Quando Cláudio Alberto Tomm, produtor rural e delegado coordenador do núcleo de Canarana, da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja MT), chegou ao leste do estado, o município de Canarana era praticamente só horizonte. Vindo do Rio Grande do Sul, o produtor enfrentou os desafios com a força de quem acredita no amanhã. Hoje, mais de três décadas depois, colhe o fruto mais valioso de sua trajetória, o olhar do filho Lucas sobre a mesma lavoura, guiado pelo legado que passa de pai para filho, o amor pela agricultura.
Natural de Ajuricaba, no interior gaúcho, Cláudio cresceu em meio à produção rural, na terra da família que ficava no município vizinho, em Palmeiras das Missões. Quando tinha entre 18 e 19 anos, seu pai e seu tio quiseram encarar novos desafios e isso o trouxe, junto com os pais e os irmãos, para Canarana, onde se estabeleceram definitivamente em 1989.
“A gente pensou em criar gado, mudar o foco um pouco, mas loguinho voltamos na lavoura, que é o que a gente sabe fazer. Meu pai era produtor rural no Rio Grande do Sul, então a gente sempre esteve nesse ramo, eu comecei com eles. Em Mato Grosso meu irmão cuidava mais da pecuária e eu fui entrando com meu cunhado na lavoura. Começamos e estamos até hoje, crescendo cada vez mais, graças a Deus”, recorda.
Foi nessa terra que conheceu Viviane, com quem se casou em 1996 e é quem toma conta da parte contábil da fazenda. Juntos, possuem três filhos. A filha mais velha, Cláudia, é médica, o caçula, Diego, estuda medicina e o do meio, Lucas, é quem desde pequeno demonstrou afinidade com o campo. “O Lucas, que é o do meio, gosta da fazenda, de trabalhar com máquinas, gosta de ver as coisas acontecerem e ele que vai ser o sucessor”, enfatiza.
Aos 24 anos, Lucas Roberto Tomm lembra bem dos primeiros momentos na fazenda e guarda consigo as memórias de quando ainda era um menino. “Eu sempre gostei, desde pequeno, das máquinas, de estar na fazenda, participar do dia a dia na fazenda. Sempre foi minha paixão. Gostava de ficar rodando roça, olhar as lavouras, pegar um trator e dar uma volta. As vezes a gente pegava um tratorzinho, um ‘jeriquim’, eu me sentava ao lado do banco e ia com ele. Sempre que podia estar junto, eu ia”, conta Lucas.
Durante sua adolescência, Lucas chegou a duvidar do próprio caminho, mas bastou imergir cada dia mais na lida do campo para perceber que era isso que queria fazer. “Na fase dos 16 anos, eu fiquei meio em dúvida, mas isso logo foi por água abaixo. Quis mexer com aeronáutica também, mas vi que não era para mim. Com 17 anos eu assumi mais essa responsabilidade de pegar um trator, ajudar a plantar, acordar cedo, dormir tarde e virar noite ali. Então, acredito que foi naquele momento que eu vi que era aquilo que eu queria, para mim foi maravilhoso, algo sem explicação. O negócio é a fazenda, é o que eu gosto, o que eu amo e é onde eu quero estar sempre”, afirma.
Há quase oito anos, iniciou ajudando o pai no plantio e aos poucos, ganhou espaço, confiança e responsabilidades. Agora, inicia a fase de transição para assumir, no futuro, a gestão da propriedade, um passo acompanhado com cuidado por Cláudio. “Agora ele vai começar a fazer parte da questão da gerência da fazenda. Para aprender as partes contábeis também. Para ele realmente aprender o que é uma fazenda de verdade. Para dar sequência e a hora, no momento oportuno, eu passar as coisas para ele tocar. Lógico, sempre de olho e dando uma olhadinha para ver se as coisas estão funcionando bem”, acrescenta o produtor.
Mais do que aprender técnicas ou números, Lucas vê a lavoura como um lugar de pertencimento e de realização. “Meu pai é uma inspiração pra mim, porque tudo que ele construiu começou pequenininho, sem muito apoio, porque na época meus avós, meus tios pensavam só em mexer com gado, e ele foi, meteu a cara pra mexer com a lavoura. É uma inspiração enorme e eu sinto muito orgulho de tudo que ele conseguiu construir”, salienta Lucas.
Cláudio, por sua vez, também sente orgulho e tranquilidade ao ver o filho tão engajado. “Sempre, desde o começo, foi ele. Dava para ver o perfil dele, que seria ele que iria gostar de tocar mesmo e continuar. Ele gostava de ir na fazenda, inclusive ele ia muito com o avô, que o levava de caminhonete e ele era pequenininho. Ele é um menino muito educado e responsável. E gosta, né? O principal é gostar do que a gente faz. Isso é um sentimento de orgulho e de felicidade ter alguém que queira continuar o que a gente começou. Porque não é fácil, é difícil. Então nos sentimos orgulhosos, em ver que conseguimos trazer alguém de dentro, um filho, para continuar o negócio. Porque tem tanta gente que não consegue deixar um filho na propriedade”, diz.
Para Lucas, o segredo de uma sucessão bem feita está na parceria e na integração entre pai e filho. Por isso, é grato pela oportunidade de acompanhar seu pai de perto, desde o momento de planejar uma safra através da aquisição de matéria-prima e insumos, até a negociação da produção.
A história de Cláudio e Lucas Tomm é mais um exemplo de que legado se constrói e exige dedicação para ser passado entre gerações. De pai para filho, a trajetória no agro manterá firme os valores e a missão daqueles que sustentam milhares de pessoas.