PC suspeita de patrimônio de R$ 5 milhões de blogueira alvo de operação

 

A digital influencer Ana Caroline Ormond Sobreira Nascimento, de 22 anos, ainda “engatinha” quando o assunto é popularidade no Instagram. Com modestos 18 mil seguidores na plataforma, Caroline poderia “atacar de coach”, compartilhando com seus fãs como fez para acumular R$ 5 milhões em veículos e imóveis, apesar da baixa audiência nas redes sociais.

A Justiça decretou o sequestro do bens. Na lista, se destaca um Land Rover Evoque 2023 e um terreno no condomínio Florais Chapada, em Chapada dos Guimarães.

A Polícia Judiciária Civil (PJC), que deflagrou na manhã desta terça-feira (24) a operação “Suserano”, tem pistas sobre o “sucesso financeiro”, em detrimento do limitado número de seguidores da “criadora de conteúdos digitais”. Segundo as investigações, Ana Caroline seria uma “laranja” do próprio pai, Alessandro do Nascimento, representante da Tupã Comércio e Representações.

A organização, segundo a PJC, estaria envolvida em fraudes na utilização de recursos de emendas parlamentares impositivas destinadas à Secretaria de Estado de Agricultura Familiar (SEAF). Ao todo, conforme os autos, uma organização denominada como Instituto de Natureza e Turismo (Pronatur) recebeu em 2024 pouco mais de R$ 28 milhões. Os recursos deveriam ser empregados na aquisição de kits de ferramentas para a agricultura familiar, sem disponibilização de cursos ou treinamentos.

“Não houve nenhuma referência à realização de cursos, palestras, desenvolvimento técnico, assessoria finalística ou acompanhamento às famílias de agricultoes”, diz trecho da representação. Os autos revelam que as mesmas empresas sempre participavam de todos os processos de orçamentos para a aquisição dos kits - Tupã Comércio e Representações, Paredão Comércio de Materiais para Construção e GFS Materiais para Construção.

Em todas as negociações, a Tupã apresentava valores menores do que as "concorrentes". A PJC afirma que Alessandro do Nascimento “não possui bens móveis ou imóveis” em seu nome, e que o dinheiro recebido pelo Pronatur “possui sempre como destinatário final a pessoa de Alessandro Nascimento”. Como os valores milionários seriam destinados a Alessandro Nascimento se ele não possui veículos nem imóveis?

Por meio de sua filha, Ana Caroline Ormond Sobreira Nascimento, usada como laranja pelo próprio pai, segundo a PJC. A operação “Suserano” aponta que a “criadora de conteúdos digitais” possui 3 veículos e oito imóveis, que totalizam R$ 5 milhões, além de duas procurações em que ela concede “amplos, gerais e ilimitados poderes” ao seu pai, Alessandro Nascimento.

“Além de Alessandro não possuir as empresas utilizadas para contratar com o Poder Público, registradas em seu nome, não possui bens móveis ou imóveis. Em nome da filha de Alessandro, Ana Caroline Ormond Sobreira Nascimento, de apenas 22 anos de idade, há mais de R$ 5 milhões em bens móveis e imóveis registrados, sendo 3 veículos e 8 imóveis, bem como a existência de duas procurações públicas, datadas de 17/11/2023 e 18/03/2024, que concederam amplos, gerais e ilimitados poderes a seu genitor”, revela a PJC. O Instagram de Ana Caroline Ormond é repleto de momentos marcantes da blogueira - viagens à Disney, nos EUA, à Espanha, Portugal e outros locais que são apenas sonho para pequenos agricultores, que vencem as dificuldades com trabalho duro, de sol a sol.

Na mesma rede social, a “criadora de conteúdos digitais” publicou uma nota nesta terça-feira rebatendo as supostas irregularidades, dizendo que não possui “atividade empresarial ou comercial” com as empresas e órgãos públicos citados na operação "Suserano". Ana Caroline também avisa que não permitirá que sua história “seja distorcida por tais ataques prematuros”.

LISTA DE BENS SEQUESTRADOS

1) LAND ROVER RANGE ROVER EVOQUE P250OFF HSERD 2023/2023

2) CITROEN C4 CACTUS FEEL A 2019/2020

3) CHEVROLET MONTANA 2020/2020

4) Imóvel no loteamento Parque das Nações em VG

5) Terreno no condomínio Florais Chapada, em Chapada dos Guimarães

6) Imóvel na rua 13 de Junho, bairro Porto, Cuiabá

7) Imóvel na Rua 13 de Junho, bairro Porto, Cuiabá

8) Imóvel na Rua São Sebastião, bairro Santa Isabel, Cuiabá

9) Imóvel Rua João Ponce de Arruda, bairro Santa Isabel, Cuiabá – MT

10) Imóvel no bairro Parque Cuiabá, Cuiabá

11) Imóvel no bairro Santa Isabel

Confira abaixo a nota na íntegra (sem correções):

NOTA DE REPÚDIO ACERCA DE MATÉRIAS VEICULADAS PELA IMPRENSA

Em repúdio as reportagens veiculadas pela imprensa na data de hoje sobre a suposta ligação com investigados da operação deflagrada pela Polícia Civil, rejeito veementemente qualquer envolvimento em atividades ilícitas mencionadas e reafirmo meu compromisso com a legalidade e a ética.

Não desenvolve qualquer empresarial ou profissional com os órgãos citados e pessoas citadas nas reportagens, limitando tão somente ao vínculo familiar que nas atividades desenvolvidas pelo Pai - Alessandro do Nascimento - junto à Tubarão Sports.

Essas publicações visam não apenas abalar minha honra, mas também ferir de maneira injusta e cruel a minha trajetória construída com integridade.

Clamo por justiça e transparência nas investigações que com toda a certeza esclarecerão a verdade e provarão minha inocência e ainda, não permitirei que a minha história seja distorcida por tais ataques prematuros.

Cuiabá - MT, 24 de setembro de 2024

Ana Caroline Ormond Sobreira Nascimento

OPERAÇÃO SUSERANO

As investigações da PJC tiveram início a partir do relatório de auditoria da CGE, que apontou sobrepreço de até 80% do valor de mercado em termos de fomento que seriam usados para a compra de kits de agricultura familiar, no valor de R$ 28 milhões.

Conforme a decisão da Justiça, todos os envolvidos tiveram que entregar os passaportes e estão proibidos de manter contato entre si, com testemunhas e outros servidores da secretaria, além de não poderem acessar as dependências da Pasta. Empresas envolvidas foram proibidas de contratar com o Executivo Estadual.

Em julho deste ano, o Governo de Mato Grosso noticiou o suposto esquema à CGE, dando início às investigações pela Deccor. Na ocasião, o então secretário de Agricultura Familiar, Luluca Ribeiro, foi exonerado.

Também foram exonerados o secretário adjunto de Agricultura Familiar e Desenvolvimento Rural, Clóvis Figueiredo Cardoso, o secretário adjunto de Administração Sistêmica, Talvany Neiverth, a chefe de gabinete Aline Emanuelle Rosendo e o assessor jurídico Ricardo Antônio de Lamonica Israfel Pereira.