O grupo criminoso liderado pelo ex-lobista e empresário Rowles Magalhães Pereira da Silva, preso durante a deflagração da Operação Descobrimento, utilizava a tecnologia para tentar despistar possíveis investigações e destruir provas que pudessem incriminá-los futuramente. A organização utilizava um aplicativo criptografado, onde as mensagens eram destruídas 30 segundos após serem visualizadas.
Além disso, bancos virtuais também eram utilizados pelos integrantes para repassarem e receberem dinheiro. Segundo a investigação da Polícia Federal, os criminosos utilizavam com frequência o aplicativo Sky ECC, popularmente conhecido como “SK”. O programa é criptografado e, além de destruir as mensagens enviadas após 30 segundos de visualização, também desabilita automaticamente as funções do microfone e do GPS nos aparelhos onde estão instalados.
“Os investigados da presente operação faziam uso constante do Sky ECC, referindo ao aplicativo como “SK”, “SKY” ou com a expressão “vai no outro”, ou seja, que deveriam conversar no outro aplicativo (SK) por ser mais seguro. Também foram repassados vários PINs (números e letras que identificam cada um dos usuários da rede do Sky ECC) e algumas fotos do aplicativo Sky ECC contendo mensagens relacionadas ao tráfico internacional de drogas”, diz o relatório da PF obtido pelo FOLHAMAX.
A Polícia Federal apontou, através de prints, mensagens onde Rowles e sua namorada, a doleira Nelma Kodama, também presa na operação, conversam sobre a importância de utilizar o aplicativo. Em um deles, a mulher alerta o ex-lobista estar sempre online no SK, para que eles possam se comunicar.
O SK é uma das plataformas de comunicação mais seguras que existem, que vinha sendo usada por traficantes para coordenar a chegada e distribuição da cocaína produzida em países da América do Sul e enviada, em sua maioria, pelos portos brasileiros. O Sky ECC é um sistema criado por uma empresa canadense. O diretor-executivo e os sócios da empresa responsável, a Sky global, foram indiciados na Bélgica por auxiliar o tráfico de drogas.
OPERAÇÃO DESCOBRIMENTO
A Operação Descobrimento foi deflagrada pela Polícia Federal para desbaratar um esquema de envio de drogas de Mato Grosso para Portugal. Ao todo foram cumpridos 43 mandados de busca e apreensão e sete mandados de prisão preventiva nos estados da Bahia, São Paulo, Mato Grosso, Rondônia e Pernambuco.
No país europeu, com o acompanhamento de policiais federais, a polícia portuguesa cumpriu três mandados de busca e apreensão e dois mandados de prisão preventiva nas cidades do Porto e Braga. As investigações tiveram início em fevereiro de 2021, quando um jato executivo Dassault Falcon 900, pertencente a uma empresa portuguesa de táxi aéreo, pousou no aeroporto internacional de Salvador (BA) para abastecimento.
Após apresentar problema em um dos três motores e ser inspecionado por equipes de mecânicos da empresa responsável pela manutenção, foram encontrados cerca de 595 kg de cocaína escondidos na fuselagem da aeronave. A droga era transportada no avião de uma empresa privada ligada ao lobista Rowles Magalhães Pereira da Silva, que ficou conhecido por denunciar um esquema de propinas nas obras do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT).
Além dele, também foi preso na operação o ex-secretário de Estado de Ciência e Tecnologia, Nilton Borgato. A partir da apreensão feita em Salvador, a Polícia Federal conseguiu identificar a estrutura da organização criminosa atuante nos dois países, composta por fornecedores de cocaína, mecânicos de aviação e auxiliares (responsáveis pela abertura da fuselagem da aeronave para acondicionar o entorpecente), transportadores (responsáveis pelo voo) e doleiros (responsáveis pela movimentação financeira do grupo).