Cidades Sábado, 20 de Julho de 2024, 16h:05 | Atualizado:

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ENTREVISTA

Especialistas explicam 'dor da traição', tipos e impactos na saúde

 

GAZETA DIGITAL

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Shakira, Beyonce, Luisa Sonza e mais recentemente a cantora Iza. Além de artistas aclamadas do pop, com carreira consolidada de sucesso no meio musical, existe ainda outro ponto em comum entre elas: todas foram traídas pelos companheiros durante o relacionamento. O escândalo da traição no mundo dos famosos revela que a infidelidade ganha outra proporção devido à visibilidade que os relacionamentos têm na mídia, assim como as expectativas dos fãs em torno dos casais. 

Contudo, a realidade que atinge até mesmo aqueles que estão sob os holofotes é corriqueira, infelizmente. Segundo a pesquisa “Radiografia da Infidelidade e Infiéis no Brasil 2022”, 8 a cada 10 brasileiros já traíram. O levantamento aponta que os homens são os mais infiéis, somando 91%. Além disso, 7 em cada 10 entrevistados consideram que é possível amar e ser infiel. Já um em cada 10 brasileiros estaria disposto a ser infiel se fosse garantido o anonimato.  

As cofundadoras do perfil @coisasdecasal.psi, as psicólogas Adriana Ogawa e Juliana Felippin comentam que estudos sobre o tema apontam que a traição pode ser considerada como uma das maiores dores experimentadas pelo ser humano. As especialistas descrevem que as consequências psicológicas da traição no indivíduo traído podem ser tão devastadoras que afetam profundamente a saúde mental, emocional e até mesmo física. 

Além de comentar os tipos de traição existentes e seus efeitos sobre as pessoas traídas, as profissionais conversaram com o GD outras questões relacionadas à quebra do acordo de relacionamento e confiança. 

GD - O que define uma traição em um relacionamento amoroso? Quais circunstâncias e aspectos estão envolvidos?

Psicólogas Adriana e Juliana - A infidelidade pode ser definida como um momento onde há quebra de confiança em um parâmetro de sustentação da relação. De forma geral, a possibilidade de infidelidade numa relação é a falta de comunicação que gera desconexão, desentendimentos e ressentimentos. 

Assim, a intimidade vai se perdendo diante das correrias do dia a dia, das justificativas, dos problemas, oportunizando um afastamento e frustrações, logo, como mecanismo compensatório um terceiro elemento pode entrar na relação. 

GD - Existe classificação de “tipos” de traição?  

Psicólogas Adriana e Juliana - Cada dupla fará seu contrato, que deve ser revisto de tempos em tempos. Até porque a vida se torna dinâmica e com o avançar no desenvolvimento do ciclo vital, novas demandas e necessidades se fazem presentes. 

Classicamente se tem como forma mais comum de infidelidade o contato sexual com outra pessoa, independente se tenha acontecido uma única vez ou se tornado um “caso”. O enamorar-se com alguém de forma presencial ou virtual, que envolva troca de informações pessoais, bem como através do uso de pornografia, onde o mundo de fantasias se torna mais atrativo que a vivência real. 

Envolvimento emocional com fantasias, trocas de confidências e carências. A infidelidade financeira também é bastante comum, onde se criam mentiras e enganos denotando falta de transparência e comprometimento com as necessidades da família, não comunicar o quanto ganha, não falar sobre seus verdadeiros gastos. Infidelidade por lealdade à família de origem, pode enveredar por um caminho de negligências com a família atual que gera efeito e impacto financeiro e, especialmente, os afetivos. 

Logo, traição é tudo aquilo que é entendido como quebra de confiança por uma das partes e que ferem o compromisso conjugal. 

psicologas adriana e juliana

 

GD - Que efeitos este ato pode causar ao psicológico de uma pessoa? De que forma a pessoa traída pode ser afetada emocionalmente e até fisicamente? 

Psicólogas Adriana e Juliana - Segundo alguns estudos e teóricos do assunto, a traição é uma das maiores dores experimentadas pelo ser humano. As consequências psicológicas da traição no indivíduo traído podem ser tão devastadoras que afetarão profundamente sua saúde mental, emocional e até mesmo física, por um tempo significativo. 

Sentimentos de rejeição, menos valia, baixa estima, angústia, humilhação, desespero, raiva, mágoa e, inclusive, desejo de vingança ou retaliação. A culpa também pode ser um sentimento comum, pois a pessoa começa a refletir onde ela pode ter contribuído para tal desfecho. 

