Era outubro de 2018 quando moradores da região da Serra do Expedito, em Aripuanã (1.002 km a noroeste de Cuiabá) acharam as primeiras pepitas de ouro. O município já era famoso pela exploração de minério, mas viveu pela primeira vez a migração maciça de pessoas de diferentes cidades e estados em busca de ouro. Vídeos mostram o começo e também o desenvolvimento do garimpo que foi apelidado de "Nova Serra Pelada", em referência ao grande garimpo no Pará na década de 1980.
Menos de 15 depois mais de mil pessoas trabalhavam na área, a maioria delas sem nenhuma experiência com garimpo. Ao poucos a área foi tomada por barracas improvisadas, sacos com terra e até maquinários mais pesados como tratores.
Localizado a cerca de 10 quilômetros da zona urbana de Aripuanã, o garimpo ficou famoso após ser divulgado em um canal de mineração no YouTube, em 1º de novembro de 2018. Foram milhares de acessos em poucos dias e a fila para entrar no garimpo ilegal só crescia. Quem chegou primeiro demarcou o “território” e começou a cobrar taxas diárias para os novatos.
Em vídeo de um dos garimpeiros, em maio deste ano, é feito um alerta. É preciso investimento para trabalhar no lugar e achar ouro. "Querem pegar uma batela e uma calhinha. Isso não existe. Não pega ouro nem ali nem em lugar nenhum. É muito investimento. Não sai correndo feito um doido, porque pode voltar mais duro do que chegou lá".
Segundo a legislação brasileira, para extrair qualquer mineral é preciso pedir autorização para o governo Federal. Essa autorização, chamada de outorga, determina os limites da área para garimpagem e a forma como pode ser feita a exploração. Essa autorização é concedida pelo prazo de até 5 anos, podendo ser renovada por mais 5 anos pela Agência Nacional de Mineração.
Para conseguir a outorga é preciso tempo área que sejam cumpridos os processos que checam a área, se está próximo a local de conservação, se pode interferir em linhas de transmissão, entre outros critérios.
Com a chegada de mais pessoas, o garimpo da Serra do Expedido chegou a ter 3 mil pessoas. Mas nem todos os que ali estavam trabalhavam apenas com o garimpo ilegal. A região foi movimentada por diferentes tipos de comércio, inclusive o sexual.
A área tinha um hotel e 3 casas de prostituição que funcionavam 24 horas por dia. Por causa dos ganhos altos, o preço no garimpo era muito acima do praticado no mercado. Uma lata de refrigerante de cola, por exemplo, custava R$ 10 e somente com pagamento à vista.
Os garimpeiros não precisam nem mesmo sair da área para vender o ouro. Empresários e compradores ficavam sentados em bancos à espera dos trabalhadores que chegavam para vender o minério. Cada um desses “empreendedores” carregava valores altos, que podiam ultrapassar os R$ 10 mil por dia.
Mesmo no meio do mato, a tecnologia chegou ao garimpo ilegal de Aripuanã. Um dos “hotéis” do local oferecia internet com distribuição via Wi-Fi. O preço: R$ 20 por dia. O mesmo estabelecimento trazia um aviso pregado na parede: proibido atirar aqui dentro.
As armas eram comuns no garimpo ilegal. Seja os revólveres até às espingardas, andar armado fazia parte da rotina para se defender em meio a tantas pessoas que lutavam pelo mesmo objetivo.
A exploração ocorria tanto na serra, que tem aproximadamente 400 metros de altura, quanto no "baixão", área mais baixa da serra, onde centenas de pessoas lavavam a terra para encontrar o minério. Como a área fica em uma região de floresta amazônica também eram frequentes as picadas de cobra e ainda mais comuns os casos de malária, que são transmitidos por mosquitos infectados.
Quando a Polícia Federal e as Polícias Militar e Civil chegaram ao garimpo no dia 7 de outubro, encontraram homens, mulheres e até criança trabalhando no garimpo na busca pela realização do sonho de riqueza rápida.
Depois da retirada, que terminou com uma pessoa morta ao se recusar a sair do barraco, o desespero tomou conta dos garimpeiros. Logo depois eles decidiram permanecer na cidade e lutar pelo direito de garimpar.
Fizeram protestos, carreatas e tentaram derrubar carros da Polícia Federal. Sem conseguir retornar ao local, ele permanecem na cidade, grande parte em bares, à espera da saída das forças de segurança.
Para muitos, a esperança é que o governo Federal intervenha na situação e legalize o garimpo. Enquanto a mineração continua suspensa, o município segue em situação de emergência social. Já o prefeito Jonas Canarinho (PR) foi a Brasília para pedir ajuda na legalização da exploração e ganhou apoio do deputado federal Nelson Barbudo (PSL), mas ainda nenhuma medida efetiva foi toma.
Analista Pol?tico
Domingo, 20 de Outubro de 2019, 11h26