O bate-papo não é voluntário, o assunto incomoda, mas a reflexão é necessária. É neste contexto que 30 homens investigados em inquéritos por crime de violência doméstica participam nesta semana de mais uma rodada de encontros do projeto “Papo de Homem para Homem”. A iniciativa é da Polícia Judiciária Civil e tem o apoio do Ministério Público do Estado de Mato Grosso, que, além de ceder o auditório da Procuradoria-Geral de Justiça para os encontros, também integra a programação com a realização de palestras.
Segundo o facilitador do projeto, investigador Wilton Cesar Almeida Cardoso, integrantes do Núcleo de Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar do MPMT participam da iniciativa desde a sua criação, no ano de 2019. Nesta segunda-feira (7), a condução do bate-papo ficou a cargo do promotor de Justiça Tiago Afonso da Silva.
“Estou aqui para conversar com vocês, explicar o papel do Ministério Público e desmistificar a ideia de que o promotor de Justiça atua sempre para buscar a punição do acusado. Espero também contribuir para que vocês reflitam sobre os seus atos e possam se tornar melhores, principalmente, para aquelas pessoas que vocês amam”, destacou o promotor de Justiça, logo no início do bate-papo.
Ele explicou que o Ministério Público atua para atender às necessidades mais relevantes da sociedade, busca a igualdade entre os homens e mulheres e a paz nos lares. “O Ministério Público defende a sociedade e por isso exerce papel de protagonismo. Trabalhamos para garantir a efetividade da Lei Maria da Penha. Importante esclarecer que esta lei não se resume à repressão, ela também trata da assistência e prevenção no enfrentamento à violência doméstica contra a mulher”.
O promotor de Justiça falou sobre os vários atos de violência contra a mulher e enfatizou que a porta de entrada para o acionamento na Vara Especializada são os crimes de injúria. “A primeira atitude violenta do agressor não começa com o feminicídio, pois a escalada começa com os xingamentos e atos de humilhação”, alertou.
O representante do MPMT também esclareceu pontos relacionados à violência psicológica, perseguição ou stalking, violência patrimonial e cárcere privado. Lembrou que a frase mais comum nos inquéritos diz respeito a ameaças como “se você não for minha, não será mais de ninguém” e chamou a atenção sobre as consequências de atitudes desta natureza. “Foi um bate-papo extremamente importante e necessário. A proteção das mulheres passa também pela reeducação dos homens e da união de todos pelo fim da violência doméstica”, afirmou.
O encontro contou também com a participação do juiz de Direito da capital Jeverson Quintieri, que prosseguiu na condução dos trabalhos do dia, realizando uma dinâmica com todos os presentes, com a intenção de fazê-los meditar juntos sobre a origem dos episódios de violência no âmbito doméstico e as maneiras mais eficazes para evitá-la.
Os 30 homens que participaram do encontro integram a 10ª turma do projeto no ano de 2023. Segundo o investigador e facilitador da iniciativa, no ano passado 341 homens foram contemplados e desse montante somente 18 reincidiram. A participação no grupo reflexivo é determinada pelo Poder Judiciário, em regra, no momento da concessão de medida protetiva à vítima. Para cada turma são realizados três encontros.