputado estadual. O DEM tem algum nome forte hoje para este cargo pelo município?
JAIME - O próprio Júlio Neto já disse ser candidato pelo DEM para a AL e a cidade vai apontar outros nomes, com certeza, por outros partidos. Quem vai ser, não sei. Não tenho a informação de quem será, eventualmente, indicado pelos partidos. Muita gente pega voto em Várzea Grande. Se não me engano, o Sérgio Ricardo teve uma votação muito expressiva na cidade, até pela ligação forte que ela tem com Cuiabá. Tudo é legítimo. Pela legislação, ainda não temos voto distrital, mas acho que o voto já está praticamente regionalizado.
DIÁRIO - Falando nisso, seu irmão, o deputado federal Júlio Campos, pareceu estar em cima do muro nos últimos meses, quando anunciava ser candidato e, em seguida, dizia que iria se afastar da vida política. Ele é candidato ou não?
JAIME - O Júlio não é candidato. Inclusive, essa semana mesmo ele repetiu isso para mim. Apesar disso, em todas as pesquisas internas do partido que estão sendo realizadas, o nome dele sempre aparece e muito bem.
DIÁRIO - Mudando de assunto, como representante de um partido de oposição, gostaria que o senhor fizesse uma avaliação do governo Silval Barbosa (PMDB), que está chegando na reta final.
JAIME - Eu não gostaria de fazer esse comentário, mas acho que tenho que me manifestar, independente de ser senador, como cidadão mato-grossense. Acho que o Silval tem se esforçado bastante para fazer suas ações e até para concluir as obras da Copa. Me parece, todavia, que está se perdendo de um bom gerenciamento, uma boa gestão. Acho que falta ele se cercar de gente mais competente, mais habilidosa e mais compromissada. O que se percebe é que Mato Grosso vive um momento de dificuldade. Há atrasos no cronograma físico das obras da Copa e vejo que terá dificuldade até com algumas obras do MT Integrado. O próprio setor rural de Mato Grosso, que recolhe a taxa do Fethab, abriu mão de um grande percentual para destinar recursos para a Copa do Mundo. Isso penalizou, sobremaneira, o setor produtivo, a sociedade de maneira geral. Com relação ao mundial, a sensação é que o grande legado da Copa serão as contas para pagar e as obras mal acabadas. Isso tudo trouxe e trará prejuízo enorme ao trabalhador da grande Cuiabá. É incalculável o prejuízo que a falta de planejamento nas obras de mobilidade causou aos comerciantes. Alguns fecharam as portas, outros entraram em recuperação judicial. Então, o legado que poderia ser ótimo, até agora não vi. Me parece que o Estado não está preparado, mesmo que tenha tido tempo suficiente, cinco anos, para fazer bons projetos.
DIÁRIO - O senhor acha que o governador foi displicente?
JAIME - Não diria displicente. Acho que ele facilitou demais, deixou as coisas correrem muito soltas. Não comandou de forma contundente, não botou gente séria lá. Com todo respeito ao governador Silval Barbosa, mas o que eu vejo é que hoje temos dois estados: um da Copa e outro de Mato Grosso. Só se ouve falar em Copa, Copa e Copa. Eu lhe pergunto: e o resto de Mato Grosso? O interior ficou à mercê de tudo isso. Nem o que se propôs a fazer, conseguiu terminar. Vai precisar de muito recurso ainda para concluir o VLT, por exemplo. Qualquer técnico de engenharia sabe que, se tudo correr bem, esta é uma obra para ser entregue em 2016, 2017. Antes disso, é só mentira, “tapeação”. Vai ser preciso, pelo menos, mais R$ 1 bilhão para concluir essa obra, pode escrever!
DIÁRIO - Se o senhor pudesse dar uma nota ao governador, qual seria?
JAIME - Não! Quem dá nota é professor [risos]. Respeito o Silval, até porque já fui governador e sei como é triste as pessoas fazerem esse tipo de avaliação sem ter capacidade.