#Gazeta Digital fez uma série de reportagens especiais sobre Cuiabá 300 anos. Entre os entrevistados, o ex-prefeito de Cuiabá, Roberto França, um dos ícones da cidade.
No dia 18 de março, França recebeu o equipe do site no seu escritório. Foram horas de uma conversa, que os leitores do #Gazeta Digital podem conferir em três capítulos, que serão publicadas ao longo desta segunda-feira (8), aniversário de 300 anos de Cuiabá. No fim de cada matéria, há um vídeo com o ex-prefeito.
Entre os ex-prefeitos de Cuiabá, talvez seja o mais lembrado pelo povo cuiabano, seja pela atuação na comunicação, como radialista e apresentador de um programa popular de televisão, ou pelo seu perfil simples e fala coloquial, Roberto França tem o carisma e admiração de muita gente.
Sucessor de Dante de Oliveira e coronel José Meireles na prefeitura de Cuiabá (1993-1996), França foi um prefeito do resgate da autoestima da nossa gente. Lembrado por uma gestão que mudou o paisagismo da capital mato-grossense e com programas sociais que mudaram a realidade de muitas famílias, França ficou 8 anos no comando do Palácio Alencastro, deixando a gestão bem avaliado.
Defensor da cultura cuiabano, o ex-prefeito conversou com o #Gazeta Digital no dia 18 de março e falou um pouco da experiência na prefeitura, do sonho ao pesadelo do VLT, relembrou os tempos em que era técnico de futebol e a festa dos 250 anos de Cuiabá.
Confira os principais trechos.
Gazeta Digital - O senhor foi prefeito de Cuiabá duas vezes. Arriscaria uma nova disputa?
Roberto França - Eu acho que já dei a minha contribuição para Cuiabá naquilo que esteve no meu alcance, naquilo que pude fazer e fiz de coração, com alma, sacrificando inclusive, a minha própria saúde. Sacrificando a convivência familiar. Porque eu acho que a pessoa tem que fazer bem feito. E para fazer bem feito tem que se dedicar, de corpo e alma. Foi o que eu fiz ao dar a Cuiabá tudo aquilo que eu recebi dela. Retribuir para minha querida capital, onde eu nasci, tudo aquilo que ela já me proporcionou. Cuiabá me deu dois mandatos de vereador, dos quais eu fui um deles presidente da Câmara e me deu 5 eleições de deputado estadual, um de deputado federal, segundo mais votado do Brasil, e dois mandatos de prefeito. Então, politicamente eu me considero um homem realizado. Agora, existem pessoas que cobram: você tem que voltar para política. Você tem que voltar a ser candidato a prefeito. Essas reivindicações a gente ouve diariamente. Você nunca deve falar que dessa água não beberei, mas, a princípio não penso. Eu disputei 12 eleições. Eu sou em vida o político de Mato Grosso que mais disputou eleições. Seguido depois pelo Júlio Campos com 10. Então eu acho que durante a minha passagem pela política eu sempre tive um voto de confiança do povo.
Gazeta Digital - O senhor se arrepende de não ter implatado, priorizado ou implementado alguma obra de infraestrutura?
França - Não. Tudo que eu pude fazer eu fiz. Eu só gostaria de ter tido condições financeiras de ter liquidado as duas folhas de pagamento restantes das 6 que eu peguei atrasadas. Por que isso? Porque ninguém defendeu mais o servidor de Mato Grosso do que Roberto França. A minha vida sempre foi pautada na defesa do servidor público. E justamente comigo aconteceu o fato de eu ter deixado a prefeitura sem ter quitado essas folhas atrasadas. Essa foi uma decepção que eu carreguei sem merecer porque durante a minha gestão eu paguei em dia. Todas as folhas, todo o mês. Não consegui quitar as 6 atrasadas. Porque Roberto França na constituinte de Mato Grosso, era presidente da Assembleia e o Luis Soares (ex-secretário) foi o relator da Constituição. Nós dois juntos é que escrevemos os grandes avanços e as grandes conquistas do servidor público. O que tem lá hoje na Constituição de Mato Grosso, se deve a nós. Eu sem sombra de dúvidas sempre fui defensor do servidor. Reconhecendo seu valor, o seu trabalho, a sua luta. Os servidores sempre me prestigiaram. Nunca me deixaram na mão.
Muitos poderiam falar assim: bom você fez mil obras porque não tirou dinheiro das obras para pagar as duas folhas. Dinheiro de obra, quando vem, vem carimbado para fazer a creche. Eu não posso pegar o dinheiro de creche e pôr na folha, nem dos asfalto, ne do posto de saúde. Mas ficou faltando essas duas. Mas eu repito: na minha gestão eu paguei todas as folhas, que devia ao servidor público. Essa foi a decepção que eu posso colocar.
Gazeta Digital - O senhor tem alguma reclamação expressa de algum político que tentou fazer algum boicote na sua gestão?
França- Eu não tenho nenhuma reclamação para fazer da classe política. Pelo contrário, eu trabalhei sempre afinado por ser político com a classe política. E por ser político sempre respeitei a classe. Em função disso, não tenho reclamação. Pelo contrário, muitos políticos me ajudaram, até políticos adversários. Vou citar um exemplo: eu ganhei a eleição do Wilson Santos no primeiro turno. Na semana seguinte que ele voltou para a Câmara Federal eu fui no gabinete dele. Quando me viu se assustou. Falei que estava indo pedir apoio dele como deputado federal. Quero uma emenda para eu construir uma creche em tal bairro lá em Cuiabá. E prontamente me atendeu. Então, eu tive humildade e ele retribuiu da mesma forma. Eu acho que questão da política tem que ter maturidade. A maturidade é muito importante. Você não pode ficar com revanchismo e levar pro campo político emocional, rivalidade partidárias. Os interesses do povo têm sempre que falar mais alto.