Em depoimento aos delegados e promotores de Justiça que compõem o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), o advogado Júlio César Domingues Rodrigues revelou que o advogado Joaquim Mielli, um dos mentores da fraude de um desvio de R$ 9,5 milhões dos cofres da Assembleia Legislativa que deveria ser destinado a quitação de uma dívida com o HSBC Seguros, tinha o propósito de investir na empresa Tauro Motors, concessionária da Mitsubishi em Cuiabá. “Mielli, quando de suas reuniões, chegou a dizer ao declarante que parte do dinheiro que ele amealhasse na negociação com a Assembleia Legislativa iria investir na empresa Tauro Motors, de propriedade do sogro, do cunhado e da esposa do Mielli e, pelo que se recorda, ele disse que uma parte da empresa era dele”, diz um dos trechos do depoimento.
O delator ainda revelou que foi solicitado sua ajuda por um dos proprietários da empresa que tinha o intuito de receber uma quantia em dinheiro que estaria sendo devida pelo advogado Joaquim Mielli. “Em uma certa ocasião esteve na empresa Tauro Motors e lá encontrou com o senhor Paulo César Bóculo, ocasião em que disse a ele que Joaquim estava lhe devendo e queria ver se ele poderia interceder, sendo que para sua surpresa ele disse que já sabia do que se tratava e iria falar com o Joaquim. Que passados alguns dias ainda retornou a empresa e o Paulo foi rude com o declarante dizendo que não tinha nada a ver com o assunto”, relata o depoimento.
O advogado Julio Domingues ainda acredita que Joaquim Mielli forjou um contrato de empréstimo de R$ 1,5 milhão com a Tauro Motors como forma de receber parte do dinheiro desviado do Legislativo que seria referente a sua parte na propina. “Acredita que o contrato de empréstimo apresentado pelo Joaquim com a Tauro foi forjado para proteger os valores por ele recebidos”, completou.
Nas investigações do Gaeco que culminaram na Operação Ventríloquo em julho de 2015, foi identificado que a empresa Tauro Motors recebeu dois cheques de R$ 500 mil que somam R$ 1 milhão. A suspeita é que o advogado Joaquim Mielli tenha usado a empresa para lavar dinheiro e assim aparentar legalidade ao dinheiro desviado do Legislativo.
A concessionária da Mitsubishi em Cuiabá, Tauro Motors Veículos Importados Ltda, tem como uma de suas sócias-proprietárias Andrea Boscolo Camargo, esposa do advogado Joaquim Mielli, que contraiu um empréstimo de R$ 1,5 milhão em favor da empresa. De acordo com o contrato, a título de remuneração pelos empréstimos, a concessionária ficou obrigada a pagar a Andrea Camargo 1,2% do valor de R$ 1 milhão, ou seja, R$ 12 mil, de forma mensal e líquida.
Já no empréstimo de R$ 500 mil, ficou estabelecida remuneração de 1,35% do montante, o que resulta em R$ 6,75 mil mensais. Os contratos, firmados nos dias 24 de fevereiro de 2014 e 13 de maio de 2014, respectivamente, têm validade de três anos.
Ao final, a concessionária da Mitsubishi se comprometeu a devolver à empresária o valor de R$ 1,5 milhão, livre de qualquer encargo. O empréstimo contraído por Andrea Camargo foi feito seis dias após seu marido, o advogado Joaquim Fábio Mielli Camargo, receber R$ 3 milhões da Assembleia Legislativa, resultado do esquema de fraude.
Joaquim Mielli surgiu inicialmente como delator do esquema. No entanto, as investigações do Gaeco descobriram mentiras do advogado, sendo que agora os promotores pediram anulação do acordo de colaboração premiada.
Já Júlio César Domingues chegou a ficar preso em decorrência da operação, mas acabou fechando um acordo de colaboração que culminou com a prisão do ex-servidor da Assembleia Legislativa, Francisvaldo Mendes Pacheco, ex-chefe de gabinete do deputado estadual Romoaldo Júnior (PMBD). Ainda são réus na "Operação Ventríloquo" o ex-deputado estadual José Geraldo Riva, servidor Luiz Márcio Bastos Pommot e o advogado Anderson Godói.
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Quarta-Feira, 19 de Outubro de 2016, 14h51zepika
Quarta-Feira, 19 de Outubro de 2016, 11h08