Polícia

Sexta-Feira, 31 de Maio de 2019, 18h40

JOGATINA EM MT

PJC prende captador de clientes em esquema chefiado por novo "comendador"

RODIVALDO RIBEIRO

Da Redação

 

Policiais integrantes do Grupo de Combate ao Crime Organizado (GCCO) prenderam na tarde desta sexta-feira Laender dos Santos Andrade. Ele é apontado pela investigação conduzida na Operação Mantus como suspeito de atuar em Rondonópolis (212 Km de Cuiabá) na captação de clientes apostadores do jogo do bicho para a organização criminosa Ello/FMC.

De acordo com o relatório do inquérito conduzido pelo GCCO e Delegacia Fazendária, dois membros da Ello, Glaison Roberto Almeida da Cruz e Dennis Rodrigues de Vasconcellos, viam Laender como alguém capaz de conseguir muitos clientes e, apesar de um não querer muito a presença dele no grupo, era melhor do que deixá-lo “solto” para se aliar ao grupo concorrente.

Isso seria ordem expressa de “Dom” (uma das alcunhas de Frederico Müller Coutinho, novo comendador e suposto operador do jogo do bicho em Mato Grosso). Segundo uma interceptação telefônica realizada no dia 7 de março do ano passado. Dennis e Glaison discutem o assunto.

“O Laender vai ser um cão de caça na rua distrubindo, mas ele [Dom Frederico] fica preocupado que do Laender não pagar a turma que indicar as pessoas, entendeu?”, manda Dennis, que ouve em resposta de Glaison: “eu acho que o Laender não vai mexer com o trem, cara. Larga mão desse troço de botar ele”. A resposta é lacônica: “mas o que que eu vou fazer com essa praga desse guri, cara? Deixara ele montar a rede dele mesmo, soltar ele?”. Depois, eles falam em definir um salário ou outra maneira de pagar o captador.

Para os investigadores, indícios mais do que suficientes para comprovar a participação do homem preso nesta tarde em Brasnorte (601 quilômetros da Capital) nos esquemas que teriam movimentado cerca de R$ 20 milhões somente em um ano e apenas em suas contas bancárias.

A Operação Mantus foi deflagrada pela Delegacia Especializada de Fazenda e Crimes Contra a Administração Pública (Defaz) e pela GCCO para o cumprimento de 63 mandados expedidos pelo juiz da 7ª Vara Criminal de Cuiabá, Jorge Luiz Tadeu.

Laender foi preso em Brasnorte

Essas ordens judiciais foram cumpridas em Cuiabá, Várzea Grande e em mais cinco cidades do interior do Estado. As investigações tiveram início em agosto de 2017 e conseguiram revelar duas organizações criminosas que comandam o jogo do bicho em Mato Grosso.

Uma dessas organizações seria a Colibri, liderada pelo ex-comendador João Arcanjo Ribeiro, e o genro, Giovanni Zem Rodrigues. A outra, a Ello/FMC, pertenceria a Frederico Müller Coutinho. Arcanjo sempre foi conhecido como "O Comendador" e é acusado de liderar o crime organizado em Mato Grosso durante as décadas de 1980 e 1990 e sonegação de milhões de reais em impostos, além de assassinatos, extorsão e diversos outros crimes, entre os quais, o de ser o mandante da execução do empresário Sávio Brandão no dia 30 de setembro de 2002.

Na Operação Mantus policiais civis cumpriram 63 decisões judiciais, sendo 33 mandados de prisão e 30 de busca e apreensão desde a quinta-feira (30). Uma lista com 20 nomes foi divulgada ontem, com mandados expedidos para cumprimento em Cuiabá, mas o citado genro de Arcanjo, Giovanni Zen Rodrigues, foi preso no aeroporto de Guarulhos, São Paulo, já dentro de um avião.

A Polícia Civil também prendeu duas contadoras da Ello FMC, presas preventivamente em Cuiabá. São elas: Indineia Moraes Silva e Madeleinne Geremias de Barros. A polícia revelou que os mandados de prisão foram cumpridos em Cuiabá, Várzea Grande, Tangará da Serra (241 km de Cuiabá), Sinop (479 km de Cuiabá), Sorriso (397 km de Cuiabá), Campo Verde (141 km de Cuiabá), Rondonópolis (217 km de Cuiabá) e Rio de Janeiro.

Frederico Müller  e João Arcanjo Ribeiro são apontados como chefes das duas organizações criminosas que disputavam clientes do jogo do bicho em MT

Na casa de Arcanjo no bairro Boa Esperança, em Cuiabá, os policiais apreenderam mais de R$ 200 mil, relógios importados e documentos que, em tese, comprovam seu envolvimento direto na organização criminosa. Já na casa de Coutinho, a polícia apreendeu pouco mais de R$ 1,7 mil, dinheiro este que seria usado para despesas cotidianas, e relógios importados.

Para os policiais, é verdadeira a lenda urbana corrente nas ruas, de que João Arcanjo Ribeiro jamais deixou de controlar o jogo do bicho, mesmo quando esteve preso no Uruguai e depois no Brasil. No período de 15 anos em que ficou trancafiado, quem cuidaria dos negócios seria o genro Giovanni, mas o Comendador teria retomado a liderança da jogatina ainda no início do ano, quando foi solto. Agora, à moda máfia italiana: dividindo a liderança em família.

Coutinho, aliás, seria fã confesso de Arcanjo, de quem teria escolhido seguir os passos criminosos até mesmo na hora de obter título semelhante de comenda, ainda que outorgada pela Câmara Municipal e não pela Assembleia Legislativa, como no caso do seu inspirador. Por meio da obsessão pelo ídolo, Dom Frederico teria conseguido criar organização mais articulada e melhor estruturada.

“A organização do Frederico, nos últimos dois anos, a gente tem certeza que atuava e ela estava atuando no mesmo sentido da organização do Arcanjo. Como eu disse anteriormente, até o título de comendador, o senhor Frederico Coutinho buscou conquistar ali. Hoje nós podemos dizer que foram presos dois comendadores”, afirmou o delegado Damasceno durante a coletiva.

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