Com direito a um café da manhã reforçado, repleto de bananas, maçãs e pão com mortadela, além de música regional, a vereadora Edna Sampaio (PT) fez sua primeira aparição pública na Câmara de Vereadores de Cuiabá na manhã desta terça-feira (5), após conseguir, na Justiça, derrubar o processo administrativo que cassou seu mandato no Parlamento. Em discurso realizado no pátio da Câmara, próximo ao obelisco do Centro Geodésico da América, a petista citou o presidente Lula (PT) e a tormenta que atravessou durante os dias em que permaneceu fora da Casa de Leis.

Inclusive, ela chegou ao Legislativo Cuiabano entregando botões de rosas vermelhas aos demais vereadores. O retorno de Edna à cadeira no Legislativo está previsto para ocorrer nesta quarta-feira, data que o presidente da Casa, Chico 2000 (PL) marcou de receber a notificação da Justiça sobre a decisão judicial que invalidou a cassação por 20 votos realizada no dia 11 de outubro deste ano. A parlamentar foi acusada de operar um esquema de 'rachadinha' com a verba destinada à sua chefe de gabinete. No entanto, em 22 de novembro, uma decisão do juiz Agamenon Alcântara Moreno Júnior, da 3ª Vara Especializada da Fazenda Pública, anulou o Processo Administrativo Disciplinar (PAD) da Comissão de Ética determinando o retorno dela à Câmara. 

"Eu evitei chorar, porque as lágrimas não resolveriam a atrocidade que fizeram com o nosso mandato e comigo pessoalmente. Eu queria muito agradecer. Não é fácil acreditar numa verdade, quando a mentira é contada tantas vezes para derrotar uma mulher. É muito difícil para mim voltar para aquele local com 24 pessoas, sendo que dessas, 21 construíram consenso para me retirar daqui. Mas eu sou uma mulher negra e agora os que talvez achavam que era exagero eu ficar falando que sou negra talvez entendam que me colocar como uma mulher negra, eu invoco para mim a força da minha ancestralidade", discursou Edna para alguns aliados.

Em outro trecho, a petista cita o que ela chama de banalidade da maldade, afirmando ser triste ver que muitos se comportam como capitães-do-mato nos espaços de poder.

"Fico muito feliz por merecer não apenas eu, mas todas aquelas pessoas que, junto comigo, atravessaram essa tormenta. Aprendi muita coisa nesse decorrer. É muito triste saber que, dentro de cada um, às vezes um pai de família, pessoas que, em casa, entre os seus, comportam-se com absoluta serenidade e afetividade, e no espaço político como esse se comportam como atrozes capitães-do-mato, como aqueles que querem crucificar, chicotear o lombo de uma mulher preta em praça pública", emendou.

Ao encerrar o discurso, Edna cita Lula e ressalta que seu mandato não vale mais do que sua dignidade ou caráter. "Uma mulher que é violentada, às vezes, tem dificuldade de se levantar e reconhecer o seu próprio valor. Mas eu choro aqui de emoção por poder voltar de cabeça erguida. Assim como Lula, que é meu grande inspirador, eu sempre disse que meu mandato não vale minha dignidade, meu caráter, e portanto, eu poderia perdê-lo, mas perderia de cabeça erguida porque estou aqui para honrar aqueles que acreditam em mim", finalizou.

Ocupava a vaga de Edna o sindicalista Robinson Cireia, seu primeiro suplente. No período em que esteve à frente do mandato, Cireia trocou boa parte da equipe de Edna e até mesmo as fechaduras do gabinete dela. Nesse ínterim, ele foi acusado pela petista de não realizar a 3ª semana da consciência negra no Parlamento. Apesar de negar publicamente que tenha rixa com a companheira, Cireia afirmou que resolve suas divergências internamente.