Cidades

Terça-Feira, 06 de Maio de 2025, 09h08

GESTÃO PÚBLICA

Oficina provoca reflexão e fortalece cultura da inovação no TJMT

Da Redação

 

“Inovar em governo: isso importa?”. Essa foi uma das perguntas que abriu a Oficina “Let’s Gov – Capacitação em Gestão e Operação de Laboratórios de Inovação”, na etapa realizada nesta segunda-feira (5 de maio), pelo Poder Judiciário de Mato Grosso.

Por meio da plataforma Microsoft Teams, o encontro marcou o início de uma imersão de três dias com especialistas renomados na inovação pública nacional, reunindo representantes do Judiciário mato-grossense, Ministério Público, do Executivo Estadual e outras instituições parceiras, a fim de transformar a gestão pública com criatividade, colaboração e propósito. 

Promovida pelo Laboratório de Inovação do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (InovaJusMT) e apoio da Escola dos Servidores do Poder Judiciário, a oficina foi mediada pela fundadora da WeGov, Gabriela Tamura, que estimulou o debate sobre as experiências transformadoras no campo da gestão pública, resgatou historicamente as ações do WeGov e apresentou estratégias para tornar a inovação algo concreto e mensurável. 

Durante a abertura, a coordenadora do InovaJusMT, juíza Joseane Carla Ribeiro Viana Quinto Antunes, destacou que a iniciativa integra o esforço da atual gestão para disseminar a cultura da inovação institucionalizada, preparando o Judiciário mato-grossense para os desafios do presente e do futuro, assim como precede o Plano de Gestão 2025-2026 do TJMT, sob presidência do desembargador José Zuquim Nogueira. “Nosso objetivo é garantir que os laboratórios de inovação não sejam apenas espaços físicos, mas ambientes vivos, colaborativos e integrados à realidade dos nossos serviços”, ressaltou. 

O primeiro palestrante foi Álvaro Gregorio, professor da Universidade de São Paulo (USP). Ele foi coautor do livro Inovação no Judiciário e criador do primeiro laboratório de inovação governamental da América Latina, que falou sobre como a inovação pode, e deve, fazer parte da prestação de serviços públicos de qualidade. Ele alertou que o setor público também enfrenta concorrência. “Onde o Estado não está presente, outros ocupam o espaço”. 

Ele reforçou que a inovação verdadeira vai além da melhoria incremental. Envolve, por exemplo, complexidade organizacional, capacidade tecnológica, criatividade, escalabilidade e, acima de tudo, praticidade de uso para o cidadão. “O impacto social precisa estar no centro de qualquer inovação pública. A pergunta não é apenas o que podemos mudar, mas para quem estamos mudando e por que isso importa”. 

O professor sugeriu que a inovação no setor público precisa estar amparada em quatro estruturas para acontecer de forma sólida e contínua: normativa, que garante respaldo legal para que novas ideias possam ser implementadas com segurança jurídica; organizacional, responsável por definir como a instituição se articula internamente; física, com espaços flexíveis, acolhedores e voltados à interação humana; e integrativa, que trata sobre a capacidade da organização de conectar pessoas, setores e instituições diferentes. 

Ainda foi apresentado um modelo estratégico para estruturar a inovação no setor público, composto por cinco eixos interdependentes: a cultura de inovação, a capacitação contínua, a prospecção, os projetos e a governança clara e integrada. “Não se trata de fazer inovação por fazer, mas de conectar pessoas, processos e propósito para transformar o serviço público de forma consistente”, completou. 

Para Álvaro Gregorio, a inovação só se consolida no setor público quando passa a integrar a cultura organizacional. Para isso, segundo ele, é preciso implantar uma política interna de inovação, definir um conceito claro sobre o tema, criar programas de ideias com reconhecimento, promover eventos e palestras e incluir critérios de inovação na avaliação de desempenho dos servidores. Ele ressaltou ainda que a comunicação corporativa é estratégica nesse processo, pois dar visibilidade às ações inovadoras fortalece o engajamento, valoriza as iniciativas e ajuda a construir um ambiente institucional aberto à transformação. O professor ainda compartilhou a experiência na criação do primeiro laboratório de inovação do judiciário brasileiro, implementado no TRF-3: o iJuspLab. 

