Nos últimos 3 anos o número de abrigos para idosos aumentou em 42% em Mato Grosso, mas as atuais 40 instituições do gênero legalizadas ainda são poucas para a demanda, o que facilita a proliferação de abrigos clandestinos, como o que foi fechado há 2 semanas na Capital, no bairro Chácara dos Pinheiros.
De acordo com o Ministério Público do Estado (MPE), mesmo entre as entidades de abrigamento que funcionam legalmente, apenas 17, ou seja 42,5%, possuem instalações físicas em condições de habitabilidade e em 7 unidades não há acessibilidade para portadores de deficiência e idosos, além de 15 instituições não possuírem profissionais capacitados para tratamento de idosos.
Apenas em Cuiabá, são 6 abrigos para idosos e apenas 2 são filantrópicos, enquanto o restante é privado. Atualmente 3 unidades são investigadas pelo MPE por irregularidades sanitárias, estruturais e também o não cumprimento da legislação.
Seja por falta de condições familiares, onde muitos idosos são retirados dos lares por sofrerem ameaças e agressões, ou até mesmo pela falta de vínculos familiares fortes, não é incomum que esses idosos sejam abandonados nos abrigos e não recebam visitas de parentes ou qualquer tipo de auxílio financeiro.
Na Fundação Abrigo Bom Jesus, por exemplo, das 119 pessoas que lá moram, menos de 5 recebem visitas regulares, mesmo que a maioria das famílias tendo condições financeiras de visitar o idoso e levá -lo para passear aos fins de semana.
Sem apoio familiar, é comum que os idosos desenvolvam depressão e outras doenças psicológicas por se sentirem sozinhos, mesmo estando companhados 24 horas por dia de cuidadores e dos amigos que conhecem nos abrigos.
Entre os 15 idosos resgatados pela Prefeitura no abrigo irregular na Chácara dos Pinheiros e que agora moram na Fundação Abrigo Bom Jesus está Maria Auxiliadora da Silva, que se confunde na hora de falar sua idade, que quase não se lembra mais. Ela pouco lembra do local de onde foi resgatada, mas afirma que não gostava quando chovia, pois molhava o seu quarto.
Exceção entre os idosos abrigados, ela recebe visitas regulares do irmão mais novo que tem uma mulher doente e trabalha como policial e não tem condições de levá-la para casa. “Aqui é bem melhor, os quartos são limpinhos e a comida é boa, mas mesmo assim eu não gosto de jantar”. Maria conta que apesar de ter feito alguns amigos ainda sente falta de ter um lar para morar com a família. Sem filhos, depois de anos como empregada doméstica, ela chora ao lembrar como foi parar no primeiro abrigo. “Fiquei doente e sofri um derrame, minha cunhada não consegue cuidar de mim, mas queria poder voltar para casa. Aqui tratam a gente bem e dão roupa nova, mas não é a mesma coisa de estar em casa”.