Opinião

Quarta-Feira, 16 de Julho de 2025, 13h05

Rodrigo Rodrigues

Menos Horas, Mais Vida

Rodrigo Rodrigues

 

Em um tempo em que a produtividade é exaltada como virtude suprema, uma pergunta precisa ser feita com coragem: para quê — e para quem — serve o excesso de trabalho? Reduzir a carga horária semanal sem redução de salário tem se tornado pauta essencial em debates sobre saúde mental, qualidade de vida e dignidade no trabalho. E essa discussão ecoa de forma dramática e poética na música Construção, de Chico Buarque.

A canção, lançada em 1971, é um retrato brutal da alienação do trabalhador. “Amou daquela vez como se fosse a última / Beijou sua mulher como se fosse a última / E cada filho seu como se fosse o único…” Os versos repetitivos e hipnóticos descrevem o último dia de vida de um operário da construção civil, esmagado pela rotina e, literalmente, pelo peso do sistema. O trabalhador vive, ama e morre sem nome, sem voz, sem pausa — como tantos brasileiros ainda hoje.

A jornada de trabalho de 44 horas semanais no Brasil — uma das maiores do mundo — suga o tempo que deveria ser dedicado à convivência familiar, ao lazer, à cultura, à saúde física e mental. Pesquisa após pesquisa comprovam: trabalhar menos melhora a produtividade, diminui afastamentos por doenças e reduz os níveis de estresse e burnout. A experiência internacional, como a jornada de quatro dias testada em países como Islândia, Reino Unido e Japão, tem mostrado que é possível manter (ou até aumentar) a eficiência com menos tempo de expediente.

Mas, no Brasil, o trabalhador continua subindo “a construção como se fosse máquina”, como canta Chico. A lógica do “produza ou pereça” persiste — com corpos que tombam na labuta, com mentes exaustas e com vidas que se esvaem antes da aposentadoria.

Reduzir a carga horária não é um luxo. É uma política pública urgente. É uma forma de reconhecer o ser humano por trás do crachá. É dar tempo para amar como se fosse sempre, e não como se fosse a última vez. É dar ao trabalhador o direito de não ser só mais um “fato urgente” nas estatísticas de acidentes e doenças ocupacionais.

Se quisermos um país mais justo, mais saudável e mais feliz, temos que ter coragem de reescrever a rotina, e não apenas aceitar o roteiro trágico que a música de Chico Buarque denunciou há mais de 50 anos.

Porque, no fundo, ninguém nasceu para “morrer na contramão atrapalhando o tráfego”.

- Rodrigo Rodrigues, jornalista, empresário e graduado em gestão pública.

Comentários (1)

  • Carlos Nunes |  16/07/2025 18:06:12

    Pois é, passar do 6X1 pro 4X3 é proposta da Deputada Federal ÉRICA HILTON. Perguntada se sua proposta fundamenta-se em algum Estudo Técnico sério, ela respondeu que não houve Estudo nenhum. Em compensação, a Federação do Comércio de São Paulo fez esse Estudo e concluiu que o tal 4X3 é péssimo pro Brasil. Em termos de Produtividade. A lógica indica isso. Pelo 4X3, uma Empresa trabalhará 4 dias por semana...se quiser trabalhar nos outros dias, terá que pagar o salário EM DOBRO, horas extras. O que aumentará o CUSTO DO TRABALHO. Isso atingirá todas as profissões...e todas as Empresas (Públicas e Privadas). As Empresas Pequenas, Médias e Grandes suportarão esse aumento dos Custos? Terão dinheiro pra pagar salário em dobro, horas extras? Repassarão esse aumento dos Custos pro aumento dos Preços, aumentando a Inflação? Essa Proposta da tia ÉRICA sem um Estudo sério... é no mínimo irresponsável, pois afetará todo o país.

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