Neste contexto, é perigoso acessar as referências de autovalor e merecimento, como se houvesse uma razão para merecer sofrer. Aspectos sociais e religiosos neste momento também são colocados em xeque, pois a vergonha do acontecido tolhe a pessoa de convivências e manutenção de vida funcional. 

Tendo o emocional abalado e possivelmente desesperançoso, experimentam uma profunda tristeza, alterações de sono, apetite, náuseas, gastrite, pensamentos negativos recorrentes, ansiedade generalizada, dificuldades na concentração e memória, crises de pânico confundidas com problemas cardíacos, respiratórios, intestinal e de equilíbrio. 

Estudos mostram que a situação emocional é tão dolorida que o corpo entende aquilo como tóxico. É uma tendência do corpo colocar para fora um veneno, aquilo que não está dando conta de digerir. Nestes quadros, também é comum o refúgio em substâncias psicoativas, tanto lícitas, quanto ilícitas. 

Vale salientar que cada indivíduo viverá a sua experiência que será única, a pessoa que foi traída vai passar por um trauma relacional. Considerando aspectos multifatoriais, como a própria personalidade, qual era o histórico deste relacionamento e se esta pessoa conta com rede de apoio para suporte emocional, esses fatores farão muita diferença nesse momento. 

GD - Ocorrem diferenças de como a sociedade encara o fenômeno social da infidelidade quando praticada por um homem e quando praticada por uma mulher? Alguma delas é mais “naturalizada” enquanto a outra é mais “julgada”? O que explicaria isso? 

Psicólogas Adriana e Juliana - Aqui entramos em possíveis sistemas de crenças, que podem ser tanto individuais quanto coletivos. Somos atravessados por informações que agregamos desde que nascemos, balizadas em especial por nossas vivências familiares. Mas é inegável que em nossa sociedade ainda haja mandatos de gênero. 

Historicamente, sabemos que o concubinato ou a extraconjugalidade masculina era algo “tolerado” socialmente até boa parte do século passado, e a sexualidade feminina, por sua vez, ainda é tabu, relembrando que infidelidade não é somente de cunho sexual, como citado anteriormente. 

Estudos nos trazem que os homens se casam para ter uma família e as mulheres para ter uma relação de amor. Isso talvez explique por que as mulheres são mais críticas na qualidade de uma relação. Para elas, a infidelidade emocional tem um peso muito grande, e para os homens é a infidelidade sexual. Atualmente estamos em um momento onde homens e mulheres vivem ou já viveram episódios de infidelidades. 

GD - Uma traição pode ser um fator desestabilizante e causador de perda de autoestima para um indivíduo. Que recomendações vocês dariam a uma pessoa que acabou de passar por uma situação de traição? 

Psicólogas Adriana e Juliana - Comentamos sobre a profundidade da dor da infidelidade para quem sentiu a traição. Contudo, também devemos considerar que a outra parte também pode desejar genuína, emocional e fisicamente reparação e reconstrução, e isso é possível. 

Um relacionamento afetivo maduro, em constante revisão, onde cada uma das partes se dispõe a evoluir, pode, de forma transparente e amorosa, assumir erros, pedir perdão, ter tempo e condições de reparar. Qualquer ser humano está passível a enganos, pois toda história contempla atravessamentos e influências sócio-histórico-culturais-familiares. 

A nós profissionais que trabalhamos com essas demandas, não pode haver espaço para julgamentos, exclusões ou reprodução de preconceitos. A escuta possibilita compreender dinâmicas ocultas, e num processo como esse, o reencontro é indicado para aparar arestas, despedidas respeitosas, e quiçá, um novo encaminhamento. 

Essa possibilidade não enquadra manter-se em relacionamentos desrespeitosos e que firam a dignidade do indivíduo. Existem relacionamentos fadados ao fracasso. Existem relacionamentos que podem ser reeditados, ainda que contenham cicatrizes. Existe vida afetiva e amorosa após perder alguém de forma tão dolorosa. O vazio do outro, só ele irá preencher. 

Busque seu autoconhecimento. Reconheça-se como uma pessoa apta a desenvolver bons relacionamentos. Toda vivência traz experiências. “Não te demores onde não te cabes”. Onde está sua força? Quem é você no amor? Qual é sua forma predominante de demonstrar amor? Como você entende o Amor? O amor é uma construção que exige cultivo diário, algumas renúncias, mas acima de tudo respeito, reciprocidade e cuidado.





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