Nesse sentido, Welkey Costa do Carmo, do Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE), na sequência, expôs o case do LabLuz e todo o processo de aprendizado vivido pela unidade, entre erros e acertos, “navegando” rumo à execução do Plano Estratégico de 2030 da instituição cearense. E alertou para o papel estratégico, e menos operacional, que deve ser exercido pelos laboratórios de inovação. “Quando a gente começa a fazer essencialmente entregas, estamos trabalhando como um ‘subsetor’. Mas a essência dos laboratórios de inovação deve ser sobre testar, experimentar”, apontou. “A gente precisa ser prudente com as ideias apaixonadas, mas precisamos enxergar na ideia o teste de uma hipótese com aplicação de um método adequado”, completou. 

O palestrante ainda mostrou os métodos usados pelo LabLuz, como o Canvas, a fim de mensurar as entregas da unidade a partir das dores e problemas apresentados por magistrados(as) e servidores(as) que atuam no Judiciário cearense, tudo por meio de uma “jornada do cliente”. Foram apresentados exemplos de ferramentas elaboradas para áreas distintas como controle interno, vara criminal, comunicação, tecnologia da informação, cerimonial, entre outros. 

Também participou desse primeiro dia a coordenadora do Laboratório de Inovação de Controle Externo do Tribunal de Contas de Santa Catarina (Lince/TCE-SC), Tatiana Custódio, que falou sobre inovação aberta no Estado e os principais desafios enfrentados na estruturação da referida unidade, que tem como foco a fiscalização de obras e compras públicas. “A inovação é realizada por pessoas e para pessoas”, lembrou. “Dependendo do projeto, é escolhida a forma que se tratará a inovação aberta que, nada mais é que a busca externa por instrumentos que não detemos e não dominamos, sejam start ups, universidades, empresas, ou outras estruturas”. 

Onze desafios já foram apresentados na Corte de Contas catarinense, todos em conformidade com o Planejamento Estratégico do TCE-SC. “Começamos do jeito possível e vamos encarando os desafios e as dores, especialmente como órgão de controle, deixando tudo da maneira mais transparente”. Entre eles, estiveram ferramentas ligadas a atos de pessoal, empresas de fachada, compras de equipamentos de TI, varredura nos diários oficiais, custos da educação, auditoria financeira, por exemplo. Nesse sentido, a auditora do TCE-SC reforçou que o laboratório de inovação sempre foi provocado pelas áreas demandantes. “É entender que o Lince ajuda e não concorre e que está em aprendizado constante”, pontuou. 

Programação - A programação segue nesta terça-feira e quarta-feira (6 e 7 de maio), de forma presencial, na Escola dos Servidores do Poder Judiciário de Mato Grosso, com atividades práticas e aprofundamento de temas como carta de serviços, perfil e vocação de iniciativas inovadoras, formação de multiplicadores, engajamento institucional e criação de ambientes propícios à inovação. 

Além de fortalecer a cultura da inovação no TJMT, a oficina também contribui para o posicionamento do Judiciário mato-grossense junto ao Prêmio CNJ de Qualidade, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que reconhece as boas práticas em todo o país. “A gente entende que a inovação deve acontecer em rede e assim vem funcionando com projetos muito interessantes. É sempre bom aprender com quem tem experiência na área e esperamos caminhar na mesma trilha que todas essas instituições estão construindo junto ao setor público. Queremos inovar para que o usuário, o cidadão, tenha uma prestação de serviços públicos de forma eficiente, em especial desfrutar de serviços judiciários de forma eficaz”, endossou a magistrada.

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