O setor de varejo automotivo vai começar 2015 com queda nas vendas. O principal motivo é o retorno da alíquota cheia do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) desde 1º de janeiro, aliado a aumentos das taxas de juros nas fábricas e a restrição de crédito por parte dos bancos.
A avaliação é do presidente regional da Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), Manoel Guedes, ao lembrar que os empresários, que já enfrentaram 2 anos de aperto no desempenho de vendas, deixam de lado a grande expectativa gerada quando o governo federal desonerou o IPI para incentivar o crescimento da economia. A queda nas vendas já foi percebida em novembro de 2014, como revela levantamento da Fenabrave.
Segundo a entidade, houve diminuição em 10,71% na quantidade de automóveis e comerciais leves se comparado a outubro em Mato Grosso. Os dados de dezembro ainda não foram divulgados.
Guedes também avalia que Mato Grosso encerra o ano abaixo da média nacional, já que em todo o Brasil a queda foi de 7,1% em relação a 2013, enquanto por aqui a diminuição nas vendas foi em 4,5%. “Essa expectativa já era prevista no começo deste ano, e para o próximo biênio não vai ser diferente. A esperança está nas medidas mais eficientes da nova equipe de governo (federal), fugindo de ações que apenas remedeiem a situação econômica do país”.
Outro cenário apresentado por Guedes é que o Brasil demonstra ter chegado à estagnação quanto ao crescimento. “Para se ter ideia a capacidade de produção automotiva do país é de 5 milhões de veículos por ano, mas, o consumo não chega a 3 milhões. A solução seria criar um canal de exportação, suprindo a produção. Mas este não é um processo fácil, e se torna mais complicado para nós que não temos tantas condições favoráveis, que deveria proporcionar uma produção que vá ao encontro da demanda do mercado internacional”.
Uma exceção diante destes balanços é o que afirma o gerente comercial de uma concessionária em Cuiabá, Delibar Júnior. Ele diz ter alcançado resultados além de qualquer estimativa do setor. Segundo o gerente, a marca chinesa para qual trabalha estimava fechar o ano com aumento de 80% nas vendas.
Dois fatores teriam contribuído para essa diferenciação no mercado: o lançamento de modelos de carros populares no Brasil e a recente inauguração de uma fábrica em Jacareí (SP).
O Delibar Júnior concorda que em 2015 o cenário não vai ser tão positivo. Mas diz confiar na tendência da empresa em apostar nas inovações como o novo modelo que será lançado em fevereiro deste ano.
Já o diretor comercial de uma outra concessionária na Capital, Anderson Ives, viu o balanço de 2014 da empresa para qual trabalha acompanhar as quedas do setor. Ele elenca as razões: “Dois mil e catorze foi um ano atípico, tivemos Copa do Mundo, eleições gerais e tudo isso causou muita desconfiança no cliente. O caos encontrado nas ruas da Capital e região metropolitana provocado pelas obras de mobilidade, não incentivou a compra de novos veículos”.
Em contrapartida, o grupo realizou promoções, feirões, inclusive valorizou o carro usado na negociação do novo, e mesmo assim o cliente permaneceu longe. Ives ainda tem esperança que nos próximos dias o consumidor perceba que este fim de ano ainda é o melhor momento para comprar automóvel zero km aproveitando os últimos dias de IPI reduzido, e taxas juro zero ou muito baixas oferecidas pelas fábrica.
REPARAÇÃO VEICULAR - Já o setor de reparação automotiva (funilaria, mecânica e acessórios) vai ter aumento na demanda por serviço este ano. A motivação está nos 70 mil veículos que vão sair da garantia das concessionárias tornando-se potenciais clientes das oficinas.
A expectativa proporcionada pelos dados da Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) se une aos bons resultados conquistados em 2014, percebidos até o mês de setembro, quando o movimento nas empresas ainda estava acelerado. Quem está confiante é o diretor-executivo do Sindicato de Indústria de Reparação de Veículos e Acessórios de Mato Grosso (Sindirepa/MT), Carlos Costa.
Segundo ele, algumas obrigações como licença ambiental e alvará concedido pelo Corpo de Bombeiros, proporcionaram qualificação às oficinas e mais segurança aos clientes e colaboradores.
Embora o setor não registrasse aumento na quantidade de unidades no Estado, (2,530 mil oficinas) os proprietários investiram na qualificação dos colaboradores, o que permite capacidade para enfrentar os desafios deste ano sem tantas dificuldades.Essa busca por melhorar a qualidade de serviço foi reconhecida pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) que certificou a empresa de Davi Rosa Martins, 34.
Com 22 funcionários, a oficina em Cuiabá é especializada em manutenção de ar condicionado, freio e suspensão e chega a atender 300 automóveis por mês. Os quesitos avaliados para receber o selo foram qualidade de serviço, gestão de pessoas e conformidade às leis ambientais.
Tudo isso deixa o empresário e mecânico confiante para suprir a demanda nas oficinas. No entanto, ainda existe uma dificuldade a ser solucionada: a falta de mão de obra qualificada. Esta é a queixa do empresário, Anísio Conceição dos Santos, 54. Com apenas 9 colaboradores, ele reclama da falta de funcionários que sejam compatíveis às exigências da empresa, especializada em regulagem eletrônica e mecânica.
Há 18 anos à frente do negócio, Santos já tinha mais de 15 anos de experiência como mecânico e pelo menos 5 na gerência de oficina em uma concessionária quando resolveu abrir o próprio negócio. Agora, para solucionar o problema da falta de pessoas qualificadas está em busca de parceria com o Serviço Nacional da Indústria (Senai) para suprir a demanda do próximo ano.
VANTAGENS - O presidente do Sindirepa/MT, Carlos Costa, avalia que a procura pelas oficinas é motivada principalmente pelas vantagens proporcionadas ao bolso do consumidor. “Enquanto uma concessionária cobra em média R$ 150 por hora de serviço, a mesma atividade pode ser oferecida pelo valor de R$ 75 a R$ 95. Além do mais, o cliente economiza até 40% com mão de obra”.