Após ter todos os inquéritos policiais oriundos da delação premiada do empresário Alan Malouf arquivados, o ex-governador Pedro Taques, em entrevista à Rádio Cultura, nesta sexta-feira (15), comentou o que pode ter levado o empresário a mentir nas acusações e contou os reflexos disso em sua vida pessoal e política. 

Em 2016, Malouf fez uma série de acusações contra o então governador Pedro Taques que resultou na instauração de 10 inquéritos, todos eles arquivados, sendo o último arquivamento no dia 5 deste mês. De acordo com a denúncia, Malouf teria procurado o ex-secretário da Casa Civil da gestão do ex-governador Silval Barbosa, Pedro Nadaf, para pedir auxílio em encontrar empresários que pudessem ajudar a saldar as dívidas de campanha de Pedro Taques. 

Para o ex-procurador federal, a pressa e o Lavajatismo contribuíram para que o empresário pudesse ter feito as acusações "indevidas" e "sacanagens" contra ele, além de perder a reeleição. "Não existia um fato, o cidadão mente, o procurador-geral naquele momento histórico o Brasil vivia aquilo que foi denominado o Lavajatismo, e não provou nada. Eu perdi a reeleição, por vários erros estratégicos, políticos, mas esses fatos contribuíram", avaliou.

Segundo a Polícia Federal, a denúncia de caixa dois contra Taques não era sustentada por nada além do depoimento do delator. "A imprensa tem que divulgar, eu sou um democrata nunca processei nenhum jornalista, na verdade processei um jornalista que me ameaçou de morte foi condenado por isso e se suicidou e quase matou uma pessoa, mas fora isso não processei porque a imprensa é livre e não pode ser diminuída, mas nessa sociedade em que um escândalo supera outro não há tempo para se mostrar a verdade e isso é ruim para a democracia", destacou o ex-governador.

Em troca das acusações, Malouf recebeu redução de pena e imposição de uma multa — cujas parcelas se encontram em atraso e são objetos de incidente de quebra de acordo de delação premiada. A motivação para a delação teria sido vingança pela recusa de Taques em assinar contratos na época em que comandava o Mato Grosso.

Questionado sobre o que teria levado Alan para mentir, Taques citou exemplo de contratos referentes à Secretária Estadual de Comunicação, uma dívida sobre a posse dele como governador além de uma ação de desapropriação contra o Estado, no valor de R$ 220 milhões, na qual, segundo ele, o Governo do Estado recorreu. "No meu governo não recebeu [dinheiro], imagina se esse cidadão está contente comigo, aí ele fez a delação", explicou o ex-gestor. 

Sobre os reflexos e prejuízos causados em sua vida pessoal, uma vez que não foi reeleito em 2018, Pedro Taques disse que a família foi a maior afetada, mas que durante todo o tempo acreditou que a verdade iria aparecer e trabalhou para isso. Ele contou que abriu um escritório juntamente com outros três advogados e passou a fazer uma defesa ativa para mostrar que a delação de Alan Malouf não passava de uma mentira. 

"Quem escreve a história é quem vence e a primeira vítima é a verdade. Mas isso vai além da vida eleitoral, isso contamina a sua família, minha carreira, minha mãe viveu isso, minha filha que vive em São Paulo, meus amigos não precisam provar nada porque eles me conhecem, os adversários eu não quero saber. Não tenho tempo para odiar quem me odeia", desabafou o jurista.

Na última quarta-feira (13), a juíza Rita Soraya Tolentino de Barros, da 51ª Zona Eleitoral de Cuiabá, acatou um pedido do Ministério Público de Mato Grosso (MP-MT) e determinou a instauração de um inquérito para investigar Alan Malouf por causa do acordo de colaboração premiada "furado".