Para justificar as críticas que recebeu por ter mudado de opinião sobre a retomada das obras do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), o deputado Wilson Santos (PSDB) recorreu à figura bíblica do apóstolo Paulo. O parlamentar costumava tecer duras críticas às obras do VLT e ao consórcio responsável pelo modal. Porém, a posição do tucano mudou ao longo do último ano, principalmente após assumir a chefia de Secretaria Estadual de Cidades (Secid), cargo que deixou temporariamente para retornar ao Legislativo Estadual.

Ao retornar ao Legislativo, Wilson Santos teve a missão de defender o acordo firmado em março passado entre o Governo do Estado e o Consórcio VLT para retomar as obras do modal. O contrato para a conclusão do veículo, em um prazo de até 24 meses, foi fechado em R$ 922 milhões.

O imbróglio ocasionado pela questão ocorreu em razão de levantamentos feitos pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das obras da Copa do Mundo de 2014. Em relação ao VLT, o procedimento identificou diversas fraudes, orientou que o Estado não firmasse novo acordo com o Consórcio VLT e chegou a apontar que o Executivo não deveria colocar mais dinheiro na obra, pois traria ainda mais prejuízos aos cofres públicos.

Na quarta-feira (26), durante sessão marcada por discussões, os deputados estaduais aprovaram, por unanimidade o relatório final da CPI das obras da Copa. Porém, a emenda aditiva que reafirmava a necessidade de rescisão do contrato entre o Consórcio VLT e o Estado foi reprovada pelos parlamentares da base governista. Foram 10 votos contrários à emenda e sete favoráveis.

Depois de encerrar a votação sobre a retomada do VLT, o parlamentar, que permanecerá mais alguns dias no Legislativo, comentou sobre as críticas que recebeu por ter mudado seu posicionamento em relação ao modal. Ele recorreu a um texto bíblico para se defender. "Estou tranquilo. A Bíblia traz uma das histórias mais lindas, que mais aprecio, que é a transformação de Saulo para Paulo. Saulo perseguiu os cristãos, se transformou através das mensagens de cristo e se tornou um dos grandes apóstolos. Ele foi decapitado e quando se dirigia para o local de decapitação, tinha toda a serenidade, por conta da missão cumprida”, declarou, na manhã desta quinta-feira (27), em entrevista à rádio Capital FM.

O parlamentar ainda recorreu a uma letra de rock para justificar a mudança de opinião.“Então, o homem não deve ter compromisso com o erro. E fecho com Raul Seixas, que dizia que prefere ser uma metamorfose ambulante”, completou.

O tucano afirmou que defende a retomada da obra porque a conclusão do VLT é um passo importante para o Estado. "O acordo para a retomada das obras foi feito entre o Governo do Estado e o Consórcio, por orientação da Justiça Federal, e agora a Assembleia aprovou o relatório. Desde 31 de março, encontra-se no Ministério Público Estadual, com o prazo de 30 dias, e também está, desde 10 de abril, no Ministério Público Federal. Então, em meados de maio, no mais tardar, essas duas instituições estarão dando seus pareceres”, disse.

Wilson Santos evitou comentar como ficará a devolução de R$ 541 milhões aos cofres públicos, por parte do Consórcio VLT. Conforme apurações da CPI, a empresa teria desviado o montante durante o início das obras do modal. A medida era um dos itens que constavam na emenda que determinava a rescisão do contrato do Estado com o consórcio, derrubada pelos parlamentares.  

"A resolução, no seu artigo segundo, estabelece para quais instituições que o parlamento estadual vai encaminhar o relatório. Isso agora não é mais com o parlamento. O inquérito terminou, o parlamento não tem poder de condenar, absolver ou julgar, ele apenas encaminha a documentação e essas instituições, que são órgãos de controle, receberão a documentação e farão análise. A partir de então, eles julgarão se devem oferecer denúncia ou não”, esquivou-se.