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CENTRO HISTÓRICO

Ambulantes vivem incerteza em Cuiabá

 

MARIA KLARA DUQUE
Gazeta Digital

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Há quem veja apenas barracas e mercadorias espalhadas pelas calçadas da rua 13 de Junho, no coração de Cuiabá. Mas para cerca de 120 vendedores ambulantes, o espaço representa bem mais que um ponto de venda: é onde histórias de luta, sustento e dignidade se desenrolam todos os dias, há décadas.

Na última segunda-feira (5), a Prefeitura de Cuiabá, por meio da Secretaria Municipal de Ordem Pública (Sorp), iniciou as notificações determinando que todos os ocupantes de estruturas móveis deixem o local em até 30 dias. O documento não oferece respostas claras, tampouco uma alternativa concreta para os trabalhadores.

Natal Frazão vende cremosinho, no Centro, há 25 anos. Legalizado, com CNPJ, MEI, inscrição estadual e Termo de Permissão de Uso em mãos, ele foi surpreendido pela notificação. “Não sei porque recebi. Tenho tudo certo. Só quero entender se também estou sendo retirado ou se houve um engano. Estou aguardando uma resposta da prefeitura”, desabafou.

Natal vende entre 200 e 250 unidades do refresco por dia. Sua clientela fiel sabe exatamente onde o encontrar. Uma mudança, para ele, representa o risco direto na renda e sustento da família. “É com isso que a gente vive. Não é só um carrinho de cremosinho, é meu sustento.”

Sem rumo, sem respostas 

Outros ambulantes, muitos sem condições de formalizar o negócio ou que já passaram por experiências frustrantes com boxes pagos e pouco movimento, relatam abandono e insegurança. Uma vendedora, que preferiu não se identificar, lembrou o esforço em tentar seguir as regras. “Aluguei um box na Galeria Central. Paguei R$ 550 por mês, mas teve mês que só vendi R$ 250. Como se sustenta assim? Vim para a rua porque era o único jeito.”

Ela diz que não é contra a retirada, mas exige dignidade. “Só queremos um lugar justo para trabalhar. A gente tem vontade, tem coragem. Só falta apoio. A gente está aqui para sustentar nossas famílias, não para atrapalhar ninguém.”

Sem diálogo

Jonathan, vendedor de ervas medicinais há mais de 5 anos, diz que nunca recebeu explicação sobre a remoção, sequer conseguiu regularizar sua banca. “Já tentei muitas vezes, mas nunca assinam a TPU. Sempre falam que o sistema está fora do ar. A gente quer fazer certo, mas ninguém ajuda.”

Geraldo de Jesus, que vende eletrônicos há 10 anos, vê o comércio ambulante como parte de quem é. “Não me vejo fazendo outra coisa. Eu vou continuar vendendo, de um jeito ou de outro. É disso que eu vivo.”

Cansados de serem invisíveis

Os relatos se repetem: anos de dedicação, mercadorias apreendidas, perseguições e, agora, a ameaça de serem apagados novamente. A retirada dos ambulantes da rua 13 de Junho não é nova, já aconteceu em 2016 e outras vezes, sempre sem solução definitiva. Agora, o sentimento que prevalece é o mesmo: insegurança, abandono e luta por respeito.

“Somos trabalhadores. Somos pais, mães, filhos. Queremos ser ouvidos, não varridos”, resume um ambulante.

Enquanto a prefeitura fala em organização, do outro lado da calçada estão aqueles que veem seu ganha-pão ameaçado, não por escolha ou descuido, mas por falta de apoio real.

O GD entrou em contato com a Prefeitura de Cuiabá, que informou por meio de nota que "o objetivo é garantir a reordenação das atividades comerciais informais, conforme recomendação do Ministério Público de Mato Grosso (MPMT), e atender às demandas da população, especialmente das pessoas com deficiência, que têm sua mobilidade prejudicada pela obstrução das vias públicas".

Confira nota na íntegra

A Prefeitura de Cuiabá, por meio da Secretaria Municipal de Ordem Pública (Sorp), iniciou nesta segunda-feira (5) a organização do comércio ambulante na região central da cidade, com a notificação de cerca de 120 comerciantes. A estimativa é que aproximadamente 160 ambulantes ocupem de forma irregular as calçadas dessa área.

Como parte da ação fiscal, foi realizada a entrega da notificação pública geral, reforçando o caráter oficial da medida e orientando sobre as etapas do processo de reorganização. O objetivo é garantir a reordenação das atividades comerciais informais, conforme recomendação do Ministério Público de Mato Grosso (MPMT), e atender às demandas da população, especialmente das pessoas com deficiência, que têm sua mobilidade prejudicada pela obstrução das vias públicas.

Importante destacar que os ambulantes legalizados possuem a TPU (Termo de Permissão de Uso), documento necessário para comercialização de alimentos. Esses trabalhadores estão em situação regular e têm permissão para permanecer apenas no ponto indicado em sua licença.

A Prefeitura segue trabalhando na identificação detalhada dos comerciantes, que atuam na região. Três alternativas de locais para realocação estão sendo estudadas na região central. Esse processo será discutido com o prefeito Abílio Brunini, com a colaboração dos próprios trabalhadores ambulantes e o apoio de secretarias como a de Desenvolvimento Econômico, que poderá auxiliar na formalização dos comerciantes, promovendo maior segurança jurídica.





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