Música solene que marca a personalidade de uma cidade, os hinos são canções que despertam sentimentos de orgulho e pertencimento em um povo, além de exaltar as belezas, raízes e potencialidade de uma nação. Com a letra de Cuiabá enaltece suas riquezas e, no próximo dia 10 de abril, este símbolo completa 63 anos oficialmente.
De acordo com o compositor, maestro, poeta e professor aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, Abel Santos Anjos Filho, a exaltação de certos termos e elementos é pensada para valorizar e potencializar estes aspectos, como componentes naturais, econômicos e sociais que fazem parte de uma terra.
“A bandeira, o hino, o brasão são os símbolos oficiais de uma cidade, estado, país e servem para identificar o seu povo em suas características mais importantes. O objetivo é fazer com que as pessoas que vão cantá-lo, não só hoje, mas no futuro, se lembrem que essa terra teve um passado histórico, que tem belezas sem igual, que cultiva o valor do bravo descobridor”, explica.
Abel, que foi responsável por escrever o hino da bandeira de Mato Grosso e tem larga experiência com composições, descreve que a representatividade que se espera de um hino é que sejam colocados nele tudo aquilo que o tempo não possa apagar ou mudar.
“Já participei como banca de concurso de hinos e escreveram sobre o algodão, a soja, isso é hoje, daqui a 100 anos a soja pode ter ficado em desuso. Quem cuida da parte da letra, a parte poética, deve pensar em uma representatividade das coisas que são imortais. Para quando as pessoas ouvirem o hino, sintam pertencimento, orgulhosa por saber que ela mora numa cidade que já foi palco de grandes histórias”, comenta.
Em relação ao hino de Cuiabá, Abel conta que foi oficializado em 10 de abril de 1962, na gestão do prefeito Hélio Palma de Arruda. Ele descreve a canção como um verdadeiro encontro de personalidades grandiosas.
Escrito em 1962 por Ezequiel Pompeu Ribeiro de Siqueira e com melodia de Luiz Cândido da Silva, a canção tem uso de termos marcantes da formação da capital e destaca como a cidade é rica de “ouro”, o seu “tesouro”, a religiosidade expressa pelo “Senhor Bom Jesus” a “Deus as orações”, as belezas da “Cidade-luz”, do “bravo descobridor Pascoal Moreira Cabral”.
“Você percebe que ali tem o céu, a fé do povo cuiabano, fala das riquezas, da origem de como foi fundada nossa região, é uma homenagem ao Bandeirante Pascoal Moreira Cabral”, narra.
Ezequiel nasceu em 1888 e morreu 4 anos após o hino ter sido oficializado, em 1966. Foi um poeta, professor, jornalista, colega de escola de José de Mesquita. No seminário, estudou com Dom Francisco Aquino Correia e falava 12 idiomas. Desapegado da parte financeira, doava a parte do que ganhava para caridade, principalmente para ajudar os fieis da igreja de São Benedito.
Luiz Cândido era maestro, compositor, deixou obras de grande importância para além da melodia do hino, como uma sinfonia em 3 atos chamada de Sinfonia Cuiabana, considerada, segundo Abel, uma obra-prima feita para dedicar aos 250 anos de Cuiabá na época. Fundou diversas orquestras musicais, não só em Cuiabá, mas como pelo interior desse estado onde Mato Grosso.
Em relação à estrutura da música, Abel cita uma estrutura clássica, influenciada pelas marchas solenes, tipicamente de hinos cívicos brasileiros.
“Ela tem um aspecto solene, totalmente vibrante, tinha que exaltar Cuiabá e o andamento dela é marcial, cadenciado e firme. Ela tem uma harmonia bem tradicional do século XX. Mais tarde teremos o advento do jazz, do blues, da Bossa Nova, coisas que mudaram a harmonia tradicional que conhecemos, mas na época que foi feita a música, se usou harmonia padrão de obras tradicionais", explica.
Atualmente o Museu da Imagem e do Som de Cuiabá (MISC) carrega a importante missão de guardar a partitura original do hino cuiabano e preservar este elemento que faz parte da história da capital.
Veja o hino de Cuiabá
Cuiabá, és nosso encanto
Teu céu da fé tem a cor
Da aurora o lindo rubor;
Tens estelífero manto.
Coro
Cuiabá, és rica de ouro;
És do Senhor Bom Jesus;
Do Estado, a Cidade-luz;
És, enfim, nosso tesouro.
II
Recendes qual um rosal,
Enterneces corações,
Ergues a Deus orações,
Para venceres o mal.
Coro
Cuiabá, és rica de ouro;
És do Senhor Bom Jesus;
Do Estado, a Cidade-luz;
És, enfim, nosso tesouro.
III
Tens beleza sem rival
Cultuas sempre o valor
Do bravo descobridor
Pascoal Moreira Cabral
Coro
Cuiabá, és rica de ouro;
És do Senhor Bom Jesus;
Do Estado, a Cidade-luz;
És, enfim, nosso tesouro.