A Primeira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça (TJMT) determinou a devolução de uma BMW X5 (2020) a um homem que alega ter adquirido o veículo de um "intermediário" de Andrew Nickolas dos Santos, apontado como diretor de um time de futebol de várzea (Amigos do WT), ligado à facção criminosa Comando Vermelho (CV). Os magistrados da Primeira Câmara seguiram por unanimidade o voto do desembargador Marcos Machado, relator de um recurso ingressado pelo comprador (um terceiro, que não teria envolvimento com a facção) contra uma decisão anterior do processo que negou a devolução.
A sessão de julgamento ocorreu no dia 27 de maio de 2025. Nos autos, o desembargador Marcos Machado revelou que o veículo encontrava-se em alienação fiduciária (tipo de hipoteca) com o banco Bradesco Financiamentos quando foi “vendido” ao terceiro, em abril de 2024, por um “intermediário”. A negociação ocorreu poucos dias após a deflagração da Operação Apito Final, que determinou o sequestro da BMW X5 e tinha como principal alvo Paulo Witer, apontado como tesoureiro-geral do CV em Mato Grosso, dono do time Amigos do WT.
As investigações apontaram que Andrew, além de ser um dos diretores do time Amigos do WT, também era o “mídia” da equipe, publicando posts em redes sociais e também distribuindo cestas básicas para famílias carentes. Em seu voto, o desembargador Marcos Machado chamou a atenção para o valor do veículo e sua depreciação no pátio sob as intempéries do tempo.
Ele permitiu que o comprador utilize a BMW X5 e permaneça em sua posse até o processo verificar se o carro de luxo, avaliado em mais de R$ 400 mil, possui origem lícita. “Verifica-se que o automóvel [BMW X5, cor azul, ano 2020] possui restrição [Renajud] de circulação [proibição de transitar] há mais de um ano – desde 4.3.2024 –, situação que pode gerar perecimento decorrente da falta de funcionamento de modo que o depósito evitaria ‘a depreciação do bem’”, ponderou o magistrado.
Paulo Witer é apontado como “homem de confiança” de Sandro Louco, o principal líder da facção criminosa no Estado, sendo conhecido como “Fiel Coroa” em razão de sua lealdade ao Comando Vermelho. Segundo investigações da Polícia Judiciária Civil (PJC), Paulo Witer usava o time de futebol amador "Amigos do WT" como forma de lavar dinheiro do crime organizado.
Ele foi preso em Maceió (AL) com o jogador Alex Junior Santos Alencar, onde acompanhava um campeonato, no fim do mês de março de 2024. A operação cumpriu 25 mandados de prisão e 29 de busca e apreensão, além da indisponibilidade de 33 imóveis, sequestro de 45 veículos e bloqueio de 25 contas bancárias ligadas a um esquema de R$ 65 milhões.
A Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO), da PJC, revela que Paulo Witer “usava” diversas pessoas - incluindo amigos, familiares e advogados atuando como “laranjas”' -, para adquirir imóveis, comprar e vender veículos, e também atuar na locação de carros. Conforme as investigações, mesmo sem ter renda lícita, os investigados compraram duas BMW X5, um Volvo CX 60, uma Toyota Hilux, duas VW Amarok, um Jeep Commander, um Mitsubishi Eclipse e um Pajero, além de diversos Toyota Corolla.
Cidadão do Bem
Terça-Feira, 03 de Junho de 2025, 10h44