Há um ‘código de ética’ não assumido entre os clubes paulistas. Principalmente na base. De não ficarem ‘tomando’ um jogador da equipe que o descobre. Na semana passada, o noticiário mostrou um caso raro e que chamou muito a atenção. A saída de Lucas Flora do Corinthians.
Artilheiro, habilidoso, veloz e com personalidade, ele era apontado, com orgulho, por conselheiros, como a maior revelação dos últimos dez anos no Parque São Jorge. Mas, de repente, ele deixou de ir ao clube.E as informações deixam claro que seus pais se deixaram convencer que o Palmeiras é melhor, para o futuro do menino.
No Corinthians há a convicção que o dinheiro pesou. Sem comprovação, os valores são repetidos. Se o clube de Augusto Melo teria oferecido cerca de R$ 18 mil mensais, como ‘ajuda de custo’, o de Leila Pereira teria chegado a R$ 200 mil como ‘ajuda inicial’ à família. E mais R$ 15 mil mensais.
O detalhe é que, pela legislação brasileira, só a partir dos 12 anos, os clubes podem ter ligação formal com seus atletas de base. O Palmeiras nega ter participado de leilão. E ter oferecido dinheiro para ter o talento de Flora. Mas é certo que Flora já treinará no clube.
Fará parte do elenco especial de meninos talentosos, que incluiu também outra ‘joia’ Kevin Wallace, que deixou o Flamengo. Na Gávea, a acusação é que o Palmeiras também teria dado ‘muito dinheiro’ para a família do garoto de 11 anos. O clube paulista nega também.
Se contra o Flamengo não há revanchismo algum, a não ser pura concorrência, quanto ao Corinthians, conselheiros palmeirenses dizem o contrário. A direção teria ficado muito irritada com o assédio em João Paulo Sampaio, o coordenador da base do clube. Ele recebeu não um convite, mas três, para trocar de clube.
João Paulo Sampaio decidiu virar as costas às propostas do Corinthians. E ganhou aumento no Palmeiras. O coordenador é o responsável pelas revelações como Endrick, vendido ao Real Madrid, Danilo (Nottingham Forest), Luiz Guilherme (West Ham), Artur (Red Bull Bragantino e Zenit), Vitão (Shakhtar Donetsk), Gabriel Jesus (Manchester City), Fernando (Shakhtar Donetsk), Luan Cândido (RB Leipzig), Patrick de Paula (Botafogo) e Gabriel Veron (Porto-POR), além de Wesley (Cruzeiro).
Estevão está sendo disputado por gigantes como Barcelona, PSG, Bayern. A grosso modo, nos oito anos de Sampaio na coordenação, o Palmeiras gastou R$ 200 milhões, em toda sua base. Negociações, contratos. Mas já passou de R$ 2,2 bilhões em vendas de atletas. Ou seja, R$ 2 bilhões em lucro. Dinheiro que já seria suficiente para praticamente acabar com a dívida do Corinthians em relação ao seu estádio.
O assédio a João Paulo, em janeiro, não deu certo. Primeiro foi oferecido a ele a coordenação da base. Depois, do futebol profissional. Seu salário de R$ 400 mil, dobraria. Ele levou à direção do Palmeiras as ofertas corintianas.
E disse que gostaria de continuar no clube de Leila. Recebeu uma compensação, passou a ganhar R$ 600 mil e renovou seu contrato. Mas a direção palmeirense ficou ressabiada com a tentativa corintiana.
Daí, a consciência tranquila em relação a Lucas Flora. Prevalece a versão que o menino não quis seguir mais no Corinthians. E que sua família escolheu o Palmeiras. Conselheiros assumem o que ninguém da diretoria confirma.
Há um grande gosto de vingança no ar. A direção de Augusto Melo tentou tirar Sampaio. Acabou ficando sem o coordenador palmeirense. E ainda perdeu sua grande revelação, nos últimos anos. Lucas Flora.