O secretário-chefe da Casa Civil de Mato Grosso, Fábio Garcia (União), rebateu as acusações e ameaças da deputada estadual Janaína Riva (MDB) em vídeo postado no Instagram na noite da última quarta-feira (30 de abril). No vídeo, Garcia chama Riva de “racista” e avisa que está “preparado” para um eventual “confronto” com a parlamentar da Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT).

“Que fala baixa, infeliz, deputada Janaina Riva. Quando a gente tá com raiva, a gente põe pra fora aquilo que a gente realmente é. Essa fala sua é racista. É de um racismo estrutural que a gente precisa combater no Brasil. Eu tenho profundo respeito pelas pessoas negras do nosso país. Esse racismo que você demonstra precisa ser combatido no nosso país”, dispara o chefe da Casa Civil.

As falas são uma resposta a Riva, que durante discurso na Assembleia Legislativa na última quarta-feira acusou Garcia de se recusar a pagar suas emendas parlamentares - verbas que deputados possuem direito, de recursos de origem no Poder Executivo, e que geralmente são investidas em políticas públicas. Numa fala contundente e direta, a deputada estadual “avisou” que o chefe da Casa Civil “não deveria vir com molecagem”, mandando Garcia fazer “molecagem e ameaçazinha” com “suas nega”.

A própria Riva, num post em seu Instagram nesta quinta-feira (1º de Maio), admitiu que suas falas foram racistas, determinando que o referido trecho do seu discurso fosse retirado dos registros da ALMT. A resposta de Fábio Garcia segue em seu vídeo, onde nega ter vetado o pagamento de emendas parlamentares à deputada estadual, e que não é ela, e nem ele, que determinam esses repasses, e sim a legislação.

“Não é a senhora que vai me obrigar a pagar suas emendas. É a lei que já obriga ao Executivo Estadual ou Federal a pagar as emendas impositivas. Portanto, todas as emendas serão pagas como vem sendo pagas, como foram nos últimos dois anos. Agora, quando o Executivo paga a emenda do parlamentar, aí a senhora não vai determinar. A senhora faz o seu trabalho lá e eu farei o meu trabalho aqui”, determinou o chefe da Casa Civil.

Garcia sugeriu ainda que o pagamento das emendas de Riva podem “demorar mais” do que a de outros parlamentares estaduais alinhados ao Governo. Coincidência, ou não, em seu discurso na ALMT, a deputada estadual citou que outros colegas no órgão também estariam passando pelo problema - Lúdio Cabral e Valdir Barranco, ambos do PT, e Gilberto Cattani (PL), todos de oposição ao governador Mauro Mendes (União).

O chefe da Casa Civil, que também é deputado federal por Mato Grosso, citou o próprio exemplo em Brasília (DF) - que por ser de oposição do Governo Lula (PT), suas emendas também “demorariam mais” para serem repassadas, o que considera “normal”. “Como sou oposição, por exemplo, ao governo federal lá em Brasília, as emendas demoram um pouco mais pra ser pagas. Normal? Normal. Eu tô fazendo escândalo? Não. Eu reconheço a minha posição de oposição e aceito que há consequências a essa posição, quando me posiciono dessa forma, com relação ao governo do PT. Portanto, é ônus e bônus. Ação e consequência. Aqueles que não aprenderam isso com a vida, normalmente são aqueles que foram criados com o pai acobertando seus erros, ou com o pai educando os filhos de forma errada”, refletiu.

CORRUPÇÃO EM CASA

Garcia, considerado um dos aliados mais próximos de Mauro Mendes, também lançou um “desafio” a Riva, para que ela explique sua atuação na Secretaria de Agricultura Familiar de Mato Grosso, onde teria poder e influência, segundo o chefe da Casa Civil. A pasta foi alvo da Operação Suzerano, que investigou desvios de R$ 28 milhões justamente em emendas parlamentares.

O então secretário, o advogado Luluca Ribeiro, indicado por Janaína ao cargo, acabou sendo afastado pela Justiça e exoneado pelo governador. “Aproveita, deputada Janaina, e esclarece pra sociedade que tipo de política você buscava fazer com as suas emendas e indicações na Secretaria de Estado de Agricultura Familiar, cujo secretário foi o seu indicado por muito tempo. Esclarece aí para a sociedade mato-grossense”, atacou.

Fábio ainda recordou que Janaína é filha do ex-presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso, José Riva, que chegou a ser preso por corrupção e está solto hoje por ter feito um acordo de colaboração premiada. "‘Eu não fui criado com dinheiro da corrupção", alfinetou.

 A manifestação do chefe da Casa Civil foi elogiada por Mauro Mendes, que comentou no post “Parabéns Fábio”. Como citado anteriormente, Janaína Riva publicou uma “tréplica” em seu Instagram nesta quinta-feira, e responde a uma das falas do chefe da Casa Civil, que em seu vídeo afirmou ter sido “o deputado federal mais votado de Mato Grosso” nas eleições de 2022.

Chamando a manifestação do chefe da Casa Civil de “cômica”, Riva lembrou que a candidata mais votada foi a ex-deputada federal Rosa Neide (PT), que mesmo obtendo 124.671 votos não conseguiu sua vaga na Câmara de Deputadas por conta do coeficiente eleitoral mínimo exigido para a eleição. Fábio Garcia foi a escolha de 98.704 eleitores.

“A mais votada para federal foi a ex-deputada Rosa Neide, que recebeu 25 mil votos a mais do que o secretário. Se você fizer uma comparação dos meus votos como estadual, e dos votos dele como deputado federal, eu fui proporcionalmente muito mais votada”, lembrou a deputada, que teve 82.124 votos em 2022.

A parlamentar da ALMT aproveitou ainda para “cutucar” o próprio governador Mauro Mendes, que em sua avaliação também teria proferido uma fala racista. “Eu não vi a mesma indignação dessas pessoas, defensoras do combate ao racismo, quando o governador usou o termo ‘caboclo’, que também é um termo racista”, observou a parlamentar.

Janaína Riva, Fábio Garcia e Mauro Mendes são brancos.